(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

"Melhor escrever para si mesmo e não ter público do que escrever para o público e não ter a si mesmo"
Cyril Connolly

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Tal como o pensamento, estando distraídos, não podemos evitar que um pássaro assustador venha pousar na nossa cabeça, mas sempre podemos evitar que ele aí construa o seu ninho!!....

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

De vez em quando temos de deitar algumas coisas fora das gavetas! Coisas que fomos arrumando na esperança que um dia as fossemos utilizar, coisas que já nem sabemos porque arrumámos, coisas que até faziam todo o sentido estarem lá mas que agora parecem tão pequenas que não precisam mais que uma gaveta as guarde! Não precisa ser para colocar outras coisas nesse lugar, pode ser simplesmente para a deixar vazia, porque já nada vale a pena guardar na gaveta e tudo é para usar!...

domingo, 22 de dezembro de 2013

No passado era bom, era milho colhido verde e assado na brasa. Sem sal ou coisa nenhuma, era bom. Depois veio o tempo que passou ao largo e o que era bom, tornou-se desenxabido, a saber sem mel. Era coisa ruim, coisa intragável, era coisa do passado, coisa que já era. 
Agora se o comer não sei a que sabe, talvez também não me saiba a nada, a coisa alguma sequer. O que o fazia ser bom, não era o milho ser verde, não eram sequer os tempos serem verdes, nem a fogueira ser diferente...Era a fome de querer, era a fome de não saber, era a fome de não ter. Era tudo isso que o fazia bom!  
A morte teve de vir para que pudesses nascer, para tu vingares, para tu cresceres. Era bonito, perfeito, como o orvalho da manhã baptizado pelos primeiros raios de sol. Mas nada disso à terra chegou, que reclamou ao que ao mundo nos deu. Deu sem ser nosso, deu de empréstimo sem assim dizer. E agora que vieste e és lindo, que nasceste e aqui ficaste, mais que a carne, mais que o ser, se é. Agora, se tivesse, ou me fosse permitida a infeliz escolha do antes e o depois, preferia antes a minha própria morte a ter de decidir entre qual da vossa sorte perecer! Triste infortúnio este, que à vida nos traz a alegria do principio e fim, para tudo e o mais levar e voltar a nascer, fazendo a nós chorar pelo antes e desejar que o presente não se vá!... Porque agora, que te olhei nos olhos, nesses teus olhos cegos com que me olhavas e me procuravas no som da imagem formada. Sem que me visses, me apaixonei por ti, tu que não sabes quem eu sou, mas que me olhas como se visses, tu que me esperas e confias em mim, como se não existisse nada antes de ti. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Podes pintar a vida inteira um quadro mas lembra-te ele vai ficar pronto antes de ti!...
Quero ver o que se vê, dentro de uma borboleta aberta, dentro dela como bate, como as asas são na colecção que se foi formando, no acrescendo da vida, no crescer dos dias. Quero ver o que está lá dentro, rasgar as cortinas que  te cobrem, os véus que se formaram, descobrir o que aí vai e não me dizes.
Te escondes de mim, não, dos outros talvez, sim, de ti! Onde estás? Tantas vezes que te procuro na inércia dos dias, no morno das manhãs sem sol ou chuva, e não te encontro, não te apalpo, não te sinto sequer ao frio que me fazes sentir. 
É vermelho a cor do dia, é azul, é cinzento, é o que tiver de ser, não sou eu que pinto, alguém por mim o faz. Não sei quem, talvez eu de longe sem que o braço aqui chegue, ou a sombra me tape...o certo é que agendar o permanente local de opções, tornou-se uma etiqueta em nota de rodapé, com letras pequenas que ninguém lê que está demasiado ocupado para saber...
Ainda quero ver!...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sabes...as mães sofrem, os pais sofrem mas as mães falam e gritam expõem ao vizinho do lado o que sentem, falam com o desconhecido como se o conhecessem desde sempre e as suas mágoas fossem as mesmas, esperando conforto ou apenas expelir o que sentem, na procura de "despejar" no outro o seu "peso" e assim ter forças para continuar com a vida, porque ela sempre continua para quem ainda está "vivo" no corpo.
Mas as crianças, as crianças...as crianças sofrem mais, muito mais e em silêncio, porque é por causa delas que a mãe sofre e chora, é por causa delas, que a vida é alterada, o dinheiro se esgota, os outros irmãos são colocados de lado, em segunda prioridade, é por causa delas que a velhice dos pais surge mais rápido. É por causa delas...quando não é mas elas sentem que são e não dizem a ninguém. Calam-se nos sintomas, dizem que está tudo bem, tornam-se o adulto do adulto, o conforto do adulto, quem toma conta do adulto, com frieza e serenidade, no sentido de dizer que está tudo bem quando não está. E a mãe e o pai não sabe, não pensa, porque a criança é pequena e ainda não tem conhecimento de nada...Mentira, ela sabe mas finge que é uma criança, cega, surda e muda, porque a maior dor de um filho é saber que um pai sofre e chora por causa dele. Uma criança doente não tem amparo, nem nela própria ou talvez apenas no dizer ainda estou aqui e vou fazer o possível para continuar a estar, não só por mim mas por minha mãe...mas está...está sempre só. 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Gosto, gosto de andar descalça, gosto de estar sentada e ter uma perna cruzada em cima da cadeira a tocar na outra com a planta do pé, gosto de lavar o cabelo e não o pentear nem secar com o secador e senti-lo molhado nas minhas costas, gosto da cor do meu cabelo, gosto da chuva, dos primeiros dias de chuva que levantam o pó e nos traz o cheiro à terra, gosto da chuva quando faz bolhas no chão, gosto do frio da chuva, de dias frios, gosto do Inverno, embora seja muito friorenta e no inverno por vezes tenha de dormir com luvas calçadas, durmo pouco nesses dias, menos do que agora, o meu corpo não aquece e não consigo adormecer ou então acordo a meio da noite com frio, gosto do vento, dos dias de vento, do vento que assusta e quase levanta a casa, gosto de música, gosto de ler, gosto de escrever, gosto de ser teimosa, gosto de doces, gosto de dormir, gosto de dançar da forma que me apetece sem regras, gosto das minhas mãos pequenas que parecem de um miúda de dez anos, gosto do sol, gosto de gatos, gosto de flores, gosto de cavalos, gosto da minha mota, gosto de vitrais, gosto de dormir de lado, gosto quando não me lembro de nada e apenas estou no momento, gosto de saber que há coisas que não sabia que gostava, gosto de filmes grandes, gosto de me rir,  gosto de sorrir e fazer sorrir, gosto do mar, gosto de tanta coisa que agora não me lembro................

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A minha casa...

A minha casa existe dentro de outra casa, dentro de outra casa e dentro de uma casa maior.
A minha casa tem muitas janelas, a minha casa tem duas janelas e a minha casa não tem janelas.
A minha casa tem uma porta, a minha casa tem uma porta e a minha casa tem uma porta.
A minha casa tem um grande jardim, a minha casa tem um jardim pequeno e a minha casa tem um pequeno jardim.
De dentro da minha casa vê-se o dia e a noite, de dentro da minha casa por vezes vê-se o dia e a noite, de dentro da minha casa o dia e a noite não de vêem.
Na minha casa chove chuva quente, na minha casa não chove e na minha casa chove chuva fria.
Na minha casa eu sei, na minha casa tu não sabes e na minha casa ninguém sabe...

