(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

"Era de manhã..."

Era uma vez...

Era uma vez uma rapaz, pobre, descuidado e feio, muito feio. No entanto era simpático, uma pobre alma bela no seu coração puro de sensibilidade ingénua de criança grande que só quer ser amado porque amar ele ama todo o ser que se lhe chega sem pedir nada. As gentes, os animais, a água, o vento, o ser que respira e o inanimado aos olhos pouco treinados que ali não vêm, na árvore, na pedra, na folha que cai a áurea perdida e encontrada do pó das estrelas.
Ele era assim, belo e feio, dependendo do ponto de vista de quem olha. Hoje era feio, e o feio era também gago desde muito pequeno. 
Estava ele a pensar na estação de comboios enquanto esperava pela sua partida, a pensar nos seus e na visita que lhes faria mais logo quando chegasse a casa. A casa que sempre o acolheu e entendeu e o soube amar como era. Estava ele assim distraído quando uma bela mulher com ele se cruzou, e ele não mais dela pode desviar o olhar. Ela tinha caminhado mais uns passos para a frente dele e com os pés já no limite da linha de comboios inclinava o corpo a tentar vislumbrar a silhueta do que estava à espera. Era de manhã, ainda cedo e uma luz ainda ténue a despertar o dia atravessava as telhas partidas do tolde que a cobria, modelando-a numa sombra-luz que a transformava num ser mítico e perfeito. 
E ele assim a olhava mas o olhar não lhe chegava e a ela se aproximou embora a medo, tremendo no corpo e na voz, tornando-se ainda mais gago do que o habitual.
- Me-ni-na. Eu que-ri-a a-ma-la!!
Ela virou-se assustada, não conhecia aquele homem que a abordava! 
- O quê? 
O feio não leu no rosto dela o susto e continuava encantado, perplexo e rendido ao ser que à sua frente estava.
- Me-ni-na. Eu que-ri-a a-ma-la!!
E ela assim o entendeu, levou as mãos ao peito, suspirou fundo e como que quando uma criança nos pede algo e a ela não sabemos recusar, assim fez ela e lhe entregou o que ao peito encostado tinha. A carteira!! 
Ele de carteira nas mãos, triste e lágrimas nos olhos disse. 
- Não me-ni-na, eu que-ria a-ma-la de co-ra-ção e não a-ma-la da car-tei-ra!!
E assim tudo se perdeu porque ela não o entendeu!! O dia se fez noite e tudo adormeceu!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Deixem-me rir, deixem-me rir alto, da loucura que nos invade no momento em que se ri, de gargalhadas sonoras, estridentes, incomodativos, censuradas, reais e verdadeiras. Deixem-me rir do meu próprio riso que me faz esquecer qual o riso primeiro. Deixem-me rir sem memória, sem saber do que rir, rir apenas rir. 
Deixem-me rir, ficar no rir. Não me façam parar nessas curvas , não me façam abrandar nessas linhas, deixem-me rir como se não soubesse o que era e mesmo agora o tenha descoberto, e como prenda aberta deixem-me tomar posse do meu novo brinquedo, desmonta-lo e monta-lo as vezes que quiser mas que seja meu, assim como veio assim quero que fique, com longas e demoradas cerimónias. Deixem-me rir antes que me esqueça...

sexta-feira, 9 de novembro de 2012


Fazer do pensamento lazer, ócio do Tempo e transforma-lo em prazer de ser. Escrever é ter coragem de deixar partir, porque quando escrevo e em seguida olho para o que ficou para trás, faz-me ver que já não sei se fui eu que dei uso à tinta, não que não me reconheça no que está escrito mas porque me olhei no que escrevi e no que disse e já não sou mais quem era, e faz-me pensar se quero ser o que está por diante ou se não será melhor ficar como se está.  Ainda assim a coragem sempre vem e sei que depois deste ponto final tudo vai mudar. Seja...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

"Cicatriz"

Tenho uma cicatriz na cara. No queixo.  Mesmo a meio do queixo. A linha do corte parece a silhueta de uma montanha, de uma onda do mar, de um caracol de cabelo, de uma raiz de uma árvore,  da curva de uma estrada, do meu sorriso interior inverso quando o de fora não sorri. Não preciso de me olhar ao espelho para saber aonde é que ela está, não preciso rever o meu reverso para relembrar a sua forma. Se tocar ao de leve com os dedos no meu queixo, cedo a descubro, a ela e à sua curva, à sua ruga, à sua idade, à sua história. Se lhe seguir com os dedos a linha da curva a leio como se estivesse às escuras. 
O que aconteceu? Nada de mais, caí, escorreguei e cortei a pele. Tinha dez anos. Nada de mais...Foi o que disse para mim mesma quando ao me levantar do chão senti o frio na cara e o sangue a escorrer ensopando as minhas mãos que apalpavam para saber o que é que se passava, o porquê da carne estar tão flácida...Mas a seguir, a seguir a que me levantei e levantei também o rosto e vi a expressão dos outros a olharem para mim, as toalhas que foram chegando e partindo manchadas de sangue, trouxeram em mim o espanto e a frieza da incredulidade de que me tinha magoado. 
Magoei-me e incomoda-me que cada vez que sorrio a cicatriz se mostre maior, que cada vez que me mostre triste a cicatriz revele a sua gorda ruga. Quase e digo quase que consegue passar despercebida se me olharem de cima para baixo mas não se me olharem debaixo para cima. 
Uma cicatriz! E que importância terá isso! Um corte na pele! 
Nenhuma se estivermos a falar de pele! 
Toda se estivermos a falar debaixo dela, dela, da cicatriz! 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

E se te dissesse que sempre soube o que era e que sabia o que era e mesmo assim disse que não ao que queria, ao que cá de dentro falava e ouvia o que dizia mas que não queria? E se te dissesse que escolhi não ouvir o que dizia essa voz, que me queria só no que era e ainda assim dizendo que não, fiquei só? E se te dissesse que mesmo dizendo o que digo não te estou a dizer nada? Porque ouves e calas e não me entendes! 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"A figura"

Então e aqui estou eu, esta policromática figura que não consegue ser una, que passa da figura dormente e assente na planura de um vale para a ferocidade dos ventos no cimo de uma montanha acometida por uma tempestade sem hora de acabar. Extremos opostos numa figura só. Talvez por isso e talvez não me engane seja assim una e não dupla no outro sentido da palavra que também pode ser dupla. Leve como o ar, sem cor ou pecado se torna na cor carmim do mesmo engano, vozes doces, calmas de monstros adormecidos que ao acordar emergem num sem sentido de todo sentido, nascida do macho e fêmea é assim que sou, suave e perdida por esse rio acima. Louca ou meio louca de sanidade satisfatória de cidadã cumpridora dos deveres civis sem disfarce, mistura-se na miscelânea do que é e que não consegue compreender como viaja em extremos em segundos. Como ninguém se reconhece em duas línguas, também não me reconheço em mim própria. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

"Ele sorria de orelha a orelha"

Lembro-me quando ele veio para casa, era pequeno, muito pequeno, cabia inteiro nas minhas mãos e tinha umas orelhas engraçadas, eram enormes, quase que tropeçava nelas se eu não estivesse a exagerar só um bocadinho. Esteve connosco dezasseis anos, uma vida que para ele deve ter sido muito maior do que a que podíamos ver do lado de cá. Veio para fazer companhia à minha mãe e foi a minha mãe que passou a fazer-lhe companhia. Era muito bonito quando era pequeno e a pele era de uma suavidade imensa. Nas brincadeiras próprias da idade estragava sem querer tudo o que lhe aparecia pela frente, brinquedos e mais foram sendo trazidos ou dados pelos amigos e vizinhos para que o pequeno se sentisse feliz. Quando sorria, sorria de orelha a orelha, os olhos ficavam vidrados, abanava a cabeça e espirrava, quão engraçado era, batia com as mãos e os pés no chão como se estivesse a dançar o samba, como se ele soubesse o que isso era mas para nós parecia e ria-mos junto com ele. Quando ficou maior e a chamada adolescência chegou, ficou musculoso  os braços e as pernas eram fortes e não fazia mais nada do que correr, queria era liberdade, qual quê estar preso, queria era rua. Foi quando descobrimos que era meio surdo, e não tinha qualquer tipo de sentido de orientação. Perdia-se pelos campos e fazia a família inteira andar à sua procura, a chamar e chamar por ele mas ele nada, ele não ouvia e quando finalmente o encontrávamos parecia envergonhado mas a gente sabia que era tudo fita para inglês ver, na próxima oportunidade ele voltaria a fugir. Quis ter namoradas mas só gostou de uma e essa não o quis, estava apaixonada por outro, não sei sequer se algum dia deixou de ser virgem. Pobre rapaz! Viveu a vida como quis, não valeram de nada as reprimendas nem os avisos para se portar bem. Comeu e bebeu bem, sorriu e viveu feliz! Um dia quando era Verão e eu estava de férias fora de casa a minha mãe telefonou-me quase a chorar, a dizer-me que ele tinha tido uma espécie de AVC se assim se pode chamar, que ficara como que dormente do lado direito e parecia que tinha ficado cego. Estava a morrer e era óbvio que não havia nada a fazer. Disse para mim mesma que era uma coisa natural, afinal já vivera até mais do que o era suposto viver mas doeu-me, doeu-me a sério, era uma parte de todos nós que iria partir, tantas histórias vividas, páginas partilhadas e todas elas iriam desaparecer como lágrimas à chuva. No dia seguinte a minha mãe voltou a telefonar-me. O inivitável tinha acontecido, já era tarde, ela chorou e eu também. Chamava-se Bobi e era o nosso cão, o nosso amigo fiel e meio louco, o nosso Bobi. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Linhas, curvas, textura, animal, cérebro, cerca, serra, certa, correta, corrente, presente, tigres, gatos, olhos, agua, rio, mar, barco, linhas, curvas, textura, animal.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

"Aprender a andar de bicicleta!"

