Quanto tempo deverá existir de passagem para que se sinta saudade! Serão precisos dez anos, quinze, vinte ou mais anos, desde o tempo que se foi, sendo esse o peso necessário para que a regra se sinta satisfeita e diga, agora basta! Três anos, um dia! Uma brisa que passa, um olhar que se some, esse é o tempo para mim. Uma passagem de tempo cruza o meu tempo em velocidade acelerada sem esperar que entre no seu espaço e não aguarda por mim, por muito que lhe diga - espera, aguarda mais um pouco. Ela não espera.
Momentos, vivemos de momentos, nos que conseguimos agarrar na electrização do momento. Momentos do que foram e que são, que se tornam no agora, nos cheiros e sentidos de ser de estarem presentes.
Quanto tempo será preciso quando o tempo não existe ou deixa de existir, quando o que passa a existir é somente o momento e o momento vive na eternidade de quem o sente! Nenhum! A saudade é permanente!
Quanto tempo será preciso quando o tempo não existe ou deixa de existir, quando o que passa a existir é somente o momento e o momento vive na eternidade de quem o sente! Nenhum! A saudade é permanente!
A saudade!... A saudade, "gosto amargo dos infelizes" - lhe chamou o poeta, e ele lá saberia o porquê e o quanto?!... - a saudade é a recordação do objecto terminado, que foi perdido, independentemente de ter sido válido ou reprovado no próprio tempo em que decorreu. A saudade é composta por momentos muito alinhados, momentos bisonhos e tristes, perfilados no espaço do nosso consciente, formando como que um "tapete" por onde o nosso pensamento, a nossa mente caminha e volta a passar novamente num percurso cíclico e inutilmente repetitivo.
ResponderEliminarPresume-se que a saudade possa trazer o agradável, através do rebobinar da memória, todavia as mais das vezes é um apenas ajuste de contas - em nós mesmos - com o nosso passado.
Contudo, quem vive de saudades, volta de certo modo as costas ao presente, é incapaz de perspectivar o futuro, vive ainda remoendo um determinado passado e dando-se. entregando-se violentamente a esse passado, que se finou.
Está fisicamente nos dias de hoje, mas tudo nele funciona ainda num tempo que morreu já, irrecuperável, quer se queira, quer não.
A saudade é procurar um penso para uma ferida que nunca se fechou, que só o decorrer de muitos dias poderia na eventualidade encerrar.
Preferimos dizer como o Fernando, que temos - isso, sim!... - temos "saudades do futuro". Porque é para o dia seguinte que nos dirijimos, é nesse próximo futuro que teremos que viver.
... Temos saudades do futuro, temos desejos de futuro, possuimos desejos de viver.
Pelo contrário, a saudade encarnando um certo passado, no seu próprio subjectivismo, acaba por ser um pisar e repisar do mesmo espaço, uma fruta sem frutos, uma negação à Vida, um morrer por antecipação. Aos poucos.
Uma morte a morrer-nos nas mãos, e na impotência de lhe dar-mos uma sede de água...
...Respiro e sei que já vieste
ResponderEliminarouvem-se vozes pelo caminho
há a tua presença és tu o ninho
e vêm risos uma alegria celeste
cântaros de barro cheios de água
e arrefece o ar... e é o entardecer
desejos e ardência no meu ser
em tudo uma flor lenços de mágoa
pode lá alguma vez existir
maior sede que a deste momento
querer e não ter mais que tormento
um amor um segredo por abrir
e se os houver digam onde estão
que neles quero dormir pousada
neles que a alma fique descansada
por fim numa melodia numa canção
(Elegia à Saudade)
Por vezes reviver o passado e ter saudades do passado trás sentimentos e sentidos bons há nossa alma!
ResponderEliminarHoje quando estava a tomar conta do meu sobrinho mais novo, pôs-me a brincar com ele, a fazê-lo rir mais propriamente porque ele ainda é muito pequenino. E num momento de alegria ele riu-se, e riu-se de uma forma tão peculiar, tão que na minha memória estava que me fez lembrar o irmão mais velho, e embora esse irmão também estivesse presente connosco naquele momento foi como se estivesse-mos quatro pessoas naquele quarto. Isso também é saudade.
Obrigada pelo poema! Gostei!...
ResponderEliminarTudo é saudade, gratíssima amiga!... O momento presente já é saudade. Pessoa definiu de uma forma magistral este imbróglio, este eterno enigma. Escreveu: - "Eu era, outrora, agora!..."
ResponderEliminarOutrora, agora....
O poema é teu!
Obrigada!
ResponderEliminar