Ninguém sabe onde é a minha casa...
Mulheres. As mulheres nasceram para agradar. segundo os teólogos  Os homens nasceram do barro, da terra, para a terra e por causa da terra. As mulheres da carne e osso do homem, para o homem e por causa do homem.  Assim Deus quis. A mulher não foi feita para pensar mas obedecer, seguir os passos de quem sabe e já conhece a vida e as suas regras há mais tempo do que ela. Ainda assim ela desobedeceu, ela pensou e não se ficou pelo pensar mas agiu. Os rigorosos dizem que foi maldosa e quis ser mais do que era mas não foi ela enganada? E se quisesse ser mais e superior a quem a criara porque não o quis ser só e deu também ao a quem foi disposto que deveria amar, porque deu ela o que achava ser poder do conhecimento? Adão esperava por ela quando Deus a criou, porque Lhe disse que estava só e triste mas a Eva não foi dito nada apenas foi criada, apresentada e amada. E ela se adaptou a esse ser sem se questionar porque o deveria querer ou o que era querer, era para ela algo que tinha de ser. E ela sempre ficou a seu lado dando-lhe o que achava que era o melhor para ele. Porquê?
Porque a mulher foi criada para agradar e pensa mas pensa para agradar, para amar. A mulher que sabe amar, saber o que é o amar, ama mais os que ama do que a ela, ama mais até a ideia de que sabe o que é amar, ama o pormenor escondido que para ela existe de amor no ser hediondo que lhe está à frente como se ele fosse só esse pormenor e só ela o visse e por isso deve ser amado e como só ela o conhece só ela o pode amar. 
A mulher é criada e sustentada na ideia desde tenra idade de que o amor é rosa, que um cavaleiro andante e triunfante se cruzará com ela e viverão felizes para sempre com muito e adorados filhos. Não existem discussões e nada é mais apetecível e certo do que isso. É para isso que a vida existe nelas, para amar os outros. Mas depois o companheiro que já fez a sua conquista e a tem como certa, garantida e guardada em casa, cansa-se e parte para outra com aquela com quem estava ou mesmo sem ela. E a mulher, a mulher continua a amar, a achar que o pode mudar, não por dentro que por dentro ainda é ele e só ela é que o conhece e só ela o pode amar, mas a casca, a casca com que se disfarça. Então espera, aguarda, ralha, manifesta mas aguarda, magoa-se, perdoa, perdoa-se, mas espera na esperança que nunca chega e jamais chegará, porque simplesmente não existe, mas para ela existe e espera. E espera quando os filhos vêm, e por eles espera, porque também eles precisam ver esse pormenor de amor no companheiro que encontrou e que sabe que existe e que lhes quer mostrar. Cala-se, murmura, chora e cala-se, faz o que tem a fazer, mergulha na vida do amor que existe, no amor que criou sozinha, nos filhos, na casa, no companheiro, mergulha e vive tudo na exaustão de tudo, na esperança do sacrifício como via penosa para uma vida gloriosa. E quando será tudo isso, perguntas tu! No dia...no dia ela já não sabe em que dia será, que já perdeu a conta aos dias que viveu e ainda viverá e agora apenas está na dormência dos momentos como se dissesse agora já é tarde, vivi de esperança e agora tenho de cumprir o que que me resta da estrada, porque se não posso voltar a trás caminharei o resto para a frente mas cumprirei o meu destino a que fui marcada, aquele a quem ninguém me fez de interessada, aquele a quem destinado o que não sabia, aquele a quem amei porque me foi dado a amar e que assim amei porque quis. 
Uma mulher não precisa de ser ensinada, ela sabe o que é, apenas se conformou ao que se transformou. Uma mulher não precisa de ajuda de ninguém para que faça o que precisa de fazer por si própria, ela tem todos os métodos e mecanismos consigo, ela é inteligente e sabe pensar, apenas se conformou ao que se transformou. Ela é maior do que ela própria, apenas se esqueceu do que o é mas se quiser acordar terá de ser ela a decidir faze-lo, olhar para dentro de si e nessa hora ela própria, só, saberá o que como agir. Porque ela pensa e e não se fica pelo pensar e age. 
Uma mulher não precisa de ser salva, nem sequer compreendida, apenas amada. Ponto final. 
Certas pessoas olham para nós como se fossemos uma espécie de heróis, onde tudo o que fazemos é certo, correcto e acertado. Colocam-nos num pedestal de "santidade" intocável sem lhe termos pedido nada, sem sequer olhar para o fundo de tudo, sem se quer se perguntar porque o fazem, que sentido faz fazerem-no, sem olhar para o outro como um igual a ele. 
Nós não gostamos, porque não somos o que dizem que somos, porque simplesmente não conhecem o todo de nós. O que somos é muito mais do que o que se vê. Somos o bem e o mal, mas vêem-nos apenas a um lado, ao lado perfeito em que nos criam, em que somos inigualável  E quando "fugimos" ao que estipularam para nós, nos condenam sem sequer nos terem ditado as suas regras. 
Mas nós temos o outro lado, todos nós temos o outro lado, o lado que só nós conhecemos, o lado que se chateia, o lado que já não pode ouvir, o lado que pragueja, o lado que se cansa, o lado que deseja o indesejável, o lado egoísta, o lado triste...Todos esse lados ninguém o conhece mais profundamente do que nós, e ninguém o conhece sequer em alguns lados...
Por isso porque nos colocam num pedestal de perfeição quando não somos mais do que imperfeição!!....
O que os outros nos vêem não é o todo de nós e isso nos assusta porque não sabem na verdade o que somos por inteiro!........

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Gosto de nadar, da água (já te tinha dito), é como se voasses (claro que não sei como é mas e fosse era assim) 
...Está a trovejar, já ontem assim esteve, e chove imenso. O Afonso anda a correr no corredor, ouço os passos dele e o chão sente as estocadas do seu peso. 
Gosto de nadar, tiro o pé do chão e lanço-me no ar da água, depois é só deslizar e a água corre e atravessa o meu corpo como se fosse um tecido de seda, tão suave como se milhões de pequenas mãos nos puxassem sem sentirmos peso algum. Gosto de colocar a cabeça debaixo de água e os braços ao longo do corpo e usar apenas as pernas para me impulsionar para a frente, controlas o ar que sai de forma a não interromper a linha de curso, para que seja a maior que conseguires. Depois deixaste ir e passas a respirar da água, do simples acto de estares sem estares...
Mais um raio que caiu...
Gosto dela não sei mas gosto e ainda assim nos meus sonhos é nela que eu morro...
Disparates do surto e medo que me provocaram das histórias que me contaram mas mesmo que seja verdade porque não beijá-la antes de morrer!!.....

....Apeteceu-me escrever....

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Ser emigrante em outras terras...sim...e ser estrangeiro em sim mesmo!...
Às vezes estamos quietos, muitos quietos e o silêncio vem, o de cá de dentro, que lá fora os carros passam, apitam velozes, o vento agita as árvores e varre o chão. Uma teia de aranha presa num espelho de retrovisor se agita, não por vontade própria mas porque é impulsionada, como se estivesse a emergir da água depois de um longo mergulho e agora navegasse na calmaria em que se agita. É forte uma teia de aranha, parece que não por ser tão fina, quase transparente mas se olharmos bem de perto, ela se estende e distende, encolhe e recolhe e volta a distender até ser alargada, esquecida e voltar à sua posição original. E olhamos dormentes no corpo, sem saber à quanto tempo ali estamos, o que foi que se passou, o que passou, os sons estão longe, soam a eco e nós não estamos lá fora mas cá dentro...

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

"Oh lua que vais tão alta
redonda que nem um tamanco
Oh Maria traz-me uma escada
Que eu não chego lá com o banco"