Um dia, quis aprender a andar de bicicleta, todas a minha amigas já sabiam e até tinham bicicletas novas e faziam acrobacias de rua com elas. Outros tempos, quando não existiam jogos em casa, dentro de casa, nos quartos à porta fechada. Nesse tempo, no tempo em que eu quis aprender a andar de bicicleta, os miúdos andavam na rua e queriam-nos na rua que dentro de casa só atrapalhavam. 
Então um dia, um dia quis aprender a andar de bicicleta. Não tinha uma bicicleta nova, a que eu tinha era do meu avô, era enorme, já grande para o meu avô, maior para mim nos meus nove ou dez anos. Não chegava sequer ao selim para me sentar mas queria aprender e por causa dessa minha vontade fui ter com a minha mãe para me ensinar...Ela não podia, estava muito ocupada e além disso também ela tinha aprendido a andar sozinha, por isso eu que fizesse o mesmo. Pedi-lhe por favor anda lá, é só um bocadinho de tempo. Não posso vai lá tu sozinha! E eu fui, sem resmungar, sem falar mais nada, sem pedir mais nada, sem mais nada, fui. Fui para um caminho de areia eu e a bicicleta do meu avô, sozinha. A areia escorrega, sei isso agora mas antes não sabia: Não caí nenhuma vez, desequilibrei-me, sim, muitas mas não caí. E aprendi a andar de bicicleta, na bicicleta do meu avô. Estava contente, muito contente, aprendi sozinha como a minha mãe e fui-lhe dizer, contar a novidade. Mas ela ainda estava demasiado ocupada para me vir ver e apenas me disse que sabia que eu era capaz. Eu fui capaz mãe! E fui-me embora, sozinha, com a bicicleta do meu avô, procurar os melhores caminhos para a minha, também agora, bicicleta.  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Não existe nada, só cansaço e não o cansaço da palavra, o cansaço é outro, é o peso de ombro a ombro, o corpo descaído, acoplado ao que se encosta, sem querer de se mexer, porque é nisso que reside o cansaço no não querer. E para quê querer? - Diz o cansado.  Estendido numa cadeira, sem posição de estar, e ainda assim ficar, a mão descaída em cima do nada, as pernas esticadas ao encontro do chão na procura do andar, a cabeça inclinada para trás, mirando um tecto opaco, sem visibilidade. E é nesse cansaço que me encontro, no não querer nada, não quero fazer nada, começar ou terminar nada. Ser nada é isso que quero, ser uma página em branco onde se escreve sem o vicio do antecessor, sentir só e apenas o que é e que existe no que se sente e não ser nada. Se não for nada posso ser tudo, se não for nada posso ir onde quiser, estar onde quiser, caminhar em todos os terrenos e espaços que circundam o meu quarto, a minha rua, o largo da minha aldeia. Nesse mundo que é dos outros mas também é meu. Olhar as estrelas como se fosse sempre a primeira vez, sem saber que são estrelas mas as amar como estrelas. Viver nos olhos dos bichos as vidas que vivem sem falar e conversar tanto como eles. Sentir a chuva que nasce da terra e cresce dos céus, quente ou fria como se quisesse ser ela, sendo ela, sentido-a a ela. A ela, toda ela que no sentir existe mais do que palavras ou vozes mas caminhos a percorrer sem nunca se atingir o horizonte, o limite ao que os olhos vêm. Limites? Será que existem mesmo limites por não vermos o que está para além do que vemos!. Quero então ser cega e não ver, quero ser surda e muda, passar adiante do que existe mas não ser nada e apenas sentir. Viver no sentir! 

sábado, 22 de setembro de 2012

"Vi-a hoje"

Vi-a hoje, parecia calma e serena. Mas depois, depois a outra entrou e passou à frente de tudo e de todos como se a casa fosse dela e nós todos que ali estávamos dentro, não existíssemos. Olhei para ela, para a outra, estava com pressa e a pressa dela estava no rosto, na maquilhagem, na roupa, nos cabelos. Disse que se tinha esquecido de lá ir no dia anterior, e eu tive de saber que já ontem ela estava para vir, e não me interessava saber, hoje é hoje e ontem foi ontem, hoje as nuvens cruzaram-se ao norte e ontem não importa. E ela, ela que estava calma não disse uma palavra, mas o rosto se escureceu e pareceu-me que até a cor do cabelo naquele momento se tingiu de uma cor mais escura à medida que o meu olhar se lhe escorria pelo pescoço a baixo, as sobrancelhas arquearam, a boca minguou, o brilho do rosto se quebrou. E ela, ela que estava serena respondeu em voz ponderada e calma com o coração ao saltos e na garganta um grito, se era o que tinha nas mãos o que procurava, e então passe bem, tenha um bom resto de dia, obrigada. Olhou tão pouco tempo no rosto da outra, mas a outra também não se importou, levou o que ela tinha nas mãos e não lhe disse mais nada, nem um adeus, obrigada. E eu e os outros não a vimos sair e ficámos a olhar para ela que vi hoje. Para ela, que parecia calma e serena. 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Pequenos fetos, muitos afectos."

Era uma vez...
Uma menina pequenina, que não cresceu e se ficou assim pequenina, sempre quieta, em silêncio, num silêncio ensurdecedor, de vozes de ventos que cortam, ventos que apenas sopram, sol que queima e sol que deita, águas que afogam mas também onde nelas se deita e se deixa abraçar e levar pela corrente, essas correntes mansas onde só vemos o azul do céu e não a fundura dos abismos escondidas nas águas. Essa menina pequenina viu tantas coisas por onde passou, por tudo aquilo com que se cruzou e imaginou. Tantas coisas que contadas não valeriam de nada porque são seriam nem metade do que deveras é. Momentos e vidas que com ela cruzaram e a feriram não de morte mas de marca própria, como tatuagem que se gosta, escondida num sitio qualquer ou à vista para toda a gente ver. Pequenos fetos, muitos afectos e é nisso que se fica quando não se cresce. Nos afectos. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A vida real é mais do que os quadradinhos que desenharam para nós.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"Sonho"

Quero dormir, vou dormir, não consigo dormir, preciso dormir, quando dormir, se conseguir dormir, estarei a dormir, no dormir, vou dormir, porque quero dormir. E no dormir? O que farei no dormir? Não sei porque estarei a dormir e a dormir não me lembro quando acordar ou talvez me lembre mas não queira contar. Serão coisas loucas, doidas de certeza do dormir, quando se dorme, normalmente assim são quando se dorme mas como não estou a dormir não sei como são, terei de dormir para saber como são e depois contar se depois do dormir me lembrar. Dormir, dormir, dormir, passas a vida a querer dormir de olhos fechados quando sempre sonhas com eles abertos e esses sonhos não te deixam dormir, porque não queres dormir e mentes a ti mesma que o queres. Não podes dormir se sonhas, a dormir não sonhas, não podes dormir. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"Diz-me coisas"

Diz-me coisas, que tenho muitas coisas a dizer e não sei que coisas queres ouvir. Diz-me coisas doces, pequenas  ou grandes, sem sentido ou o tendo. Diz-me coisas amargas, comprimidas ou à larga. Ou então não digas nada e sussurra aos meus ouvidos essas coisas  que passaram e passam sem que por vezes lhes demos graça mas que existem e persistem nas memórias de quem as sente e pressente como sendo delas e nossas. Diz-me coisas. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Ser o que sou não é o que sou na realidade, a realidade é paralela ao que sou. A realidade tem de ser tocada, examinada, percepcionada para ser o que é. Eu sou mais que um é, sou também um não é. O negativo do positivo e o positivo do negativo giram em volta de um só que não é só um mas dois.

sábado, 1 de setembro de 2012

A lua vai alta a brilhar
num brilho estranho a  iluminar
a noite que agora adormece
num sono que merece.

A glória do dia passou
a luz do dia se quebrou
e a noite chegou
para lhe dar descanso.

