Diz-me coisas, que tenho muitas coisas a dizer e não sei que coisas queres ouvir. Diz-me coisas doces, pequenas ou grandes, sem sentido ou o tendo. Diz-me coisas amargas, comprimidas ou à larga. Ou então não digas nada e sussurra aos meus ouvidos essas coisas que passaram e passam sem que por vezes lhes demos graça mas que existem e persistem nas memórias de quem as sente e pressente como sendo delas e nossas. Diz-me coisas.
Tanto para te dizer e tão escassas as horas em que te possa dizer esse tanto, ou mesmo algo desse tanto!...
ResponderEliminarDepois, nem sempre as coisas que descolam do coração correspondem em decalque à expectativa de quem te escuta. A comunicação entre as pessoas é uma arte, para além de uma ciência. O que um gostaria de ouvir, não chega a ser dizível. O que porventura dizemos, e achamos solene, ao outro não trará motivação ou sequer inquietação. Constituem riscos dessa comunicação, da forma e do conteúdo do acto de comunicar... Principalmente, através da mulher, apesar dela ou por sua iniciativa, a humanidade continua a ter acesso às grandes experiências, à rotura do tempo e do espaço profano, à revelação do transe como forma de conhecimento, a esse diálogo do espírito com o caos, à intermitente procura da unidade perdida.
Quero ouvir de ti tudo, mas tudo, o espelho da tua intimidade. Porque o tudo é imprescindível ao sagrado, que tu és para mim, e que eu sinto em cada momento. Já que eu a todas as horas falo de mim, fala-me de ti, sim, não propriamente dos teus gestos exteriores, do que fazes, em termos de acção, embora isso seja igualmente importante, mas do teu mundo longínquo e presente, do teu mundo secreto, das tuas vivências interiores, dessa vida que percorres a par da outra que todos os que te cercam já conhecem.
Fala-me do que nunca disseste, não do que dizes, disseste a outros, todas as semanas! Sei que o que peço é o teu verdadeiro Eu, o que nunca ninguém viu, o que não ouviram vez alguma, o que nunca sonharam existir em ti, o que só tu sabes. Contudo, é autêntico.
... Que eu te vou dizendo, te vou falando do oculto dentro de mim.
Se eu escolhesse o que queria ouvir, então, é porque o que tu me irias dizer não seriam coisas de ti, do teu oculto, do teu imaginário, do teu sentir mais remoto...
A tua memória, os cheiros dos teus mais lídimos sentimentos, a volúpia que a revelação me provocava, a cumplicidade que tudo isso determinaria, para sempre!...
... Não sepultes eternamente em ti, o que acabarás por dizer sempre, às vezes muito tarde, fora do tempo, de modo tão insólito - quem sabe?!... - tão fora da existência dos que te estimam, te querem, dos que te estremecem, mas - esqueces... - não duram muito mais, tanto quanto desejarias!
E esta de Diógenes na antiga Grécia?... - Conta-se que Diógenes vistando os museus do seu tempo, estendia a mão a todas as estátuas que encontrava. E quem o acompanhava, ficou perplexo perante semelhante atitude.
ResponderEliminarExplicou ele, quando o inquiriram porque o fazia, que com esse simples gesto se ia habituando à recusa dos homens.
Essencial e pedagógico.
... O filósofo Sócrates, na Grécia do seu tempo, recomendava insistentemente aos políticos que no contacto com o povo e para bem governarem, deviam possuir três coisas fundamentais:
ResponderEliminarSabedoria, Prudência e Silêncio.
Sobretudo, Silêncio.
Aos políticos de hoje, em vez de Sabedoria requer-se apenas filiação no Partido Político e pagamento atempado das quotas.
Em lugar da Prudência, o falatório infundamentado das promessas, das muitas promessas, sem cuidarem de ter meios e ocasião de as cumprirem.
E Silêncio, só quando estão no poder e não conseguem cumprir o que proclamaram em época eleitoral, dando ao povo falsas esperanças.
Verdade e mais verdade é que os bons e de boas intenções e bons princípios éticos, quando caiem nas malhas da politica só querem de lá sair o mais rápido possível para não serem "comidos" ou "transformados" por ela.
ResponderEliminarIsto fez-me lembrar a caricatura do artista português, Rafael Bordalo Pinheiro, "A política: a Grande Porca"
Rafael Bordalo Pinheiro pertenceu a uma família de artistas. Notabilizou-se na escultura, especialmente no barro, e na caricatura. Foi irmão do notável pintor e retratista Columbano. Rafael era obeso, posante no corpo e na linguagem e tinha uma personalidade bonacheirona, mas com assomos de irritação, de irritadiço, por vezes quando vias as coisas do país e a política irem por caminhos com que ele não ocncordava. Em Lisboa, existe um Museu da Caricatura de Rafael, ao Campo Grande. Vale a pena visitá-lo!... Rafael morreu relativamente cedo de um acidente cardiovascular. Queres saber mais sobre Rafael Bordalo Pinheiro?...