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Minha mãe tem medo dos mortos, dos mortos com que se sonha, dos mortos que aparecem sem estarem, dos mortos que têm medo, se assustam e fogem, dos mortos que falam depois de estarem mortos, dos mortos que nos chamam pelo nosso nome, que quando eram vivos não o faziam.
Minha mãe para eu não ter medo dos mortos, levou-me ao cemitério a ver os mortos, a vê-los em casa já mortos com os narizes, orelhas e boca tapados de algodão, embebidos em potrefação, a ver os ventres inchados, a analisar a deformação dos corpos por debaixo dos lençóis já amarelos da velação do dia e noite. É preciso tempo para que o morto seja declarado morto e seja entregue à terra, para ser antes de o ser é preciso autorização especial, no segredo de não se dizer nada, que à terra é preciso tempo e a ser antes ela pode-ta devolver.
Minha mãe me dizia para beijar os mortos, para dizer adeus aos mortos. Os mortos se despedem com um beijo no adeus! Mas saberiam eles que eu os beijava, notariam no frio, na caverna escura de onde eu não os via, que ali tinha chegado e no meu beijo quente lhes tinha acenado com um gosto de ti, desculpa, não te posso ajudar, adeus. Não havia resposta, não poderia haver, nada existia mais aqui!
Minha mãe não sabe que os mortos estão mortos, mesmo os vivos estão mortos, mesmo que venham e nos acheguem com queixumes e arrependimentos, estão mortos, estão mortos porque não ouvem, estão mortos porque não escutam, estão mortos porque não sentem.
Estão frios minha mãe, mas são os vivos que metem medo! Os mortos que vivem!
...Talvez seja isso que ela me quer dizer!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Uma vez chamaram uma menina para a praia, para ver o mar. Ela brincou, saltou e divertiu-se e ficou ali à beira do mar. Depois o mar recuou e a seguir veio uma onda gigante, daquelas que engolem casas. Tinham-na chamado para ali e agora não podia fugir para lado nenhum...a onda chegou e engoliu-a, tentou lutar cheia de raiva mas quanto mais lutava mais se afogava, então ela deixou-se levar e a onda farta de estar só na luta, soltou-a e ela veio à tona. Tudo o resto tinha morrido e só ela sobreviveu. Sobreviveu mas não esqueceu! 
Sempre se luta, depende é se a onda é de força da natureza se é formada pela maldade de quem a empurra, e consoante uma ou outra, age de maneira diferente, com passividade e tolerância ou indo para a guerra! 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O vento chegou de uma só volta, de uma só nota, e deixou-me a contar num sussurro ao ouvido, um segredo que agora não te posso dizer! É um conhecido, que me olha com olhos sinceros e alegres, me pede que agarre, abrace e beije, mas a mim não sei quem é....
Na curva da noite a aurora chama neste pedaço de papel rasgado à página escrita de um qualquer livro vindo de um poeta morto, que não sabe que está morto, na mansarda onde vive, respira e come do musgo colhido pelas telhas regadas das chuvas bem-vindas. Ali vê de dia e noite por cima de toda a casa que expele a sua fuligem, o seu fumo negro, de tudo o que deitam ao lume, apenas para aquecerem ao corpo que o resto já não importa. Por cima de tudo isso ele vê o sol que nasce e entra por entre as telhas, escrevendo palavras que ainda não sabe ler....E essa noite já não é noite é outra vez, uma outra vez, era uma vez, as estórias das margem dos rios, das árvores com as raízes banhadas pelas aguas que passam. É uma criança que se balança na corda presa a um ramo de folhas amarelas e vermelhas toldadas pelo vento, que o poeta empurra com a sua pena. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Não devia estar aqui, sei que estaria de outro lado de outra forma se não estivesse aqui! Me arrasto para o mesmo lugar, talvez porque sonhe demasiado alto, queira algo que não deve estar, que não deve ser. Tanto dever que a conta fica demasiado pesada para se poder carregar às costas...Mas para se fazer uso da palavra sinceridade sou uma flor que foi tocada, amachucada e deixada ao vento, para onde a chuva caiu e a fez levantar a ver o sol, ainda flor por cortar ou podar, ainda presa há terra, sem sair da terra a cheirar o mar! O mar é só, dentro dele estão outros que à superfície não se vêem, por cima é um, por baixo é outro, ao redor tantas vezes visto, milhares deles, sendo apenas um.  
Às vezes custa-me a acreditar se será verdade ou não, se o que os olhos dizem é sincero, se o que vejo por detrás do sorriso, se a intenção a que me toca não será antes a base do teu ser....É coisa certa que me viste, me olhaste ainda antes de saberes ver, e que a seguir a isso  te amei. Talvez a tudo isso basta a quem deva bastar, mas a mim ainda me está a dever o agora que não me chega! 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sempre quis aprender a jogar xadrez e há falta de alguém com quem jogar pensei mesmo em jogar só, de mim contra mim! Desisti de tal empreitada! É que seria monótono saber de antemão que invariavelmente se vai ganhar a nós, e é bom às vezes perder, principalmente quando nos perdemos para outro! 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Estava lá, do outro lado da linha, do outro lado das flores abertas, perfumadas e regadas com as gotas do orvalho da manhã. Estava lá, voava para a lua, para lá das estrelas. Deixa-me ver o que tens na tua mão, segura a minha, dança comigo. Sente o meu coração de música e deixa-o cantar para sempre. 
O espaço onde piso, onde estou, tempo de entre os dedos que passa e se estende num fio invisível, numa rede interminável que cerca tudo o que me rodeia, vim ver o que se passava e fiquei sem me dar conta se sim e agora que estou como posso eu ir embora quando todo o resto está cimentado ao chão em raízes fundas, profundas de céu e mar, dor e amor. 
Parece que sabe o que sou, mas a nada se chega, a nada se parece, a tudo se é, quando assim é, e a nada mais pode ser, nada mais que assim, assim, como é! 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Queria que estivesses aqui, mais ninguém mas tu, a página original, verdadeira, tu. Mas não estás, e tudo o que eu disser é na teoria vã da ideia ultrapassada do que se sente cá dentro. Mas sendo o que sou, sei que não te posso esperar, que é a ti que tenho de ir, que é ai que vou ficar. Ir contigo, estar contigo, parece uma eternidade longe que não se apanha e nem se encosta. Mas sei que um dia estaremos, se assim tivermos de ser, mas se não formos ainda agora estamos e somos. 
É assim tão difícil dizer, acredito em ti. Não precisas explicar nada que eu acredito em ti. Talvez se eu fosse alta e me vestisse da mesma forma do que está lá fora, talvez se o meu cabelo soasse diferente e não assim assente no risco certo do regular, normal. Normal, toda a gente quer ser normal, que desperdício de tempo e energia em tentar transformar algo que não é, em algo que se tenta ser, e depois já não sabes se foste ou se ainda és. Talvez se fosse tudo isso, não me parecesse estranho o estado de lonjura em que tudo me parece mesmo quando me toca. A roupa, a pele, o cabelo e a boca me fazem estar longe, sem maquilhagem ou superfícies vãs, apenas modo diferente, intocável, intransmissível e verdadeiro, um verdadeiro que ninguém intende ou se intendem preferem virar as costas a ter que voltar a ter de pensar na existência do ser. Que vitória é esta  que a nada vale nada, que a tudo permanece igual.  

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

"A palavra"

Palavras da noite luzidia que se prendem sem eu querer ao que falta dizer. Palavras nos dedos de quem toca piano que fala sem o dizer. Palavras compridas de sons, num texto ainda agora escrito, quente que te queima no sentimento ainda presente! Palavras que não ouves nem ouvirás que são palavras do que não queres ouvir, que são palavras que já sabes que são antes de o dizer. Olha no espelho e chora, que palavra lhe dirás ao que do lado de lá está não estando sendo tu que não és. És reflexo e até para o teu próprio te faltam a base das palavras, a forma, o principio do que sentes. Procuras, vasculhas em tudo o que tens e vês mas não te chega. A palavra é maior que a palavra, é o som em toda a gente crê, é o sentido em que toda a gente sabe que deve ir mas poucos o seguem! A palavra da noite é dia e de dia é noite, é toda a que se quer guardada no local a que se chama sentimento! 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

"Chapéu-da-chuva"

Tenho um chapéu que me guarda da chuva, que não uso. 
É vermelho, cor de fogo, que guardo arrumado e fechado! 
Prefiro a chuva que me molha, me entranha na carne e me enche até há alma. Prefiro o vento que arrasta os cabelos para fora do lugar certo, de se estar bem e correcto, que os mantém além do estado escrito, do desenho pintado dentro das formas alinhadas. Amo as folhas fora do sítio, inundando as estradas de cobertores estranhos ao que aos olhos no parecem, ao olhos dos que apenas conseguem olhar ao que está em frente e não conhecem o doce prazer de as poder calcar de pés descalços, de se dar a poder e deitar sobre elas, como na cama de onde ainda hoje te levantaste, de onde ainda hoje não querias sair. 
Dizem que a chuva arrefece e esfria, a mim me aquece, como fogo ardente e vivo, me queima por dentro. E é de dentro que sai o que sou, não é de fora o que me molha e me faz correr, e cercar-me de afectos, que ao corpo se pede. É o de dentro que acolhe a chuva, a faz correr nos rios do sangue que me faz viver a vida, a toda a água que viaja por terras e mares, e volta para mim, toda a história do que se disse e não disse, do que se criou ou não. Está no meu coração, trazendo-me a casa, fazendo-me forte. 
Hoje é o dia antes de tu vires e alguma coisa cá dentro me faz ter saudades, de ainda não estares cá, onde estou, aqui, sem chapéu que me guarde, sem chapéu que me esconda, dela que quer em mim entrar e saber mim e eu dela saber, estar dentro da minha pele, saber o que sei, viver o que vivo, sentir o que sinto. 
Tenho um chapéu-da-chuva, vermelho, guardado, que não uso! 


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

"A vida"

A vida parece tão irreal, tão fora de contexto, como esta cadeira em que me sento. As cadeiras têm este jeito de nos prender ao chão, mas no fundo, no fundo, toda a gente sabe que a culpa não é da cadeira, é de quem nela se senta. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Tantas estrelas no céu. Nenhuma é minha vizinha, nenhuma me adivinha!

"O meu lugar"

O meu lugar é aquele que me faz ter, é aquele que nunca vi mas que sempre o desejei ter. Desenho-o desde cedo, sempre com as mesmas formas, sempre com o mesmo querer. A preto e branco, de onde as cores não se vêem, mas com a mesma certeza brilham se assim quiser que sejam as cores com que sempre sonhei.
O meu lugar é aquele onde nunca estive com os meu pés, mas aquele onde sempre foi antes de o ter sido. Tem uma árvore grande que circunda o rio que corre para o mar. Uma árvore forte, robusta, pronta para apoio de alguém que ali queira repousar. Ao fundo as montanhas são altas, sem neve, apenas o verde das ervas molhadas que cheiram a terra e mar. O sol brilha à tarde, tingido de vermelho puro. 
Tenho saudades desse lugar onde sempre que o desenho estou, sem a mim me fazer lá. Uma imagem que permanece a não existir, sendo real. Sem nunca lá ter estado estou. 
Sinto-me lá, sob a árvore robusta, de onde as folhas caiem empurradas pelo vento. As flores que no chão se agitam, voltando ao mesmo lugar. Sento-me no chão duro e seco e o olhar move-se com vontade própria pela paisagem nua e minha. Imagens roubadas ao meu coração, que assim a querer, dei também! 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"Ponto final!