A lua vai alta a brilhar
num brilho estranho a iluminar
quem ao a encontrar
para ela olhar.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"Saudade"

Quanto tempo deverá existir de passagem para que se sinta saudade! Serão precisos dez anos, quinze, vinte ou mais anos, desde o tempo que se foi, sendo esse o peso necessário para que a regra se sinta satisfeita e diga, agora basta! Três anos, um dia! Uma brisa que passa, um olhar que se some, esse é o tempo para mim. Uma passagem de tempo cruza o meu tempo em velocidade acelerada sem esperar que entre no seu espaço e não aguarda por mim, por muito que lhe diga -  espera, aguarda mais um pouco. Ela não espera. 
Momentos, vivemos de momentos, nos que conseguimos agarrar na electrização do momento. Momentos do que foram e que são, que se tornam no agora, nos cheiros e sentidos de ser de estarem presentes.
Quanto tempo será preciso quando o tempo não existe ou deixa de existir, quando o que passa a existir é somente o momento e o momento vive na eternidade de quem o sente! Nenhum! A saudade é permanente! 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"Um pedaço do teu sonhar"

Deitei-me ao teu lado nesse pedaço de lençol que escolheste para dormir e sinto sem te tocar o calor da tua pele. O teu respirar, o ar já consumido pelo teu corpo sai agora ao encontro do meu. Não fechei os olhos, tenho-os abertos e olho não no sentido do teu olhar mas no contraditório dos teus, para ver o que está a sentir e não para onde estás a olhar. E fico assim por um tempo, imaginando. Abres os olhos e vês-me como se tivesse agora chegado quando já aqui estou há muito tempo. Não te conto. E sorris. E fazes-me sorrir num sorriso tonto, de orelha a orelha, de risinhos baixos, meios envergonhados por ter sido surpreendida quando te roubava um pedaço do teu dormir, um pedaço do teu sonhar. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A todos os amigos. 
Aos amigos que são,  
Aos amigos que acham que não são, 
Aos amigos que vieram desde cedo, 
Aos amigos que ainda agora chegaram, 
Aos amigos que fiz irmãos, 
Aos irmãos que fiz amigos, 
Aos amigos companheiros, 
Aos amigos que não me deixaram desistir e que de mim não desistiram, 
Aos amigos que conhecemos, 
Aos amigos que nunca vimos, ouvimos a voz, tocamos a carne e sempre aí estiveram, 
desde sempre, para todo o sempre.
Aos amigos a que vimos a sua luz, 
Aos amigos de todas as idades, em  que todas somos uma só,
Aos amigos perdidos, 
Aos amigos encontrados,
Aos amigos não digo adeus,
A todos os amigos um pedaço de mar.
O meu pedaço de mar, 
Azul, vermelho e dourado,
No constante contraste de mim. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Hoje pintei o quarto do meu sobrinho de vermelho e azul.
O pai achou estranho e disse que as cores não combinavam.
Claro que combinam, os templos gregos já foram pintados de vermelho, azul e dourado.
Mas não tens o dourado.
Claro que tenho, será este menino de ouro que hoje dormirá sobre o vermelho e azul deste quarto.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SEI LÁ?

Sabes disso não sabes?
Do quê se ainda não disseste nada?
Vá, vá lá sabes bem!!
Sei o quê?
O que te estou a dizer!!
Mas o que é que disseste?
Ah então sempre ouviste, só não compreendeste!!
Não, eu não ouvi.
Mas ainda agora me perguntas-te pelo que te disse!!
Disse...sei lá o que disse, disse que não disseste nada.
Não, não, tu disseste para te repetir o que disse, por isso ouviste o que disse mas não compreendeste o que disse, compreendeste?
Ah.!!!
Ah o quê? Do que queres falar?
Eu não quero falar de nada tu é que disseste se eu sabia de qualquer coisa.
Então e sabes?
Do quê?
Do que te estava a perguntar?
Mas eu não sei o que estás a perguntar.
Então porque é que eu te perguntei?
SEI LÁ?

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Uma folha"

O vento levantou  uma folha, verde ainda por pouco tempo, que se desprendeu de uma flor e diz que agora é dele que a sopra para onde ele quiser. Mas o que ele não conta é com as pedras  grandes de musgo velho que no seu caminho se encontram, com as árvores de ramos esticados que se abraçam, com os passos das crianças que na praça correm, com as portas mal fechadas, janelas abertas, fontes cujas aguas fogem para o mar, flores sós de um jardim tratado, com todo o viver que vive em redor do vento. Uma ida e uma volta, outra volta e outra revolta, no cruzar dos espaços, nos tempos e passos, no continuo soprar que o vento provoca. Para onde irá? Quem saberá? Nem o vento o sabe. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Diz-me meu pequenino o que queres ser, quando fores grande e crescer, conta-me o que te vai na alma, na calma que aparentas ter quando me olhas de olhos grandes meu pequenino. Não sabes o que dizer, preferes calar, brincar a crescer. Que importam os quereres de pedir se ninguém te der o grande e o crescer. Dorme meu pequenino dorme, fecha os olhos e sonha com sonhos de pequenino, que em meus braços te vou guardar e segurar do crescer e serás sempre pequenino. O meu pequenino. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

"Histórias de quem sou"

Histórias de quem sou foi o primeiro titulo deste blog. Fui eu que o escolhi e sei perfeitamente porquê, como me sentia na altura, o que queria dizer, a forma como queria construir o blog reflectia-se no titulo. 
Já não me lembrava deste titulo e isso torna-se estranho em mim. Não foi outra pessoa que o escreveu, fui eu, embora esse eu agora me pareça um pouco longe, mesmo não tendo passado tanto tempo assim. 
Estranho como alguém se pode, como alguém se consegue esquecer a si mesmo. Não me lembrava e apenas me lembrei porque li o titulo no texto de outro. Esse alguém lembrou-se de mim e eu não me lembrei e isso faz-me pensar em quantos outros títulos de outras páginas me esqueci, quantas coisas me esqueci ao transformar, ao cruzar de passeio, ao passar a curva da estrada. Seriam coisas importantes? Terei deixado alguma coisa por dizer ou fazer? Já não sei, não me lembro. Nem poderei pedir para que me lembrem porque não sei o que era. Quão estranho é. Esquecer-me de mim. 
Novos títulos, novas ideias, novas viagens trazem o esquecimento também. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Abraço meu irmão a ti, a essa áurea que se aproxima de mim despida. Estás sujo dizes tu, também eu digo eu, somos iguais, a minha cor é diferente dizes,  pois eu não tenho cor meu irmão por isso dá-me um pedaço da tua quando nos tocarmos, sou velho, também eu, muito mais do que julgas, sou velha desde criança, sou um estranho, pois eu sou mais, talvez me digas quem sou, perdi-me à muito tempo e apenas encontrei um pedacinho de mim, talvez queiras procurar comigo o resto que ficou, não sou um homem de letras dizes, não te posso ler historias nem te ensinar nada que esteja no livros, eu também não, não importa aprendemos os dois nos caminhos das estrelas que cobrem os céus. Recebe-me meu irmão assim como te recebo porque fui eu que vim ter contigo para te abraçar mas sou eu que preciso que me abraces. 

terça-feira, 31 de julho de 2012

"Marcado"

Marcados, somos todos marcados, marcados pelo que se sabe e não sabe, pela forma como se fala. Somos marcados pela roupa que se veste ou pela falta dela, pela sola dos sapatos, tortos, direitos, certos, correctos, por tudo somos marcados. Pelo sitio onde moras, com quem falas ou não, o que dizes e calas, pelos silêncios ou falta deles. Pelo tom de voz, altura, timbre, som. Somos marcados pelo lugar onde nascemos, pelas condições em que se deu o acto, pela cor, posição social, crenças, valores, somos marcados pelos nossos próprios marcos, por tudo somos marcados. Digo que não sou nada e por esse nada sou julgada, porque o nada também é alguma coisa que pode ser pesada e medida a ser avaliada como sendo forma consistente a ser aceite ou não. Que peso tenho eu digo eu, do sitio onde nasci, porventura fui eu que decidi! E se fosse te diria que sou eu que faço o lugar e não ele a mim, por isso que importa onde estou e o que pareço, com quem vou, de que cor me apresento. Se não souberes ver para além do que os teus olhos vêm, jamais verás quem sou e quão profundo e marcado o meu beijo em ti será. 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

"Pena"

Que inveja tenho dos homens do mar para poder escrever na areia. Poder usar a palavra no momento em que ela nos busca e fazer os riscos do que nos diz. E as ondas na pressa que têm lavariam as letras mas as levariam para a outra banda onde alguém as pudesse ler. Mas as minhas muitas vezes ficam por dizer, e quando as quero dizer já não são as mesmas porque me vendo pelo trabalho que me prende as mãos e a mente pelo que hei-de comer. Que sorte a minha de ser a pena de um tinteiro que não tem onde escrever. 

domingo, 29 de julho de 2012

"Ideias"

Quero ser viajante de ideias, construtor de imagens, criador de páginas soltas. Caminhar nas estradas ainda não abertas, por desbravar, tocar nesse todo que existe e fazer dele um pouco meu também se assim o Jardineiro me permitir. Sei que não posso fazer melhor do que já é nem é essa a minha audaciosa esperança, só quero ser uma gota de orvalho que molha as rosas do jardim, e as faz mais belas, mais vigorosas, com mais cor, no seu perfume, fulgor, presença, criadoras de muitas estorias, memórias, sentidos do ser e não ser, beleza de estares na forma de estar. 

