(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

domingo, 22 de janeiro de 2012

"A pele que habito"

A pele que habito critica-me, envergonha-me, admiro-a, espelha-me, incomoda-me, é suave, dura, beleza, escudo, ensina-me, tem personalidade própria, um outro eu que nem sempre  responde, menor ou maior a minha outra metade. A pele que habito, habita em mim, porque é o que sai de mim que a transforma no que é,  no reflexo do que vêm mesmo que não grite ou fale ele se manifesta sem controlo algum. Conhece a minha história e recorda-o melhor do que eu o esquecer em que se força a memória na tentativa de sobreviver ao que chamamos dor, mas ele sabe e não apaga a lembrança e faz-me reviver tudo outra vez. 
Ela é peso, história, memória, vida, perdão, coração. A pele que habito sou eu. 

1 comentário:

  1. Gostei muito de ler o texto quase "monográfico" que dedica à Pele!... Pessoalizar a Pele é uma ideia muito interessante e original, Emília!... A pele é nupcial, vestimenta dos deuses, cubo de tecido, eco dos gritos, silêncio amedrontado quando nos levantamos, hábito de alívio quando caímos ou descemos... A pele - o maior órgão do corpo - é o que temos para mostrar de mais explícto, em nós mesmos. A pele é ainda a flor do corpo, alvo das carícias, complemento de sensualidade, objecto indiscreto dos olhares, afirmação do carácter, O termo geográfico da colagem dos corpos nos jogos de amor, a fotografia do que se passa no nosso interior, em termos de saúde. Pele áspera, pele aveludada, com pápulas, escorrida ou calma, com máculas, eivada de vesículas, pele eritematosa, lívida, despigmentada, nodosa, ruborizada, escamosa, sombreada ou fina, quase transparente por vezes, mas sempre expansão de nós, resposta às emoções que interiorizamos. A pela é a nossa afirmação!... A pele é um sentir sentido, revolvido tanto do interior para fora, como do exterior para o corpo. Porque é nas dobras da pele que costuma nascer aquela "dor" agudíssima de querer ser o que porventura ainda não somos, "dor" que responde por nós, que nos revela perante os outros, no que somos e não pretendiamos ter sido, lugar de transmissão da memória, autobiografia do momento presente, tal como cicatriz do que se esfumou ao longo do caminho percorrido. Muito mais haveria a dizer... Felicito-a pela concisão, qualidade de termos, adequada adjectivação, com que espõe um tema tão oportuno, permanente e preponderante nas nossas vidas! Especialmente como sente tudo quanto escreve!... Gostei, sinceramente!

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