Podes estar em dois lugares, enquanto escutas e pintas, quando desenhas e falas, quando acordas e ainda estás a sonhar, mas escrever, para escrever é preciso estar lá e não sair de lá. Focado à espera, na espera que elas venham, as palavras. Podes ir, ao caminho mas só lá chegas a meio, elas é que vêm ter contigo e só uma vez! No contexto, na forma, no sentido e sentir com que se sente, é só uma vez. A seguir é vêm outras, porque o sentir é diferente, mais ou menos, ou mesmo igual, não sabes dizer como disseste. O que vês é ao lado e não em frente. Se te quiseres ver como eras tens de te copiar, e à copia sais do sítio, um risco ao lado, não é igual, a impressão é outra, já passou é outra. Por isso nunca acaba e te reescreves sempre que terminas um ponto final.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Às vezes a gente nunca acorda, às vezes a gente sonha e acorda. Às vezes a gente nunca sonha...
Tem gente para tudo isso e em tudo isso tem gente!!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A loucura veio a mim num riso, um dia. Era dia, era noite, era eu sem o saber. Ouvi o eco da voz e dela saiu um outro que não conhecia, não sabia que existia. Mas era e vivia em mim , como alguém que se esconde para não magoar. Não existia certo ou errado, era o agora ou nunca na estrada em que me encontrava. Era a adrenalina, o ópio, a doce morfina que me arrebata a alma, que o corpo já não existe...

"Um segredo"

Um segredo, profundo em mim, me segue numa estrada sem que me cruze ou retenha a ser o que sou, o que me faz viajar. Não gosto, não o detesto, apenas existe. Existe como pele à minha superfície e sem ser é, e é assim porque quero que seja. Há pele que dele também existe, há pele que dele em mim persiste, em me fazer o que sou. Um sonho real, que existe e vive em mim. Não consigo, não posso dizer adeus, não sou eu que manda é a minha carne que o diz. Me lembra agora. Está lá na ausência dita, na memória escondida, no que não se lembra por sempre ser, sempre estar. Sem saber veio, a saber está. Ficás-te nesta parte invisível de mim, que sem se ver, vê-se. Sou, penso e estás... 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

"Luzes da noite"

As vezes à noite, de noite ou no escuro da noite é quase como se fosse noite e nem é preciso fechar os olhos para o ser, basta acreditar e ser se assim se quiser! O escuro envolve-nos mas sem medo...não é medo que se tem é fascinação, prazer, cumplicidade! Como quando se nasce sem ver e as pequenas luzes, os brilhos que nos chega e nos hipnotizam, tornassem o mundo só disso e não houvesse nada além disso.....

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Dor é a roda em que brincava, roda de onde caí, roda de onde vi meu pai gritar, roda de onde me me veio para acudir. Dor é não saber porque perdi o equilíbrio, porque a roda passou por cima do meu pé e não senti nenhuma dor. Lembro-me de meu pai, do meu pé no chão, da certeza da roda pesada por cima dele, da dor existir sem ali estar porque alguém, quem foi não sei, alguém me puxou para fora estando ainda ali, e a dor ficou no tempo e não em mim. Quem me poupou à dor não sei, para quê não sei, mas lembro-me do meu pai a gritar, de apalpar o meu pé, de dizer desculpa, não aconteceu nada, está tudo bem...
Nunca escreva nada que possa ser lido.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Verde-água
Azul-marinho
Essas são as cores
Do meu menino
Corre pela praia
Movendo a areia
Corre com a alegria
De quem só quer sonhar
E é tão bonito
De cabelos ao vento
Braços no balanço
E riso no ar
Não cresças
Não quero que conheças
A morte das flores
Do nosso jardim
Corre, corre, foge, vai
Sem dizer adeus
A quem te quer bem!...

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Desculpa, quero-te pedir perdão. Daquilo que dizes que tenho e deveria fazer com ele. Não tenho tempo, tenho pressa, o tempo acaba depressa. Mas tu fazes-me esperar e esperar numa caminhada que me parece demasiado longa para fazer só. Teria sido mais fácil mostrares-me o que queria, aí saberia quem sou porque mo terias dito. Não sei se teria acreditado, para acreditar é preciso uma certa dose de fé e a fé às vezes vai-se-me como areia escorregadia que atravessa os dedos das mãos. Nunca fica nada nas mãos, no corpo talvez mas nas mãos não. 
Devias estar só quando nos fizeste a nós, estamos sempre. Querias um reflexo teu uma coisa que chamasses tua, mas deixaste-nos escolher, mesmo tendo dado o que nos deste, porque temos algo, um pedaço de ti, todos nós. E deixas-nos escolher...Largar, deixar livre  não é fácil. Se se cria deveria ser nosso, mas que mais pode ser nosso senão o que deixa livre. 
Nunca verei o teu rosto mas talvez me deixes um dia ver-te a trabalhar no teu jardim.
As pessoas dizem que não se deve questionar a Deus, mas eu, eu só quero conversar contigo....

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O vento hoje está diferente, tem sabor a mel e fel. Talvez seja por estar cansada e este vento quente me traz uma certa certeza das rodas do carro que nos conduzem. Às vezes sabe-se para onde se vai e não sei se é mais triste saber se a completa certeza de que realmente aconteceu. As coisas são simples o difícil é quando complicamos e as linhas que nos pareciam rectas se transformam em curvas anunciadas de um escuro que não se sabe e não se conhece. Quantas vezes se sai de lá para lá voltar a cair, sem ter visto nada de nada, certo ou errado. 
Inventamos sempre umas certas regras, dá-nos algum conforto não ter de fazer perguntas para não ter que receber respostas. É que a resposta pode bem ser aquela que queremos ouvir. Mas e depois, depois, o que fazemos com tudo o que pedimos e nos foi dado. Preparamos-nos para que os outros sejam o que queremos que sejam em nós, mas não nos preparamos para sermos nós em eles. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Podemos conquistar alguém através do amor ou do ódio. Com ódio é mais rápido, com amor é mais duradouro!
O limite da realidade a que nos acostuma-mos é a face do sonho. Uma passagem, uma vista, um sentido certo do que no certo te vês. Ilusões perdidas, que sem estarem as encontras, nessa miscelânea do que é teu ou dado como teu. 
Respira fundo, atenta ao que encontras, projecta na tua mão, nas tuas mãos, quantas tiveres e crê, por mim, acredita. Sabes o que quer dizer, sabes....é um mundo, um novo mundo. Céus livres, livres, uma nova manhã, um novo nascer. Tocar no incerto, da realidade tomada como certa, imaginar no lugar comum ao que se diz, ao que dizemos sem dizer. Viver na abstracta forma do ser que cobre como uma neblina fugidia a vista de quem sempre sonha...

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

"O melhor dos vinhos"

Existem dois tipos que vinho que são considerados os melhores!
Um deles é o sobrevivente, cria-se em qualquer terra, adapta-se ao clima, das raízes mortas nascem novas bases para as mesmas plantas, mesmo corroída pelos insectos e as pestes o fruto vinga, saboroso como se estivesse nascido nas planícies do Éden. Luta e sobrevive a tudo e todos. Podemos usar a sua cepa e confiar nela porque jamais nos irá falhar. Nasceu para nos dar o fruto, foi criada para isso e é isso que irá dar. Não se deixa conquistar ou derrotar pelas intempéries da vida e lhe ganha sempre. Dar-nos-á sempre a provar bom e excelente vinho!
O outro, só se cria em determinados espaços, em certos lugares, em certas ocasiões. Se o clima muda a cepa morre, se a temperatura não é adequada ela morre. A terra tem de ser a certa, a correcta, no ponto por ela exigido! É delicada, não se cria todos os anos, só nos que ela escolhe e lhe parece bem. Precisa de cuidados extremos, diários, como se uma flor que se carrega nas mãos com medo que se quebre...Mas se tivermos toda essa paciência, todos esses cuidados, todas essas exigências, ela nos dará a degustar o melhor dos vinhos que alguma vez provámos. 
Qual é o teu vinho?!!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Somos simetria e simetria existia, era perfeita e complexa. Quando somos pequenos tudo é certo e correcto mas o corpo cresce e se separa, torna-se desigual e separado nas suas duas partes que antes eram e também agora são mas em pesos e formas diferentes. Ainda o reconheces a ele e à sua parte no que se quer dizer e chamar mas são diferentes. Diferem na idade e da doença, diferem na rigidez e na placidez. 
Olhas-te no espelho e perguntas quem és, o esquerdo ou o direito e se fores direito o aceitas como sendo esse ou queres antes o esquerdo. O que aceitares é esse que te rege, ao qual rezas e pedes para não perderes, para que te deixe viver mais um pouco.  Sou mais do que a carne, sou tudo menos carne e a carne me cobre e não posso viver sem ela. Quis tantas vezes que este cobertor não me tapasse para que se visse apenas eu, apenas o que sou, quem sou, mas como raiz que me agarra há terra não me larga e me torna humilde da perda, da mortalidade, no sentido do agora, do presente sentido, respirado como eterno. A minha fraqueza faz-me forte,  não porque me faça viver mais mas porque me faz viver mais. Muitas vezes choro e pergunto porquê e ele apenas me responde porque não. Acorda, vive e aprende, sente e recorda, precisas ver para sentir e o que sentes é a tua imortalidade do que sempre fomos. Tu e eu. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