"Uma coisa"

Tenho uma coisa atrás das costas, e chamo-lhe coisa porque ainda não tenho outro nome para lhe dar. Tento chegar a essa coisa mas está num tempo tão longe, num espaço tão vago que por muito que estique os braços e estique as mãos colocando os dedos em profunda extensão não lhe consigo chegar. E essa coisa continua lá atrás, num lugar onde sei que está mas onde não lhe chego, com o peso todo que coloca nas costas, no incomodo que faz sentir por ser exterior à minha carne, por ser um excerto que quer criar raízes em mim sem que eu queira, como um cancro benigno que não mata mas se alimenta do seu paciente, hospedeiro, cliente. Carrego essa carga não por umas horas, não por uns dias, não por uns anos mas uma vida quase inteira, que por muito curta que possa parecer aos outros a mim parece-me muito mais longa, muito mais longe de onde estou e me faz andar mais à frente do que onde deveria estar. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

"O que eu quiser"

Nunca serei alguém que sabe sem sombra de duvida o que quer fazer, nem no presente nem no futuro, aliás nunca o soube no passado, nunca tive a tal da iluminação que outros dizem ter tido e que lhes revelou qual o seu propósito de ser. Nunca fiz grandes planos, grandes projectos, grandes ensaios, investimentos. Sou basicamente um acumular de muitas coisas por fazer. Não tenho grandes sonhos, faço tudo e continuo sem saber de nada. Envolvo-me em cada projecto como se fosse um caso de desespero, dá-me alegrias mas muitas frustrações por não estar melhor do que o que devia estar, que se não for acabado como deve ser, como é suposto ser, me consumirá como o meu fracasso humano por me ter permitido a desistir. Não sei o que quero, qual o meu projecto de trabalho, o que vou ser, para onde vou porque nunca percebi porque tenho de ser uma só. Mas eu sou uma só, só não sou uma numa coisa, sou uma em todas as coisas que quero ser. Não sou uma no grande plano sou uma em cada plano.  Sou a cotovia, o mar, o largo, o prado, sou o que eu quiser.  

domingo, 22 de julho de 2012

"À noite"

Esta noite acordei, acordei não sei porquê só sei que acordei com uma luz do lado de fora do meu quarto. Era a lua que brilhava numa noite muito escura sem que se visse viva alma na rua, nem gatos nos cimos dos telhados que a desejassem nem vagabundos que debaixo dela sonhassem. E eu nesse transe da luz cheguei-me à janela, uma dessas janelas do meu quarto que nessa noite estava aberta e sentei-me no peitoril, não estava frio nem calor e um vento manso soprava ao de leve, esvoaçando os cabelos para o rosto e a roupa para fora do corpo. Apeteceu-me saltar a janela e ir por aí fora a andar, apenas caminhar nessa noite de luar e assim o fiz, os meus pés colaram-se ao chão do lado de fora da janela, na terra fresca que sem se ver que é terra se sente por entre os dedos. Por aí fui. É fácil caminhar na noite, mais fácil do que de dia, não que esteja habituada mas pareceu-me natural. Não se encontram obstáculos na noite porque não se vêm, caminha-se sem tropeço ou hesitação, não existe medo porque nada se vê, só a luz guia do céu, nada se poderá recear se não nos assusta, apenas se receia o nós o que está connosco mas ali na noite não há reflexos nem tempo para pensar neles, há que seguir a lua  que também se move na noite e nos faz ir em  sua busca. Assim saí e enquanto caminhava ouvi a voz de alguém que me fez embrenhar ainda mais na floresta da noite, na montanha que surgiu na minha frente sem dela dar conta, mas, mas não encontrei ninguém, apenas vi o brilho da luz que sobre a noite iluminava os que à rua fizeram questão se entrar. E agora que a noite se acaba e és tu que vais dormir vou sonhar acordada que mais à noite me vás acordar para a ti seguir no escuro da noite sem dela ter medo ou receio. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Ser justo para com quem nos magoou é uma tarefa difícil mas ser justo para connosco é ainda mais.  

segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Um jardim"

Tenho um jardim e esse jardim tem uma porta e essa porta tem uma chave que abre e fecha. Muitas vezes está fechada mas tem sempre a chave na porta. No jardim estão flores de todos os tipos, com muitas cores outras com poucas, algumas com espinhos que nem sempre picam, umas cheiram bem outras nem por isso. No jardim as quatro estações acontecem e o tempo passa como se fosse lá fora mas não tão depressa, um pouco mais devagar, ainda assim o tempo passa, sempre passa. Por vezes alguém entra, sempre entra alguém por uma porta que tem a chave, e depois de entrar sai, sempre sai alguém por uma porta que tem chave. Não têm tempo para ver o jardim, não têm tempo para as flores, não estão na moda, não falam como as outras, demasiado ingénuas, demasiado jovens, demasiado belas, demasiado duras, demasiado complicadas, demasiado para ter tempo, demasiado, demasiado, demasiado...
Tenho um jardim mas é um jardim que muito poucos ficam para conhecer, sentar e esperar que as flores abram assim que o sol nasce e ver as outras flores que lá dentro trazem. Tenho um jardim e esse jardim tem uma porta e essa porta tem uma chave. 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

"O dia do meu aniversário"

O dia do meu aniversário é escolhido ou decidido pelo momento em que me separo e o cordão é cortado daquela a quem pertencia e da qual era um só. No momento em que um mundo acaba e começa outro e nesse mundo os dias e horas são contados como que a lembrar que a efemeridade dos tempos devem ser festejadas ao segundo. Um dia mais, um mês mais, um ano mais, como se contar mais fosse viver mais, como se mais fosse mais quando é exactamente ao contrário o menos é muito maior, é no intervalo dos dias que se festeja, é nos segundos de festa que se celebra, é nos momentos que se vive. O dia do meu aniversário é o prazer de ser e não o contar dos dias, é a consciência de estar e gostar que me faz sorrir. É estar outra vez dentro daquela de quem éramos um só e não existir tempo porque não se sabe como o contar, ser cego, surdo e mudo para o mundo de cá de fora mas existir em certezas nenhumas, em memorias algumas, e ainda assim sentir o conforto de se estar a ser contado como ser. 

domingo, 1 de julho de 2012

"Um coração"

Já seguraste dentro da tua mão um pássaro? Um pequeno pássaro? Daqueles que cabem por inteiro na tua mão? É como segurar  um coração cheio sem pontas descaídas, inacabadas com fios por cortar. Um coração inteiro bate forte dentro da palma da mão, tão forte que seria para nós capaz de ultrapassar o corpo da frágil da ave e tomar assim o seu lugar. Bate de medo, do desconhecido que mesmo sendo conhecido se desconhece, de si mesmo e do que lhe aparece, bate forte, tão forte que não lhe consigo já fechar a mão para o segurar e mantenho-a assim entreaberta, entre a guarda e a fuga, sentindo na minha mão um coração por inteiro. E estranho...estranho é que me sinto cair da grandeza do meu tamanho capaz de numa mão segurar um coração, para a servidão de não perturbar aquele pequeno tambor que toca sem notas ou pautas, no caos do que não sabe. Acalmar? Como posso acalmar esse pequeno passarinho na minha mão? Esse coração que não sabe do que bate, apenas que se sente preso ao que desconhece. Não posso. Um pequeno pássaro voa e de lá do cimo dos seus ventos, no bater das suas asas espero que olhe para mim, veja nos meus olhos que sou apenas eu e mais ninguém. Que sou eu que na minha mão o segurava e que ela de palma aberta virada ao alto o espera e aguarda que nela venha pousar porque quer. 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Não gosto de regras e essa é a única regra que eu cumpro.

"O ladrão"

Todos os dias ao acordar estico o meu braço na direcção da janela, a minha mão sai da sombra do quarto e os dedos esticados cruzam a luz que num sinal de roubo agarram no que lhe é oferecido. Não sei porque insisto nisso se o que trago me é dado. Talvez porque se roubar não vou precisar de agradecer a quem me deu e não ficarei em dívida para com quem me viu. Se roubar apenas sentirão a falta do que estava e se me apresentar para buscar terei de ficar para sentar e conversar. E todos os dias faço isso como se disso precisasse, como se nisso encontrasse a minha presença, a minha independência. Independência de quê e para quê?  Do que fujo afinal senão de mim mesma, do que sou e não quero dizer, do que fiz e não quero lembrar, de onde estou e não consigo partir. Gostava de aqui prometer que amanhã ao acordar vou sentar e conversar, aceitar e não roubar mas a verdade é que só se obriga um ladrão a parar quando se consegue apanhar.



sexta-feira, 15 de junho de 2012

"A testemunha"

Já houve quem me chamasse à barra do tribunal como testemunha e é esse o caso, sou testemunha do que vejo, do que me cerca, não de como as coisas são, que o que são é tão diferente para tanta gente que se for analisado deixa de o ser  para ser palavra morta sem o contacto com o real, apenas sou testemunha. Testemunha do réu e do acusado e como testemunha bastará relatar o que assisti e ser verdadeiro nesse acto mas não sei se o sou, relembrar e recordar trazem erres de repetição e toda a repetição trás o vicio do acto anterior ao qual se corrige no momento a seguir. Sou uma testemunha deturpada então, que vê o que vê segundo o seu prisma, o seu ponto de fuga e ainda assim sou chamada a depor e a julgar o que em mim vejo, testemunha de mim que presencia os actos e factos expostos e se vê na difícil tarefa de decidir como seguir. 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Todo conhecimento é bom se nos fizer melhores mas senão tiver utilidade apenas nos transforma em poços cuja informação colhida se transforma em aguas paradas e estagnadas.