ResponderEliminarsim
EliminarFalar-te mais um pouco sobre um grande artista e sobretudo um atento crítico... Pois, bem!...
ResponderEliminarRafael Bordalo Pinheiro, caricaturista, ceramista genial, e decorador cheio de imaginação, nasceu em Lisboa na Rua da Fé, em 21 de Março de 1846 e veio a morrer em 23 de Janeiro de 1905, apenas com 58 anos de idade.
Iniciou os seus estudos de desenho com o seu pai, Manuel Maria Bordalo Pinheiro, outro artista na cerâmica, e demonstrou um talento especial pela caricatura.
Bom observador e dotado de um humor invejável. Não era homem de muitas falas!... Os seus desenhos, os seus bonecos de barro e de terracota falavam por si!...
Dizem que trocou os pincéis pelo lápis, apesar das ásperas reprimendas do pai, que não se conformava com as suas tendências artísticas. E tal foi a oposição do pai Bordalo, que este valendo-se dos conhecimentos que tinha na chamada Câmara dos Pares (Assembleia), onde era primeiro oficial de secretaria, conseguiu para o filho o lugar de amanuense (empregado de escritório). Pensava ele, que assim talvez o rapaz se esquecesse de fazer caricaturas; porém, Rafael acabou por desistir do emprego e continuou a fazer caricaturas "por desporto"... Para abrandar a indignação paterna (que ao tempo o poder paternal tinha muita força!...) matriculou-se na Academia das Belas-Artes, tendo apresentado nas Exposições dsde 1868 a 1874, alguns trabalhos que foram bem recebidos pela crítica. Na sua maioria eram aguarelas de costumes populares, além de um desenho em grandes dimensões que intitulou "Bodas de Aldeia".
Revelava-se, então, já o excepcional artista de concepção prodigiosa. Um dos mais espirituosos caricaturistas!... Desenhou muito, publicou imenso, e depois iniciou-se na cerâmica, onde se veio a revelar uma outra faceta do grande artista que foi.
Deu um grande impulso à Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Um grande caricaturista, também no barro. Figuras de engonço como o famoso Zé Povinho, o sacristão, o padre, a ama de leite, o polícia, o moço de forcado, a alcoviteira, foram criadas por ele e ficaram célebres até hoje!...
Usou e abusou de muitos sarcasmos contra os políticos e governantes de então. Participou com cerâmicas na Exposição de Paris em 1889. Elogiado a partir daí internacionalmente, o seu nome galgou fronteiras. Ainda participou noutras exposições internacionais como a "Exposição Colombiana de Madrid".
Em relação o outros trabalhos... "A Política- A Grande Porca" apareceu na revista/jornal "A Paróidia", assim como outras produções artísticas com originalidade e verdadeiramente cáusticas.
Rafael Bordalo Pinheiro não perdoou aos políticos os seus abusos e erros, todavia estes também não lhe perdoaram quando chegavam ao Poder. Poderia ter tido mais projecção, mas nunca se quis acobardar com os poderosos! Assim é a vida...
Rafael nasceu - pode dizer-se - caricatursita e morreu ceramista e caricaturista. Gostaste desta pequena súmula biográfica deste artista, deste homem dotado de uma personalidade muito vincada?... Espero que sim.
Tentei mostrar-te o lado humano do Rafael, o quanto se fica prejudicado na vida por mostrarmos a todos, especialmente aos grandes que detêm o Poder, a nossa independência!
Gostei, gostei muito, obrigada!
EliminarQuando mostramos aos outros a nossa independência, ficamos sós, mesmo quando todos os outros diziam que tínhamos razão e que ficariam ao nosso lado, coisa que muda quando algo do outro lado, como o dinheiro ou projecção pessoal é oferecida, nesse momento a ética e os ideais são reduzidos a pó.
Estar só nestas matérias é uma questão de hábito e com o tempo deixa de ter muita importância ou de trazer muita dor.
Apenas um apanhado, um resumo sobre a vida de um génio na caricatura, na cerâmica, na ironia, na crítica, em vida acudiu por Rafael Bordalo Pinheiro.
ResponderEliminarFoi com muito gosto que sumarizei para ti uma vida de alguém, que nunca quis dobrar a coluna vertebral perante os grandes, os do capital, os ricos, os governantes, e os políticos.
Uma vida assim, valeu a pena ser vivida.
É como dizes, "estar só nestas matérias é uma questão de hábito e com o tempo deixa de ter muita importância ou de trazer muita dor"... Assim, aconteceu provavelmente com Rafael Bordalo Pinheiro!
As figuras de engonço, meio justapostas, meio articuladas, que floriram nos dedos das suas mãos permaneceram aé hoje!...