"Pedra no muro"

Era um muro velho, construído de terra amassada pelas mãos, junto com a erva do campo para lhe dar mais robustez, tinha cinza, tinha cal, e aguentou-se ao vento e às chuvas, sem nunca perder a sua altivez. 
Mas uma vez, uns olhos de menina, viram uma pedra linda no meio do muro velho, uma pedra mais antiga que o muro e pareceu-lhe mal que o muro a mantivesse refêm, prisioneira no meio de toda aquela terra velha. Pareceu à menina que o melhor era tirar, regastar ao mundo aquela pedra tão linda, para mostrar que o mundo era mundo antes do muro. 
A menina tirou a pedra, com muito cuidado, para deixar o muro inteiro, mesmo que sem a pedra e continuasse a ser muro, mas o muro era de terra e a pedra fazia-lhe falta, por isso cedeu à falta e começou a cair, a se desfazer. A menina tentou mantê-lo em pé, de outras formas, de outras maneiras mas ele todos os dias caía um pouco mais, e agora que a chuva cai, cai um bocadinho mais...
É que à terra é preciso pedra e à pedra é preciso chão, tudo faz falta na construção. Na nossa também! 

domingo, 1 de setembro de 2013

As cicatrizes são marcas para nos fazerem lembrar que o passado é real!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Mergulhar, abrir os braços e deixar cair, de olhos fechados, de peito aberto, esperando o impacto entre o céu e a terra, que nos come, engole, degusta e deita fora...A vida assim nos faz severos quando se gosta em demasia e dela não se consegue corresponder, escrever uma linha que seja. Somos apenas páginas em branco, pensamos. Páginas em branco sem tinta ou caneta com que se escreva nelas, mãos de linhas tortas que não cruzam no momento certo, porque se chegou tarde demais, ou cedo demais...
A língua da vida não escreve, não fala como tu e eu e quando achas que estás lá perto, ela mostra-te uma forma nova com curvas novas, que te pretende a decifrares sem te dar o tempo para isso. 
Tempo!!Não é tempo que tu precisas, é consistência e forma, peso e medida, algo a que te agarres, que te dê subsistência e calor. Mas é Inverno, sabes! É difícil no Inverno pensar com o coração quando o corpo treme de frio e a única coisa que sabes fazer é pensar, e pensar em comer. Pensas no corpo, nada mais que o corpo, alimento para o corpo, esse corpo que é a tua pele, a tua parte menor e ainda assim maior, que te gere, sem controlo, demónio de dor, parte visível do prazer! O que eras tu sem ele, apenas tu. Unidade unilateral, impossível, que sem a ele sentires, o sentes, o coças e roças nas partes invisíveis em que o sentes, como alguém, não estando ele, sempre está presente, sem lhe tocar, morto, para ti vivo... 
Está calor e não consigo pensar, talvez se tirar a roupa me consiga concentrar. A janela está aberta e as cortinas corridas para os lados, é noite e o ar fresco da noite é de salutar. O vizinho da frente já dorme penso eu, embora as luzes do quarto permaneçam acesas. Queria escrever-te, dizer-te qualquer coisa que agora já não me lembro, que este calor não me deixa. Devia ser alguma coisa que já te tinha dito. Quando começamos com repetições é normal que nos esqueçamos, as palavras ficam no uso, no hábito da palavra, no disco riscado, no caixote do lixo, de onde se tiram quando se precisa de algo novo, que ao novo não há mais, e se limpa o melhor que se pode e volta a dizer, voltando de volta para o mesmo lugar onde se foi buscar.
Seja como for, está calor, um calor insuportável, abafado, arrastador do prazer, estou pegajosa, toda a minha carne transpira e eu não consigo pensar em mais nada a não ser.............

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Zum, sum, para aqui, zum, zum para acolá. Irraaaaaaaa..........Não pára de me zumbir aos ouvidos, já não a posso ouvir....
Mexe em tudo o que é nosso com aquelas pata imundas, que andaram sabe-se lá onde.
E porca, ainda por cima é porca, porca, porca, porca!.......
Não é por nada mas às vezes apetecia-me ir-lhe às trombas, apanhá-la pelo colarinho e desfazê-la à chapada. É que não há paciência desculpem lá....
Raios partam as moscas.....
Naaaaaaaaaaa....um raio não conseguia acertar-lhe....Pufffffffff

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

"luz do dia"

Consigo ver a lua por uma racha de luz que a cortina e o topo do telhado do vizinho deixa passar. Ela reflecte a luz do sol quando o sol já não se vê de onde eu estou. Algumas pessoas são como a lua, reflectem o que os outros têm para dar quando não podem dar. Talvez seja essa a magia que achamos à lua, a magia de se dar para os outros, de se criar a dar, sem ter mais nada do que seu e existir para que o sol, brilhante e criador de vida, dê vida. Esse nada que se vê é também criador de vida. Essa lua que nos parece simples e espelho de outro é que sem ser nada é tudo. À noite a lua permanece lua, sendo sol também, e eu consigo vê-la, por entre a cortina e o telhado, trazendo a luz do dia.

sábado, 24 de agosto de 2013

A noite chegou e ainda não cheguei. A lua se vestiu, o frio passou, a água parou. O pássaro cantou e não sei o que mais se passou. Espero debaixo da janela, a estas horas, a todas a horas que me a abras. 
Choro à noite pelas perdas que ainda guardo, que nunca foram minhas de verdade, da verdade que não é minha. Choro não das memórias porque para existirem memorias, os factos não seriam mais vivos, mas a certeza é que vives e por isso choro. Choro porque vives e corres e te alegras e choras e existes e és real. És vida e cor que não me deixas viver na noite escura, porque o escuro não existe! 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Controle é uma medida de poder mal medida! Ilusão criada para satisfazer os medos de um animal que se forma voraz quanto maior for a mentira com que nos cobrimos para dormir descansados!
Um dia o lobo nos apanha e come porque fomos pelo caminho mais curto

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Vê-se coisas "

Primeiro era, depois já não era, deixou de ser, acabou-se o que se era. E penso, penso no silêncio que se formou, penso como era, e penso que ainda é igual, sem o ser, penso que tudo permanece, sem estar, tudo é sol e terra e mar, tudo igual. Sem mudança, passado ou presente, pedra fria, tudo me parece distante, numa distância próxima, no sentido de não haver separação real, negativa, sentida. Sinto uma certa paz, se assim se pode dizer, lhe chamar ao que se sente,  por palavras formadas por letras para explicar coisas que são outras coisas feitas de outras coisas. Quando se olha para nós visto de um canto de uma parede sem que se veja, vê-se num ângulo diferente do que o que se estivéssemos a olhar de frente. Vê-se coisas que nunca vimos antes, vê-se coisas que não queríamos ver, vê-se coisas das coisas que nos fazem pensar e ver...

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

As mães são sempre incompreensíveis para nós ainda meninos, por isso são duras e dão tão bons alicerces!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Sigo a escuridão assim com sigo a luz. A luz eu sei, a escuridão talvez não mas sei que ela está lá, não na rua mas dentro de mim, nos meus medos! Hoje fui à rua e procurei-a, tive de me colocar num lugar bem alto. Não a vi. Estava escuro como sempre, à noite está sempre escuro, algumas coisas brilhavam no céu, coisas a que chamam estrelas, pontos de navegação, luzes do caminho...Não a vi. Fiquei ainda um pouco, talvez mais um pouco do que o que penso que foi agora mas fiquei, ali à espera, deitada de costas no telhado inclinado, adormeci debaixo das estrelas mas ela não veio, apenas a luz da manhã chegou! 

domingo, 11 de agosto de 2013

"Desejo"

Desejo...Não sei o que desejo, assumi um compromisso comigo mesma e agora tento cumpri-lo, como se fosse algo extremamente importante mas não é, nunca é, não nos venhamos cá iludir que se vai salvar o mundo com o que se diz, escreve ou faz. Ninguém salva o mundo porque o mundo não se quer salvar, talvez se tenha sorte e se salve uma flor silvestre, uma árvore agreste, um raio carmim de um pôr-do-sol por deitar e se tivermos imensa sorte, mas mesmo muita, talvez, talvez consigamos salvar-nos a nós próprios...
Tantas vidas vão e vêm sem que a gente dê por elas, que a gente fica a pensar, que  nós que sobrevivemos ou vivemos todos estes tempos, devemos à terra alguma coisa por nos ter deixado ficar por aqui mais um pouco. Não gosto de dívidas tanto como não gosto de surpresas, mais cedo ou mais tarde uma ou outra nos irá cobrar alguma coisa como se tivéssemos de saber o quê sem nos terem dito ou perguntado. 
Desejo...Desejo uma varanda, numa casa velha sem vista nenhuma mas que de Verão me deixe dormir nela segura...é isso que desejo! 

sábado, 10 de agosto de 2013

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

"Minha irmã"