"Acreditar"

Nos braços de um anjo eu queria estar, se nele acreditasse, se nele me visse e ele me encontrasse nas páginas do meu diário, nas encruzilhadas do meu coração, desses sonhos de verão que nunca se acabam porque o sol sempre brilha nas lágrimas da minha alma, nos desertos das nossas mãos, nas sombras das roseiras. Nos braços de um anjo eu queria estar, um anjo sem ser anjo, um anjo terra, um anjo em que posso tocar, respirar, sentir, viver assim nessa certeza incerta de não saber nada de nada. Minha doce imperfeição, meu calcanhar de Aquiles, que me fazes perder os dias nos dias, as horas nas horas, viver a eternidade  nos segundos dos tempos. Se eu acreditasse assim seria, assim me perderia nos seus braços, se eu acreditasse, bastaria acreditar. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

"A andorinha"

Uma andorinha de vez enquanto, quando o tempo lhe está de feição à minha janela vem cantar. Uns dias acordo com ela outros fico à espera que ela se lembre que tem de voltar. Gostava que ela só aqui viesse cantar mas sei que a outras janelas vai pousar. Linda andorinha que para mim cantas as tuas histórias, as tuas memórias, fica mais um pouco, não partas nesse Inverno, esquece os Verões das outras paragens e fica aqui comigo na nossa janela. É sim porque ela também é tua, porque a escolheste de todas desta rua. Volta andorinha e senão queres ficar deixa-me para ti cantar e quem sabe um dia a ti te vá visitar. 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Aqui estou eu, só, hoje, como sempre fui, suponho. Ainda assim acho que não estou só, as minhas ideias não são só minhas, as ideias são delas mesmas e de todos os que as ouvem. Deve estar por aí outro alguém que as ouve também.

terça-feira, 5 de junho de 2012

"Castelos"

Sonho de olhos abertos quase sempre, sempre para não mentir, acredito em muito e construo os meus castelos com poucas muralhas. Caiem rápido sabes, não são muito resistentes. Isso é algo que me incomoda, porque é que eu estou sempre a reconstruir os meus castelos, como se o próximo fosse mais forte e resistente quando não o é. Todos caiem, por vezes por causa de uma única palavra, todos caiem,  nunca nenhum resistiu. Os alicerces ficam sim, a sua estrutura é forte e resistente mas o tempo, o tempo é ainda mais duro e o que não quebra pela força quebra pelo cansaço. Não sei quando vai ser, tenho mais que fazer, estou a reconstruir o meu castelo e assim me fico não quero pensar mais nisso. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

"Esta que eu sou"

Odeio quando me exalto, odeio sentir que perco o controlo, odeio não ser inteligente para conseguir encontrar uma solução, odeio não ser sabia e sentir o perfeito sentido da situação, odeio sentir-me pequena, insignificante perante mim mesma, na minha ineficiência de tudo, odeio não conseguir aceitar que é inútil lutar, odeio não me deixar render às evidencias que dizem que não vão mudar, que me digam que sou masoquista, que ninguém se importa, eu importo, o mundo, a vida, não podem ser só isto, a continua existência de nós mesmos mas só da carne oca sem se olhar para o avanço em frente de nós. Que tipo de vida é essa que se diz que sim com a cabeça e não com o coração? Odeio não aceitar isso, não conseguir ver algo e deixar para trás, mesmo que para quem o esteja a fazer não lhe dê valor, odeio sentir que tenho essa obrigação a cumprir, não consigo dar um passo em frente sem perfazer o anterior e peço desculpa mas não vou mudar esta que eu sou.  

quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Aprender"

A vida é um circulo, por mais voltas e voltas que dê volto sempre ao mesmo inicio, ao começo de uma nova volta, e cada volta é diferente e divergente da anterior, algo muda se assim o quiser e o entender, e rodo e rodo, por vezes nem me dou conta que uma nova volta começou quando já a meio dela vou, e nem todas são  simples ou fáceis de fazer, mas a todas dei um fim. Aprender, aprender a ser melhor.   

sábado, 26 de maio de 2012

Falo ou não falo? Escrevo ou não escrevo? Explico ou não explico? Tento ou não tento? Desisto ou não desisto?

domingo, 20 de maio de 2012

"Boa noite"

O meu coração bate ao som de um tambor nas batidas dos segundos dos minutos e horas que passam sem passarem, que quero que fujam e não fogem, das coisas que o sono me obriga a lembrar e despejar cá para fora. A minha mente lateja  no sofrimento do aperto a que se submeteu, às cordas a que se amarrou, aos pensamentos a que se marcou, grita e exige descanso, descanso que não lhe posso dar, memórias para recordar, sentimentos para perfazer, se descansar terei de me render ao que o sono me traz, acordar de mãos vazias, sem o nada de um todo, um todo que nunca se teve, tão estranho que se tem saudades como se ainda aqui estivesse, como se ainda existisse e lhe pudesse tocar, sentir, amar e ainda existe, na persistência, resistência, coerência do que sempre foi e não pode deixar de ser. O coração bate, não deixa de bater, mesmo que me deite os sons e segundos serão os mesmos, por isso boa noite, vou descansar. 

"Cá dentro"

Ontem à  noite antes de me deitar, encontrei uma borboleta escondida e perdida do seu rumo, agarrada às cortinas como que a fugir da escuridão da noite e do frio que a janela aberta lhe trazia. Fechei a janela, pela manhã ela iria embora, hoje comigo dormiria no meu quarto. Mas uma borboleta é selvagem, não domesticável, precisa de ar, do ar da rua, do sol da rua, do calor da rua, do vento da rua, do toque da rua, cá dentro morrerá. Por isso voltei a trás e abri a janela e tentei empurrar a borboleta para fora. Não quis ir, tinha medo do escuro, do frio da noite, da falta de guia que lhe mostrasse o caminho para casa, seria mais seguro esperar pela manhã e logo saberia para onde ia. Mas a borboleta é selvagem, cá dentro morrerá. Tentei mais uma vez e outra até que desisti, talvez ela tivesse razão, estava demasiado fria e escura a noite, melhor seria esperar pela manhã. A manhã veio e a morte também. A inevitabilidade. Melhor seria ter enfrentado o escuro da noite e resistir ao conforto de se estar entorpecido, essa não é quem tu és, não devias ter ficado cá dentro. Estavas enganada minha amiga, estávamos as duas enganadas. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Morte"

Não tenho medo da morte, que ninguém mais me conheça e me esqueça, que o corpo se transforme em pó, em cinza, nada. Não tenho medo da morte, é-me familiar, posso toma-la quando quiser sem qualquer pudor ou pejo de o dizer.  A morte física não é mais do que isso, carne, sangue, ossos, uma estrutura efémera que se degrada a cada passo na sua inevitabilidade final da simples destruição. Não tenho medo dessa morte, antes  tenho da morte pessoal, interior e presente do que sou, porque o que sou é maior que um corpo, um braço, uma perna ou um olhar, mais que a inteligência, beleza ou certeza. O que sou existe antes de o ter sido, antes de nascer já o era e depois de morrer ainda o serei, sou a continuidade dos astros, de toda a morte que se regenera em vida sempre e sempre, como Fénix pela eternidade dos tempos. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

domingo, 13 de maio de 2012

"Silêncio"

No silêncio dos silêncios, dos espaços abertos que nos falam, nos dizem e repetem, vejo-me e vejo-te como sempre. O tempo muda, a vida se reforma e transforma mas nós cá estamos enquanto cá ficarmos. Simples desse modo, nada mais que isso, somos como sempre fomos, o elo de ligação de duas estradas numa encruzilhada a olhar em direcções opostas com as nossas mãos dadas atrás das costas. Vejo-te muito mais que a ti muito mais que a mim sem nos olharmos, assim é a vida que nos separa mas nos cruza. Sempre crescendo na força do que sempre foi. Queria que visses o que vejo, que sentisses o que sinto mas não te saberia contar como é porque as palavras não contariam sequer o que tenho quanto mais o que te quero dar. Agarra-me então e no silêncio seremos livres. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

"Antes de falar"

Palavras são vomito do que se quer dizer e como vomito que é, é diferente do que o que se consumiu, saboreou e digeriu. Toda a satisfação do que se sentiu no momento  transforma-se no azedo com que sai. Palavras rigorosamente colocadas em frases perfeitamente estruturadas, com sentidos inflamantes ao que  se quer mostrar com toda a sua força e poder, jamais poderão dizer o que quis dizer antes de falar. 