Vejo-te nos teus olhos tristes, no teu olhar perdido no chão mas tão longe disso. Queria-te agarrar mas apenas consigo que não me fujas. Estás no passado presente, no que seria o agora se não fosse o que foi, se não existisse o que ainda existe. Deixas-te perder nos ses e isso não te traz alegrias apenas interrogações, no talvez se fosse diferente agora que sabes o que foi, agora que viste o que poderias salvar. 
Continuas com o olhar no chão quando à tua volta a vida corre, sem te ter reparado, ninguém vê o que eu vejo, eles não sabem o que eu sei. Alguma coisa te acorda e voltas de novo sem ainda teres voltado, a vida te chama, te reclama para junto dela e é ela que te salva, é ela que não te deixa afundar nessa culpabilidade imprópria da nossa consciência. Sem ela ter-te ia perdido eu sei, e ainda que ela te roube um pouco de mim, em tantos instantes, em tantos momentos, ainda somos só nós no nosso olhar, nos silêncios, no que sempre fomos e não podemos deixar de ser. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

"Portar mal"

Toda a gente me diz - Porta-te bem! Ninguém me diz - Porta-te mal! E era isso que eu queria ouvir - Porta-te mal!Das duas uma, ou eu me porto sempre mal e por isso o porta-te bem, ou porto-me sempre bem e não me posso desviar desse caminho! 
Sinceramente e cá para nós, que desperdício de tempo o porta-te bem. Melhor sair da regra, não fazer nada, não se pensa, não se cansa, nada de nada. É tão melhor assim! Mas ninguém me manda portar mal. Porquê? Toda a gente já se portou mal, para me mandarem portar bem é porque sabem como é. 
Sabem, ouçam lá. Um dia destes vou-me portar mal e não me digam já coisas que eu não quero ouvir. Vou-me portar mal e pronto! Estou cansada de pensar, pensar às vezes cansa, por isso vou-me portar mal. 

quarta-feira, 31 de julho de 2013

"A verdade"


A verdade é como um papel amarrotado no qual escreveste e depois de ler te viste e o que viste já não era o que pensaste. Esmagas de raiva ao que acreditavas ser, mas não é o papel que erra, é tu que acreditas na verdade quando a verdade é mentira. Não é verdade, nunca é, só por si verdade, porque a tocas, te dizem que é, crêem que é, respiram e cospem em ti todos os dizeres que dizem para si, como se a si quisessem enganar. E enganam, sempre enganam, nada disso é verdade, é o cego que vê a verdade, na obscuridade do dia ele vê além de ti. O cego é uma página em branco ao qual o vicio ainda não corrompeu e se tiver sorte, que para estas coisas também é preciso um pouco disso, se tiver sorte em ser cego, até ao fim da sua vida mortal, a ele, só a ele será revelada a verdade da mentira. O cego não tem o vicio da página em branco que em nós já foi tingida, o vicio da cor em nós é contagiante e antes de pensares em que cores queres gostar, já foste marcado a ferro por uma delas, muitas vezes por muitas. Cores que não saem e te marcam a pele até aos ossos. 
A verdade é uma mentira, sempre mentira, se fosse verdade conseguias reconhecê-la! 

terça-feira, 16 de julho de 2013

...

Se olhar para uma montanha e a fizer curvar, já não sou a montanha curvada mas a curva da montanha...

sábado, 13 de julho de 2013

"Sinto-me"

Sinto-me cá dentro, num centro dormente, surdo. Lá fora o vento bate forte num sentido violento e ainda assim não o sinto. O vejo, o que torna e retorna, sem vida ou sentido. Gente que passa como se fosse outro vendo-o eu hoje, ontem e depois, tocável e tão frio lá fora. E ainda assim, vendo assim o que vejo, terei ficado eu, do lado que observa e passa a ver o que sempre viu, de outro ponto de chegada. O que vejo é outro, a tua sombra, o teu ego escondido que nem sequer me nota, que para além de ti estou eu, o eu e o que vejo dentro. Dizes que acertei no lugar errado na hora certa! Tens razão! Este é o lugar que não vês, por isso o chamas errado sendo para ti o certo, estando pois certo para os dois. Se estivesse nesse lado que  passas não estaria aqui eu, este eu que me consome e me toma sem eu saber ou querer. Não posso ser mais do que o que sou, porque se fosse, seria outro e não eu. O que seria então! Uma forma imaginária que se rende, um centro sem prazer, um cem numero de outras coisas fora, sem pouso certo que eu lhe pudesse dar. Não posso ser esse que me dizes ser certo ser, esse é o teu ser. Eu sou aquele que está do outro lado, do lado que não queres ver...

domingo, 7 de julho de 2013

...

Existe um olhar nosso nesse teu reflexo em que te vejo. Alguma coisa que ambos vemos cada vez que o nosso olhar se cruza. Penso que o reconheço mas penso apenas...por isso te vejo e revejo tantas vezes quantas posso, quantas vezes tento, nem todas quantas quero, nem todas as que consigo. Foges e não te consigo  agarrar, puxar para mim e fazer-te ficar aqui. Talvez te conseguisse chegar, talvez te pudesse fazer querer, embora não me tivesses pedido  nada, ou talvez peças...
Estico o braço, no impulso primitivo do instinto, na velocidade do tempo em que decorre a acção. Um dedo se forma, na carne em que agora se encontra e assim que te toca, na imagem desse momento encontrado, e já não estás no que te vi. 
Sei que está aí, mesmo quando não te encontro, no reflexo em que te vejo!
Estranho como nos deixamos ficar, render, na inocência do momento, sem possuir, ao que nos agarrou. E passamos a viver nesse limbo de prazer alimentado-nos apenas com a sua presença, com o que o nosso olhar consegue ver.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Sem um beijo meu!"

Às vezes as estrelas estão tão longe, tão longe, que mesmo gritando elas não me ouvem. Dorme, fecha os olhos e não olhes. Esquece tudo o que tens para dizer e vai. Viagens, lua e ser, perdição na magia do ter eu desejo crer. Tão longe estão as estrelas do meu coração. Podes soprar-me ao ouvido e suspirar uma silaba, verter uma lágrima uma caricia que elas não virão. Elas estão tão longe, tão longe elas estão. Longe, numa ausência dura e crua sem um beijo meu. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Está a chover lá fora e eu sinto que chove outra vez cá dentro. Nasci no momento errado ou tudo me parece errado, fora de contexto sem pretexto que me diga, tens de ir para ali. Está tudo tão longe, tão fora do lugar que não sei se é verdadeiro ou real. A natureza castiga-me, fez-me nascer no lugar de outro, outro que estaria aqui igual, fez-me nascer demente da loucura do concreto. Se tivesse coragem ou mesmo o despudor necessário para, perguntaria a minha mãe,  na frieza obscura do momento porque estou aqui! Mas até para a morte é certo ter-se de se ser outro e sentir-se nada por  ele. Se sentires mesmo que só, compaixão o outro morre menos, demora mais a morte, sente o que sentimos naquela hora, o remorso e a dor que se sente quando se está do outro lado ainda estando deste. Matar é simples, não sou eu que o faço é outro, o segundo a seguir é que é difícil, o segundo a seguir aí é a nossa morte viva.
Continua a chover, as estradas alagam, os vidros opacam e o mundo fecha lá fora e eu abro o meu cá dentro. 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Somos o "produto" de todas as nossas vivências... ?!
- Não! Somos o que fazemos com elas nas nossas vidas...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Tu crias um tempo dividido no Tempo, e na tua desorganização tens a fantasia da certeza de possuir o que não tens mas como não sabes pensas e assumes que tudo tomas como certo. Não existem números que te ajudem a dividir a matemática da vida, ela é antes de nós sermos, tu e eu, já é formada, constituída por uma tempo que tudo cerca.
O Tempo não existe, o Tempo é o agora. O Tempo de ontem, o Tempo de amanhã é o mesmo que o presente. Eu sou o todo que se formou e o que há-de vir, não existo em separado como em folhas de papel rasgado, arrancado viciosamente à linha que me cozeu. Sou o puzzle, o conjunto inacabado que nem depois da morte se agrupa e tem final. Não sou segundo, hora ou minuto, sou momento, emoção e movimento, assente e presente no sentido ascendente. O Tempo é o agora no veludo carmim da carne que nos cobre mas mais fundo ainda, na pele que se vestiu e veste, na que há-de vir a seguir a esta. Todo o Tempo é um só.

domingo, 19 de maio de 2013

Serei  louca
Porque dizem que o que vi não é o que vi
Mas ou vimos o mesmo ou um de nós mente
Eu não estou louca
Que Mundo é este desde mundo
Que Reino
Que Praias são estas deste mar
Quem sou e onde vou
Não sei e tu o saberás

quinta-feira, 16 de maio de 2013

"Da ideia à poesia..."

Mas, não é...não é o certo e o errado, o que vejo do outro lado da ponte, o que tens e permites que assim é, pois se não fosse assim não seria. O que é nem sempre é como vês, como se apresenta, como desliza na tua fronte, debaixo dos teus olhos míopes das luz da manhã ou do entardecer. Não, não é, nem sempre é o quente da carne, o vento que corta no pescoço nu e presente de ti, completo em ti, que espera por ti, que te solta, te desamarra em aspirais ascendentes, até não saberes mais o que é...Não, não é...nem sempre é...
Mas, não é...sempre assim não é, se fosse sempre não entenderia, nos socalcos da estrada, nos abismos dos dias, nos intervalos dos tempos, na lonjura dos espaços, na imensidão dos mares que nos cruzam e separam, não saberia sentir, não entenderia o sentir que nessas horas te trazem mais perto. O pensamento e a arte da carne formam e fecundam num só, o que se fez da ideia à poesia...

sábado, 4 de maio de 2013

"Estou a ficar velha"

Quando era pequena para poder alcançar o meu pai tinha de correr, porque embora ele fosse pequeno em estatura parecia que tinha uma pernas de corredor e por muito que saíssemos mais cedo para a rua e eu perguntasse pelo pai, o pai não vem? A minha mãe sempre respondia - não te preocupes, ele consegue alcançar-nos, daí a pouco ele está aqui. E eu olhava para a curva da estrada e não o via, e voltava a olhar e já o via. 
Agora sou eu que tenho de minguar o passo para esperar por ele, olhar para trás à espera, já não posso ir mais cedo...Estou a ficar velha...

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Imaginação, perfeita ilusão de mim própria.
Peso grande para eu carregar
Que não posso perder, que não posso ganhar
Que não consigo matar
Que não morre
Me persegue dia e noite e me leva à exaustão
E não existe saída, não posso fugir
Fugir para onde, se onde é aqui que estou
Certa foi a hora em que nasci para isto
Ninguém me disse o que fazer
Ninguém sabe o que é ter
Nem eu nem a hora em que existo

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Era uma vez uma mulher, num tempo há muito longe de nós que se casou com um rico nobre. O Imperador do seu país. Ela era jovem e bonita mas não o amava. Casou para obedecer às leis e à família.  O seu marido era conhecido por ser duro e cruel para com o seu povo mas para com a sua mulher era dócil e gentil. Enquanto destruía aldeias, matava mulheres e crianças construía pequenos palacetes para ela. A mulher tentou mostrar e fazer ver a seu marido que o povo era como ela, que merecia a mesma atenção mas a cada investida dela o seu marido fazia ainda pior. E pior passou a ser a cada dia que avançava na sua velhice. 
Um dia a mulher vendo que a natureza do seu marido jamais mudaria e que a humanidade sofria nas suas mãos, fez com que ele bebesse uma poção que preparou e que o fez adormecer, calmo e sereno. Todos os dias ela lhe dava a beber o mesmo cálice estando ele ainda meio ensonado. Ali ele passou a viver a sua existência,  na sua cama a dormir sem fazer mal  algum aos outros ou a si. 
A mulher, essa, começou a governar por vez do seu marido, como se fossem as ordens dele, porque ninguém sabia que dormia, só ela. O povo teve paz, vivia em paz e ela escrevia num livro para as gerações futuras, pelo seu punho, com a caligrafia do seu marido, como se fosse ele a escrever, ensinamentos do que fazia para que o futuro aprendesse. 
Assim um duro governante se tornou o melhor de todos, pela realidade fingida de uma mulher que não conseguia mudar a natureza de um homem que não queria mudar. 
Quantas vezes protegemos alguém que nos faz mal?



sábado, 27 de abril de 2013

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Uma guerra começa ou acaba sempre que um inocente morre!
Sabes do que tenho saudades? Não? Eu digo-te do quê...Tenho saudades de mim. Mas eu perdi-me? Não!! Acho...não...tenho a certeza...nunca me encontrei...Tenho saudades do futuro, daquele sitio para onde vou...mais do que isso, tenho saudades de mim nesse lugar!!!
Lembro-me quando era pequena de me olharem, de me verem, de me comentarem, como se não estivesse ali, mas eu estava e fingia que não ouvia, porque na realidade as únicas pessoas que ali estavam eram quem olhava, eu...eu estava em outro lugar, num lugar bem distante...no futuro...eu estava no futuro...
Agora esse futuro é diferente, por vezes o encontro e por lá fico um grande tempo, e sou feliz lá, mas outras vezes a realidade me arrasta e venho a reboque dos que me puxam para trás...Se fosse criança poderia fingir que não ouço, seria apenas uma criança que não sabe nada de nada, uma como as outras, nada mais do que isso, mas já estou demasiado longe desse espaço de tempo...ou talvez por isso mesmo ainda não tenha de lá saído...seja como for não posso fingir...sou um adulto, os adultos não fingem...Que redonda mentira, não é?...Pois, eu sei!!!...
Por isso estou aqui e lá mas mais lá do que aqui...
Vemos-nos por lá se me conseguires encontrar...

terça-feira, 9 de abril de 2013

"De que cor será sentir?"...De que cor será sentir quando as palavras não conseguem dizer o que queremos, quando as palavras não passam de palavras já sem sentido ao queremos dizer, porque uma palavra só diz o que quero se a sentir e o outro a entender como é...Mas e se eu já não souber dizer o que sinto? Se as palavras já não chegarem para me explicarem e ficarem pelo nado-morto da ideia?....
"De que cor será sentir?"...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Estou feliz, o sol brilha e o barco onde navego nas calmas aguas do mar agita-se suavemente empurrado por uma leve brisa que sacode a o meu cabelo mas ainda assim deixando passar o calor, quente que passa através das nuvens sem lhes tocar para vir aquecer o meu corpo branco e sedento de cor. As gaivotas voam no céu azul, a areia é branca com leves traços de pérola e terra, ao longe as crianças correm onde as ondas lhe salpicam as pernas de água salgada e assim a vida se move comigo a olhar o horizonte levantando o braço ao alto para que a luz não me cegue e mas me deixe ver em tudo e tudo em plena harmonia com o que me toca...
E no entanto eu deixo-me cair, num cansaço que não sei explicar, porque não existe nada em concreto, nada real, mas assim me sinto, na melancolia dos dias, dos saberes e dizeres que torna tudo igual e sem sabor. Sou um naufrago do meu próprio barco que levantei hoje de madrugada para trazer ao mar, que desejava conhecer e agora me esmorece.  
Uma onda do mar é empurrada pelo vento e impulsionada pela agua, recua e sobe alto, agarrando e puxando toda a agua que encontra pelo seu caminho, na viagem que percorre até ao limite do mar, à rocha, à areia, aos pés de quem encontra, ali se permitir a morrer e recua vazia para dentro outra vez. 
A minha onda, a onda onde viajo não é essa, a minha onda é a curva da onda...a curva da onda...

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Às vezes as coisas são tão simples como respirar. Simples assim. Sem pensar, só agir. Agir no que já foi pensado e estruturado, automatizado, sem erro e agir. Apenas respirar. Sem esforço, sem te sentires a puxar o ar da rua, frio de uma noite de orvalho, quente e seco que um Verão que te queima os pulmões, sem esticares o peito, sem um movimento, sem o sentires, sem agitares o ar de fora com a tua respiração, sem suspiros, sem bocejos, sem nada, sem respirar no acto pensado. Só respirar. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

"Onde ela estará?!!..."

Acabei o trabalho, fiz as limpezas, tudo estava certo, no seu lugar. E então vi-a entrar, por onde não sei mas voava cá para dentro, para o lugar onde eu estava. Era linda, simplesmente linda, de cores brilhantes . Selvagem como era estranhei que ali estivesse. Talvez encontrasse o caminho de volta para o ar da rua, que poderia eu fazer, ela era uma borboleta e eu não a conseguiria apanhar, mesmo que quisesse. 
Então fui, fui ao que era suposto fazer e deixei-a, deixei-a ali, no caminho dela que se cruzou com o meu e fui ao meu. 
Coloquei os olhos ao chão e lá estava ela outra vez, agora presa, por trás das grelhas.
Está parada e ainda bate as asas mas não voa. Como é que ela ali foi parar! Como foi que se ali conseguiu esconder para agora não conseguir sair. Agora não posso soltá-la, primeiro tenho outras coisas a fazer depois eu vou e a liberto. 
Então o que estou a fazer, faz o que não estava à espera e liberta um toxico mortal sobre a borboleta e eu continuo a pensar, é só deixar encher e depois vou, depois vou, só mais um pouco....Ela agora está deitada, as asas estão coladas como uma e consigo ver as respiração pesada e cada vez mais espaçada. Está a morrer. 
Agora a liberto, agora me lembro de a libertar, agora que está a morrer. Levanto a grelha e entalo o braço ao tentar agarra-la com cuidado para não a partir. Partir o quê...Ela está a morrer... Levo-a à rua e pouso-a em cima de uma banca para que o ar a tente reanimar, mas parece-me tarde embora as suas asas se agitem um pouco. Não posso ficar e vê-la, já alguém me chama e tenho de ir. Olho outra vez para ela e não sei se é o vento que a abana que é ela que está a lutar pelo ar que lhe sopra aos pequenos pulmões. Vou embora, faço o meu trabalho, cumpro o meu dever e agora que saio já não a vejo, não sei se voou, não sei se morreu, não sei se o vento a levou. Estava demasiado ocupada para me ocupar com ela e agora ela é todo o meu pensamento. Onde ela estará?!!...

terça-feira, 2 de abril de 2013

"A ela, só a ela e não eu..."