"Decepções"

Decepções matam. Matam o corpo que se verga, o espírito que se despede de um pouco de si, a ingenuidade do que era  e o que restou encoberto pela sobrecapa de um livro. O que sou é a passagem de tudo o que fui e que me obriga a olhar a vida para além do que se vê, para além do que existe, para o bem e o mal. Mudei, transformei, construí, reconstrui, destruí, tantas vezes que hoje não sei mais se sou o que sou ou o que se perdeu para que pudesse ser o que sou. Que saudades tenho de quando não pensava, apenas era, não existia no sentido de o saber e apenas era. Saber cansa e cansa tanto, tanto que fazem as lágrimas balouçar  nas curvas do que se vê e não vê, na duvida do lamento de si para si, no fracasso que se sente de se ter deixado cansar. 

domingo, 6 de maio de 2012

"Mãe"

Desculpa mãe mas não gosto de regras e hoje é dia de te dar uma prenda, é suposto comprar-te alguma coisa, rosas talvez ou fazer uma coisa só minha, só nossa para te dar. Desculpa mãe mas não gosto de regras, que nos fazem viver em quadrados e círculos nos supostos que nos impingem. Desculpa mãe mas não te vou dar nada apenas porque todos os outros o fazem, porque tem de ser neste dia, que foi marcado no calendário e agora já não há volta a dar, tem mesmo de ser. Desculpa mãe mas não posso. Sabes que gosto de ti hoje e sempre, por isso não te posso amar só um dia. 

sábado, 5 de maio de 2012

"Às mãos de um louco"

Por vezes penso que vivemos às mãos de um louco, um louco que na sua loucura é coerente e previsível na sua imprevisibilidade, perante o qual e atendendo à tolerância e pacificação do mundo vivemos nas suas mãos, para que não o melindremos e provoquemos a sua ira. E quem é o louco então pergunto eu. Sendo nós o lado da razão e conscientes da realidade do certo e errado porque continuamos nas mãos de um louco. Talvez não estejamos tão certos, talvez esse encontro seja a procura de algo que ainda não saibamos e que talvez traga a luz do que ainda não vimos. 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

"Desejo"

Não tenho o que desejei, tenho o que precisei, não sei para onde vou, sei aonde estou, vivo uma vida cega, olho para ela como uma só, o futuro me espera, que espere ainda não está na sua hora, ainda, ainda não. Que vida é vida e viver é perceber que o que está sempre foi o que deveria ser, nem mais nem menos, assim o é. O que desejo agora, nada, o que será, será, não peço mais nada, estou aqui para viver mais nada, sonhar, gritar, perder, criar, acabar, ser e crescer a passos largos, apertados, maiores de quem vence ou adormece em tudo o que me escapa. 

domingo, 29 de abril de 2012

"Eu e a razão"


‎"o ser humano é mal desde a sua meninice" (Gn 8.21), não há como mudar isso...existem como que duas pessoas dentro de ti, uma puxa para um lado outra para o outro, uma o teu Eu outra a tua razão, és tu que tens de lutar por ti e escolher o teu caminho, tal como cada um tem de fazer as suas próprias escolhas. Ninguém é melhor ou pior que o outro somos todos iguais, apenas escolhemos caminhos diferentes. Todos somos egoístas, egocêntricos, não há ninguém que não olhe em primeira instância, para si, a sua família, o seu conforto, o seu bem estar. É nessa luta que acho que devemos entrar, na guerra contra o "nosso umbigo", é isso que nos faz melhores (acho eu), e talvez um dia já não seja preciso declarar guerra ao nosso ego e saia tudo de forma natural.

sábado, 28 de abril de 2012

"Pormenor"

Somos todos iguais, feitos da mesma massa, terra e ideias, como se fossemos todos um só separados em milhões iguais, de géneros diferentes mas também iguais, pensamentos diferentes mas que sempre se unem na sua finalidade, serem amados, até os deuses querem ser amados, e todos somos capazes de amar de forma sublime mas também de odiar, podemos ser tão bons como maus, todos sem excepção. Branco, preto, amarelo, animal, somos todos iguais. Não há maior ou menor, apenas nos encontramos em caminhos diferentes, uns mais à frente outros mais atrás, uns vêem primeiro outros depois, uns chegam antes outros a seguir, uns esperam pelos outros, outros seguem sozinhos. Consigo ver tantas coisas nos outros que talvez também vejam em mim, coisas em que somos iguais, coisas que já senti e perante as quais fiz igual. Não sou diferente, somos iguais. Mas se somos iguais, também somos igualmente todos diferentes. Diferentes no pormenor, no pormenor que nos fez ser ainda antes de sabermos que o éramos, no pormenor que nos distingue, no pormenor do sentir, no pormenor querer, no pormenor do saber, no pormenor de amar. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

"A caixinha de música"

Encontrei numa casa de velharias, sim velharias, nem sequer se pode chamar de antiguidades à quantidade de artigos desactualizados, incompletos, amontoados e desmantelados aos poucos para peças. Encontrei, encontrei um pouco do que andava à procura, uma caixinha de música com bailarina, um daqueles desejos que sempre quis ter, talvez por ver nos outros e não ter, não sei, só sei que gostava de ter e encontrei um pouco do que andava à procura. Um pouco porque a caixinha não tinha bailarina, o dono da loja já a tinha vendido quinze dias antes disse. Ainda tem música, ouvi-a, pareceu-me familiar, gostei, devo te-la ouvido em algum lugar certamente e ficou-me na memória, mesmo que a tenha esquecido, nada vem do nada. Comprei-a mesmo assim,  incompleta, pela música de que me recordo, talvez um dia me lembre aonde tenho essa história por contar e recordar. 

domingo, 22 de abril de 2012

"Um beijo"

Um beijo, dá-me um beijo, um beijo quente, encosta a tua face à minha, suavemente, esmaga-me essa tua pele contra a minha e faz dela uma só, porque estou só hoje, vem ter comigo, dá-me um beijo, um beijo ardente, é noite, estou à tua espera e não consigo descansar esta minha alma que de tão inquieta estranha que já não venhas, dá-me um beijo de chegada e despedida, faz-me sentir aqui ao pé de ti, diz que gostas de mim sem o dizeres, dá-me um beijo sem te pedir, de surpresa boa, sem contar as vezes que o fizeste, como se fosse a primeira vez que me visses depois de uma longa ausência, dá-me um beijo com se me fosses perder, dá-me um beijo de agora de sempre para todo o sempre mas volta outra vez, dá-me um, dá-me um beijo, um beijo rápido já não me importo que seja assim, mas vem. Dá-me um beijo mãe e eu ficarei bem. 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

"Futuro"

Acreditas no futuro? Nesse estado em que te projectas no momento seguinte, de forma audaz, gloriosa, apetecível, conquistada e certa, certa de uma certeza inabalável que te cerca de floreados e sorrisos, que te faz voar de ti para um eu maior ou menor na rendição ao que se mostra e gosta da imaginação fértil e fiel ao que desejas. Eu não. Mas viajo e acredito no universo futurista que me consome nesse instante em que me transformo na imagem ou imagens de um todo belo, saudável, energético e perfeito. Um deserto profundo de emoções em turbilhão, imensas, sós, imaginárias, sentidas, vivas de vidas e não só mas também dos fantasmas que me assolam e consolam num mar de prazer e paz. Cenas inventadas num teatro só meu em que pó, cortinas, teias, sedas emaranhadas e perdidas se mostram cheias de cor, fantasia e sonhos.  Só um sonho, um deserto que nada é mas que me estranha, me esmaga, absorve nas suas entranhas e me prolonga no passo, no caminho que me delineia. Depois parte, como chegou, essa forma de estar que nunca esteve mas que se sente. As sombras renascem e escurecem a luz que tinha rompido o horizonte não para vencerem mas para tornarem esse futuro meu em estrelas de luz e vida própria. Acreditas no futuro? Eu não, mas ele é real. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

"Eternidade"

Do nada se cria a imortalidade, de uma pedra de areia a eternidade, de uma folha caída uma árvore grande robusta, verdejante mas intocável. A eternidade numa vida tão curta que a recorda revivendo em si tudo, tudo outra vez. Sem palavras falo, sem lágrimas choro, sem te olhar te explico na minha oração diária em que te encontro e te sinto onde tudo o que não foi e se foi existe. Viver em mim, por mim enquanto viver, quando deixar de o fazer não sei, por agora tenho de viver, para que essa vida viva em mim numa eternidade terrena, limitada mas imortal. Sem dor, que dor é sacrifício, pesar e sofrimento mas amor, saudade nos momentos de silêncios e sós em que os pensamentos à luz se revelam em encontros longos e duradouros de paz e desejo. 

sábado, 7 de abril de 2012

"Normalidade"

Normalidade é ser igual, nos mesmos ritmos, seguimentos e atitudes que tudo ou o tudo que se conhece. Seguir na mesma trilha o mesmo caminho, cegos de que é essa a soma correcta da matemática da vida. Mas quem foi o primeiro a dizer e fazer, a quem foram dadas as regras a seguir e cumprir, onde está o contrato redigido e ao qual se deve o dever de respeitar, por qual objectivo ainda assim olhamos como se fosse esse o cálice dourado.  Felicidade. Posso me desviar desse caminho, ser desigual, tentar ser desigual, porque nessa igualdade não se reflecte o que procuro, porque para mim vendem a igualdade como verdade, tratando-se de uma mentira. Posso viajar numa longa tarefa auto-imposta na  busca da minha regra de felicidade e no final quando o cansaço me  fizer descansar essa dita normalidade será e é tão desigual. Sempre queremos o que não temos como se o que não temos fosse melhor do que o que temos. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

"Forte"

Ser forte é ser uma mentira mas passá-la como verdade para os que se moem e remoem nas mesmas questões e dúvidas que nós. Ser forte é negar o óbvio, esperar, desejar e trabalhar conseguindo o impossível. Ser forte é ter medo e acreditar. Ser forte é estar sempre na estrada sem tempo para descansar. Ser forte é estar cansado no corpo e na alma. Ser forte é ganhar algumas batalhas mas perder muitas mais. Ser forte é levantar-se sempre mesmo que doa. Ser forte é olhar para trás e dizer valeu a pena, fiz tudo o que tinha a fazer, apenas lamento o que não fiz. Ser forte é sobreviver a mim. 

sexta-feira, 30 de março de 2012

"A tela"

Passei o dia a pintar aquela tela das mais vivas cores, das mais certas dores, dos meus velhos amores. Está perfeita parece-me mas deixa-me dar uns passos atrás, um daqueles longos, afastados, sem medo de forma a poder ver todo o cenário. Sim está perfeita, ninguém diria aliás como foi que a pintei, que tintas usei, com que mão muitas vezes trémula a desenhei. Acabei, não lhe toco mais. Atiro o pincel para dentro do copo de água cristalina mas a conspurca aos poucos e poucos formando ondas de cor tingida ao ser remexida. Devia ter-lhe dito o quanto me magoou, me fez sentir usada e descartada, com tão pouco valor. Dizer que não está tudo bem, que nunca esteve e que agora é simplesmente tarde demais. Tarde demais. Estou cansada, preciso descansar, talvez chore mais logo quando me for deitar quem sabe, apenas a almofada o dirá.  O pincel está limpo agora que o tirei do copo, não tem sombra de cor, tudo ficou naquela tela. 

quarta-feira, 28 de março de 2012

"Ondas do mar"

Existem tantas pessoas, ideias, momentos, histórias, passos, impossíveis de repetição, de nova e igual emoção, que nos traz uma certa saudade melancólica mas também um prazer imenso nos sabores que vêm à boca, os cheiros intensos, vermelhos rubores, arrepios de frio num dia de verão, perfeitas cores que aos olhos já cegos desses tempos se mostram e se colam ao vento que agora nos cerca os dedos das mãos quando às janelas as fazemos ondular como as ondas do mar, esse mar que se nos entranha na alma onde se escondem todos os segredos por revelar.    

sexta-feira, 23 de março de 2012

"Mãe"

Uma mulher abraça em seu leito o mundo inteiro num sorriso, no sopro que vem da criança que está em seus laços. É uma mãe dizes. Porquê mãe? Poderá ser mãe, irmã, ama, tia, avó ou quem sabe uma desconhecida que se agarra nesse sono os sonhos e que tens razão é mãe também. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

"O que dizer"

Que palavras tenho mais para dizer, falar escrever senão as que já tenho repetido cá dentro vezes e vezes sem conta, sempre as mesmas, no mesmo pensar, no mesmo murmurar, talvez por estradas ou caminhos diferentes por vezes mas que conduzem sempre ao mesmo vibrar no divagar que os dias me trazem. Ainda assim as palavras vêm como se ainda não as conhecesse e sem permissão entram de rompante por portas e janelas. O que querem dizer não sei mas as aguardo ansiosa pela forma como vou responder.

terça-feira, 20 de março de 2012

"Beleza"

A paixão dos que tentam reinterpretar a beleza do que vêem e sentem jamais morrerá nos corações daqueles que sabem o que é amar.

sexta-feira, 16 de março de 2012

"Língua"

Uma palavra numa língua longe soa estranha, estranha com outro som em outro tom, diferente, dizendo o mesmo. Essa língua distante não é mãe mas irmã e se prende em seus símbolos quando me faz encostar nas paredes e escutar o silêncio e o bater dos tambores na vibração constante, crescente, descendente mas continua que electrifica, gela e sua no tremedouro  dos tempos. Ouço o seu ritmo, argumento, sentimento, páginas soltas  de um livro inacabado, rasurado mas desenhado em traços imprimidos de pele a pele. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

"Realidade"

Às vezes penso e por pensar confio nessa estranha sensação de gozo que na realidade não existe, mas se existisse seria o que sinto nas horas em que prendo a razão à guilhotina e me permito ser o que acho que sempre fui, aquele a quem se dissipam as névoas no sopro do coração,  vence as batalhas sem magoas e que sabe que a realidades das coisas está muito para lá do que se vê e muito mais perto do que se toca.  

quinta-feira, 8 de março de 2012

"Olhares"

Existe um tempo entre o tempo e o espaço que não sei como se chama ou chamam ou mesmo se terá nome. É olhar nesse olhar e dizer sou eu que ali estou ou sou e não outro que responde de igual modo. Como pode alguém não se reconhecer se no mesmo olhar se olha.

domingo, 4 de março de 2012

"Chuva"

Um pingo cai, se esmaga no chão seco, compacto, teso, preso, a poeira levanta e o ar que se cheira e se prende na garganta fica a saber a terra, essa terra que se apresenta estendida com sementes nos seios e anseios pela  saliva dos céus cinzentos, não pretos nem brancos mas cinzentos na monocromática figura da harmonia das suas ondas. Outro pingo e outro e outro, cedo se forma uma poça, uma lagoa, um rio no corredio das valas, barrocas, margens levando e levantando o que encontra dos que fogem dessa agua fria que queima e se entranha, por medo de serem de papel ou mel, depois de aos seus refúgios chegarem e a ficarem a admirar. Essa água alimenta não mata, transforma e não toma, compõe canções com os sons que produz ao tocar em cada pedaço de ser, cada pedaço de ter, e à noite quando estiver estendida  no meu leito, estenderá os seus braços das telhas às estradas como se de mantas se fizessem a envolver o seu bem amado.  

sábado, 3 de março de 2012

"Mãos"

Iguais às das crianças, dedos um pouco gordos, tortos, talvez não tanto quanto se amostram mas como se apresentam  nas regras dos desenhos arquitectónicos. Têm subtis cicatrizes que apenas os olhos experientes descobrem por conhecerem as suas lendas. São macias, secas, duras, curtas, imensas para os seus dizeres e afazeres, quase poderiam iludir pelo aspecto que têm a quem pertencem, não fosse as linhas azuis das silhuetas das árvores despidas no inverno tatuadas nas suas costas. Falam se a voz não soltar, como esponjas cheiram ao que se agarram e escutam, olhos do que não vê, aquecem e arrefecem no que sendo a primeira pele assim  tocam  no que se encostam na matemática da proporção.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

"Fome"

Poderei viver sem ter. Atravessar sem sentir ou exigir a troca na mesma volta. Posso só passar mas sem desejar, de olhos fechados vendo as sombras, jogos de luzes e cores. Caminhar pela estrada descalça, sentir as pedras que se cravam na carne, sentir a água dormente que trespassa os ossos e descongela na pele quente, esponja desse sal. Quero aquele todo das histórias infinitas e não finitas, a aurora boreal, a que continua e não inicia na quebra da  instalada dúvida. Posso viver no breu sem conhecer o céu, seria sobreviver e quero viver o tudo do nada, gozo, conforto, paz, prazer, alegria e fome. Tudo isso me apraz no  porto que se vê crescer no horizonte. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Ao lado"

Adormeço no mesmo lado, acordo no mesmo lado e ainda que diga que não o faço, porque fazer seria assentir numa verdade que ainda não foi julgada, ainda assim o faço. Caminho pela estrada paralela os mesmos passos como se por ser ao lado não fosse o mesmo. Quão louco é o que se nega por não saber a verdade, vive o passado como se do futuro se tratasse e esquece o presente por ser tão diferente. Alguém chama e a realidade clama, um sorriso se mostra, uma folha caí para logo o vento a levantar e levar a cortar a luz do sol que se mostra no leito do rio com cores quentes amaciando o tempo das andorinhas, respiro fundo o ar frio que limpa e  clarifica, voam os meus passos e adormeço e acordo no mesmo lado. 

"Hoje não há luar"

Uma rosa vermelha que vermelho a luz lhe trouxe, mas se não o fosse seria ainda rosa que rosa não é nome, nem cor mas flor. Hoje não há luar e as estrelas  no céu  as conta, o vento a sopra e a agita ao seu sabor mas de  raízes se agarra à terra onde plantada fora, com mãos dedicadas da esperança de a poder abraçar mesmo que agreste as possa magoar. Não importa a efemeridade da cor, da beleza ou dor se é o seu perfume que perdura e aviva a memória de um só olhar, de sonhos imensos, de ternuras sóbrias,  da vitoria de liberdade por se saber a verdade. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"Espelho meu"

Espelho meu consegues ver alguém daí, porque daqui não vejo mais do que a planura lisa, dimensional e perfeitamente palpável do quadro surreal. Consegues ver o que vejo, és cego, sussurra-me, sopra-me ao ouvido esse vento quente de palavras difusas de dentro para fora. Consegues ouvir o que te digo, não me negues. Consigo ver quase por inteiro a cor do teu avesso, sim disse quase porque não ver tudo é deixar-te ainda um fundo que talvez não seja descoberto porque não precisava de o ser, mas que me faz procurar-te outra vez. Existe essa vaidade em mim que te assiste em me rever e olhar nas águas que a luz atravessa a uma velocidade menor que a de cá de fora fazendo o tempo passear em linhas curvas e extensas. E entre o ser  e o parecer nos encontramos, por vezes nos vemos mas nem sempre nos amamos. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

"Só"

A palavra é um vomitar do que se tenta explicar. Significa nada, está só, isolada, perdida se a ela não se associar o corpo, o tacto e a voz. Conto as palavras de uma árvore na esperança que ela se revele mas poderia viver uma vida inteira sentada na sua frente sem as conseguir conhecer a todas. Um todo não é a palavra que o sol trás e o vento leva, a palavra é a profundidade do olhar de um cego, a coceira da perna amputada, a sinfonia de um surdo, o recital de um mudo, o cheiro sentido numa mãe de um filho perdido.  

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"O tempo"

Olho para trás no pressentimento de ter deixado algo esquecido mas nada resta, tudo parte. O que é que ainda não encontrei se continuo com o mesmo vazio que não foi ocupado. Se não esqueci então perdi, se não está atrás estará adiante e talvez assim o meu olhar alcance o que for que se esconde. Estico os braços, forço, para fora, mais fora, os ossos estalam, esticam um pouco mais e encolhem, recolhem e aquecem. É este o tempo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"Palavra"

Herói de olhar
Noites perdidas em sonhos a ver
Não esperar nada e viver de tudo
Flores vivas no Outono despido
Soco no estômago de uma pena
Miragem em deserto de areia fina
Dom Quixote e Sancho Pança pesados na mesma balança
Mapa de estrelas que sem tocar se guia
Suspiro profundo em jeito de grito
Palavra em forma do que não quero dizer

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Dias"

Um dia no céu no outro na terra, um dia o sapato o outro o pincel. Dias vão e vêm em montanhas e vales de sol estendido e de lua ao alto. Nada se repete por igual nem o amor nem a dor. Voo de Ícaro em esplendor maior que cai na realidade em rigor da gravidade. Perdidos guias ganhamos vias para uma nova ascensão, para um novo dia, um amanhã que aguarda em seu destino o já de si guardado. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

"Arcadas"

Tempo de espaços vagos, vazios ocos, repetição de olhares perdidos, sonhos de outros lugares, pensamentos em melancolias prenhe de desejos não cumpridos, não importa ou se importa a hora é agora, a de entrar nesse deserto de apenas esperanças, de realidades ilusórias, e no entanto talvez já tenha partido, e é lá que ele está, o órgão que pulsa a vermelho vivo a pura arte da fantasia. Alguém caminha a meu lado, mas não sei quem é porque não o vejo, não o ouço, não o sinto, a minha mente corre em outra estrada numa outra direcção, onde vou, para onde, para quê, porquê e porque não se esse não me faz sair de mim e voar para as arcadas do meu sorriso que o faz levantar mesmo quando não o vejo, e vêm em mim a mim como se viesse do fundo de um sonho. 

sábado, 4 de fevereiro de 2012

"Porto"

Quão longe estamos
Quando não somos
Mas ser é tudo
E é sempre encontrado
Nos campos verdes
Na água cristalina
No sol que queima
No vento que beija
Perder-te é sempre encontrar-te
Nessa busca constante
De vento crescente
Bordão de Esculápio
Fonte de águas mansas
Arcadas
Do meu Porto.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

"Beijos"

Fio de cordel que me cruzas os dias, o temor, a perdição, a luz de dia e noite, a esperança e a ternura num laço cego. O passado está presente naquela janela aberta que deixei depois da porta fechar. O meu mundo, o nosso mundo é o mesmo, sempre o foi e sempre será. Não vêem os meus olhos mas toco e beijo nas lágrimas quentes que me fazem lembrar e não esquecer. O vazio está cheio porque estamos lá nesse lugar inventado e presente de chuvas nossas. Beijos me escorrem na cara vindos dos céus, expansões onde nascem as estrelas. Um momento, uma promessa não cumprida não pedida mas desejada que partiu e não fiquei mas fui. Fui e não mais voltei porque se voltar aquele diamante reluzente desaparece de mim. O meu precioso o meu mais bem amado doce o meu pedaço de vida em abundância. Não, não peço perdão, sem arrependimentos vemos-nos  ainda uma vez mais.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"De malas prontas"

Minha ternura
Minha longura
Que não perdi
Não me arrependi.

Espaços vazios
Cheios
Lugares imensos
Sós

Escuro da noite
Luz aceite
Chuvas tempestuosas
Ventanias soltas

História sem fim
Com cheiro a alecrim
Carregado de palavras
Estou de malas prontas




 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Doce morfina"

Doce morfina não me abandonou, 
continua existente, dormente, persistente. 
Bem-vinda ao meu mundo, ao meu lado mais profundo. 
Ombros encolhidos, olhos ao alto, boca fechada.
Pedaços se escolhem e recolhem em corridas de idas e voltas,
sem metas, limites ou barreiras. 
Doce morfina, doce retina, ampliada, dilatada, amplificada, 
retendo a luz que atravessa o beco de paredes altas esticando-se ao céu azul. 
Doce morfina não me abandonou.  
Bem-vinda ao meu mundo, ao meu lado mais profundo. 
Bem-vinda ao meu quadro pintado a traços largos, 
do qual se conta uma história sempre igual.
A morfina que revela sem pudor ou dor
mas que fala de si para si como se o não fosse. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Coisas que falam"

Coisas do que sou, do que fui e serei, coisas que importam, olham, coisas que existem e resistem, coisas que magoam e perdoam, coisas que persistem, coisas de coisas, coisas que são ou não e se o serão são coisas então, coisas que vi, senti, perdi, encontrei, reencontrei, testei, rompi, chorei e sorri. Porque coisas são coisas não deixam de o ser ou se algumas vez o foram continuam ainda a ser coisas que no futuro sempre perduram. Coisas que escrevo, leio, coisas de passagens, viagens, coisas de fora, de agora, coisas de cá dentro, coisas em malas, em espaço, em turbilhão, coisas do mar de ondas largas, infinitas, calma ilusória, coisas da terra quente molhada com cheiro ardente, coisas das cores que o vento tem, coisas que o sol trás e leva, coisas por coisas, coisas de um mundo inteiro, coisas na palma da mão, coisas estendidas, distendias, permitidas, despidas, vestidas, impedidas, comprimidas, cruzadas, coisas na face das coisas. Coisas que falam.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"À procura da perfeita imperfeição"

O vaso partiu
Caiu e não mais foi quem era
Colei-o mas se coibiu
A tornar a voltar à terra
Quão leve é quão frágil se mostra
A segurar a flor que dentro dele nasce
Mas a suporta com maior sorte
Mesmo que o seu peso se lhe não perdoe
Que procura é esta que encerra
A procura da perfeita imperfeição
Num singelo dia em que se partiu
Mas onde restou ainda o cerne
Do que é mais que perfeição.

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Uma gargalhada"

Sou o que sou, faço o que quero e consigo voar, tocar o céu, como posso, como consigo chegar ao infinito.  Mas  eu, eu não consigo derreter a imagem de cera que está à minha frente, fria, crua e nua. Encosto a navalha de raiva no seu pescoço forçando a confissão de culpa, que chega sem demora. E olho, respiro fundo, dou um passo atrás e rio, uma gargalhada de desprezo, de nojo, de inacreditável superioridade. 
A cera não me queima, não me aquece, não alumia, não tem cor, não existe ou se existe é de mera servidão útil. sem qualquer artificio ao olhar. Agora é dia e a luz é outra, agora rio e digo não importa porque eu sou. 

domingo, 22 de janeiro de 2012

"A pele que habito"

A pele que habito critica-me, envergonha-me, admiro-a, espelha-me, incomoda-me, é suave, dura, beleza, escudo, ensina-me, tem personalidade própria, um outro eu que nem sempre  responde, menor ou maior a minha outra metade. A pele que habito, habita em mim, porque é o que sai de mim que a transforma no que é,  no reflexo do que vêm mesmo que não grite ou fale ele se manifesta sem controlo algum. Conhece a minha história e recorda-o melhor do que eu o esquecer em que se força a memória na tentativa de sobreviver ao que chamamos dor, mas ele sabe e não apaga a lembrança e faz-me reviver tudo outra vez. 
Ela é peso, história, memória, vida, perdão, coração. A pele que habito sou eu. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Talvez não..."

Quão estranho é estar no meio de uma multidão e sentir-se singular, ouvir os seus murmúrios, a intensidade da suas vozes, o som das suas gargalhadas, os risos escondidos e mesmo assim parecer que entrei numa sala vazia com a televisão ligada. Sons de fundo, não me dizem nada e talvez não devesse ser assim. 
Sento-me com as crianças, brinco e magoo-me, rio, despenteiam-me, sinto-me melhor com elas e talvez não devesse ser assim.  
Sou um adulto, responsável por vezes demasiado independente, difícil de pedir ajuda a alguém, cruel e fria muitas vezes, mais do que as que queria, que não espera nada do mundo excepto o que conquista,  que não confia, que segura um velho e uma criança pela mão e os ajuda os dois a travessar a estrada. Sei que gostam de me ver nesta posição, transmito-lhes força. Também gosto por vezes mas nem sempre e talvez não devesse ser assim. 

domingo, 15 de janeiro de 2012

"Gritar"

Por vezes as pessoas há minha volta aborrecem-me de tal maneira que chego a odiar-me por as achar tão desprezíveis...Não, é mentira eu não odeio sinto indiferença o que ainda é pior porque odiar é sentir. Finjo que está tudo bem porque sei que tudo foi um jogo e que sou um peão na sua história, faço-me de heroína da minha mas é uma mentira escondida por um simples véu.
Quero liberdade, fugir de mim e do que os meus olhos vêm, correr, correr, correr...Gritar...