Uma vez, devia ter uns seis anos, fui com a minha mãe visitar uma rapariga já com quinze, vinte anos, que estava doente e internada num hospital. Era bonita, de cabelos negros e inteligente. Simpática, foi nisso que reparei enquanto a minha mãe e a mãe dela conversavam com ela. Ela quase não ouvia, olhava para a rua, para o sol que batia na janela, para as pessoas que passavam na rua e respondia em monólogos ou então assentia com a cabeça para não ter de se distrair com o som da sua própria voz. Ia quando desviava o olhar desenhando uns papelinhos que depois coloria. Eu pedi para os ver e fiquei maravilhada, era tudo perfeito, não era um desenho torto e estranho como os meus que saiam dos limites, eram perfeitos. Eu olhei para ela e sorri e disse - tu consegues fazer isto... Mas ela olhou para mim, colocou os desenhos para o lado irritada e disse que estava farta de estar ali, queira se ir embora... - Deixem-me sair...
Ela transformou-se na minha frente, o que ela era já não era e mesmo assim ainda não a via, porque eu não compreendia como alguém podia estar zangado quando conseguia fazer o que ela fazia, ela era perfeita e eu queria fazer o que ela fazia, como ela fazia....Mas ela era mais do que um desenho era o que estava lá fora, era a tempestade dentro dela e eu apenas via as linhas coloridas e ela queria que a visse a ela, queria que eu gostasse dela por inteiro e não apenas o bonito do que via. 
Se eu visse o feio dela, viria o feio de mim, e se gostasse do feio dela talvez também  gostasse do feio em mim e viria que não preciso ser outro mas apenas eu.
Não me lembro do rosto dela, não me lembro do nome dela mas lembro-me dela como ela queria que eu a lembrasse. A ela, só a ela e não eu...

sexta-feira, 22 de março de 2013

"Quando olho para ti"

O que sei quando olho para ti é que gostava que estivesses longe. Que não estivesses aqui mas do outro lado, do lado onde não me visses. Porque o que me incomoda não é o que dizes mas o que deixas por dizer e que te sei  ler sem dizeres uma palavra, no corpo que se move debaixo da tua roupa, no gesto surdo em que te mexes, no olhar cego em que me dizes olhar, no que me falas vou embora e te inclinas para a frente à espera que te chame. Sabes que não te quero aqui e por isso insistes em voltar. O que invejas em mim para me imitar só tu o vês, não conheço essa para quem olhas, vês alguém que não vejo e queres ser esse que não sei quem é. Preferia que te fosses embora, cada vez que olhas para mim, sinto o que sentes por mim, e estamos tão afastados nestes dez centímetros em que nos falamos que parece que nunca nos conhecemos. Ou conhecemos? Tu conheces alguém a quem fizeste adversário sem aviso, para na aniquilação dos dias se transformar em ti, alguém que achas que sou, mas tu és tu não eu. Eu conheço, eu conheço a ti, ou o que queria que fosses, o que achava que eras, no que te inclinavas para mim, no que eu pensava ou sonhava que se abria para mim. Não era, não és, e preferia que te fosses embora, não porque me incomoda o que dizes mas o que não dizes, porque quando me olhas me doí que me olhes, que me odeias ao ponto de teres de fingir que me amas. E não sei se foste tu que te transformas-te, se fui eu que te criei!!...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Perdi-me nos fios do Tempo
Em que as Moiras me fiavam o destino
Por ter cortado as cordas
Que me conduziam nas mesmas voltas
Acordei na hora do orvalho
Na primeira hora do dia
Uma pétala de rosa me trouxe
Um beijo em pensamento triste
Se te dissesse sim saberias que te disse não
Se te dissesse sim seria uma mentira
Te digo agora em vez de um sim um não
Para que a hora do sim não esteja perdida

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Comecei a falar tarde, bem, mas tarde. Não estava zangada com as palavras, compreendia-as e assentia-as em mim, mas não lhes respondia por sons. Respondia no grito do silêncio.
Os meus pais achavam-me graça e o meu pai dizia - Titi vai ali buscar-me os chinelos! E eu ia. - Titi, vai buscar o café do pai! E eu ia. Sem dizer palavra, e ia. 
Porquê Titi, de onde vem o Titi...Não é o meu nome mas eu ia. Ia e achavam graça! Eu não falar mas compreender e ir. 
Ainda sou uma criança calada. Calada. Muitas vezes calada. A calada que vai. Que não fala. E eu tenho tanta coisa para falar. Explicar em movimentos de sons ritmados o que digo quando estou calada. 
Porque eu falo. Oh se falo, tanto que por vezes já nem me posso ouvir e tenho de me calar. Apenas falo cá dentro, em registos inadiáveis. Porque é que não falo lá fora???..... 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

De manhã ao frio, quando se sai de casa, a pele gela no rosto, como se uma  mão fria nos tocasse. Abro a boca e o calor do corpo sai em vapor quente mas por ter a boca aberta os dentes também esfriam e ao caminhar roçam na parte interior do lábio inferior. A pele aí é diferente, mais macia, talvez pelo constante contacto com a saliva. Roça, emudece, esfria e por entre os dentes o vapor quente surge. Roça e esfria e sem pensar a língua surge entre o lábio e o dente, quente e frio, mole e duro, seco da pele de fora, molhado da pele de dentro. Caminhas e a oscilação de tudo faz esquecer o frio na língua que se agita....

sábado, 9 de fevereiro de 2013

"As árvores também falam"

Disse para a criança a meu lado.
-Anda comigo. Vamos ajudar uma amiga que está doente.
-Uma amiga? Que amiga?
-Uma amiga dos dois e de toda a gente, embora nem toda a gente seja amiga dela.
-Como é que ela é?
-É grande mas já foi pequenina assim como tu.
-Assim como eu?
-Sim, assim como tu.
-E onde é que ela está?
-Está ali na praça, ao pé do banco onde nos costumamos sentar.
-O que é que ela tem?
-Está doente.
-Mas o que é que ela tem?
-Um caroço nasceu-lhe no tronco que a faz ficar triste e murcha. Nada a anima, temos de ir ajudá-la.
-Sim, eu quero ajudar.
-Então vamos lá, ela está à nossa espera.
-Sim.
-Olha, olha ali ela, no meio da praça.
-Onde? Não vejo nada!!!
-Ali! Mesmo ao pé do banco de jardim, no meio da praça.
-Mas eu só vejo uma árvore grande lá!!!
-Bem...!! É essa a nossa amiga!
-Amiga?
-Sim, ela é nossa amiga.
-E como sabes que está doente?
-Ela disse-me.
-Mas as árvores não falam!!!
-Falam sim, nós é que nem sempre a ouvimos. Gostamos mais de ouvir outras coisas.
-Então e como vamos ajudá-la?
-Fácil! É só preciso tirar este fungo que se agarrou à arvore e depois ela fica bem.
-Oh!! Mas ele é bonito e a arvore já é velha. Não o podemos deixar!
-Nem tudo o que é bonito é bom. Se o deixarmos ficar ele a matará e ela já não poderá mais ser tua amiga.
-Porque é que ela é minha amiga?
-Porque ela dá-te sombra nos dias de calor, oxigénio para respirares...os passarinhos que tu gostas de ouvir cantar fazem ninhos nos braços dela....
-Oh!
-Ela é nossa amiga!
-Se eu a abraçar achas que ela me ouve a dizer obrigado?
-Claro que sim. Vamos abraçá-la os dois.
-E ficamos os três abraçados!!...A ouvir-nos conversar!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"A alma da gente"

A alma da gente que a gente se esquece que tem. A alma da gente que de sorte existe na noite escura resiste e não nos deixa esquecer. Esquecer a noite, esquecer o dia, esquecer sabe-se lá mais o quê que a alma da gente tem. A alma da gente. Sempre a alma da gente que a gente acha que conhece, que acha que apalpa, que acha que está lá. A alma da gente que a gente não conhece e que se por alguma triste sorte a tivéssemos de procurar não saberíamos se era a nossa se a do vizinho. A alma da gente.
Mas o que é a alma da gente se te perguntarem, que lhes dirás que és! Procuras uma lista de adjectivos e significados, daqueles que dizem tudo e ninguém intende e despejas no outro esperando que não te pergunte o porquê e o quê. Porque o que lhe dirias se fosse a verdade, que se quisesses estar em longas delongas lhe dirias que não sabes o que és, que alma é essa que dizes que tens, a alma que a gente tem. 
Toda a gente tem dizem eles, eles que nunca a viram e dizem que tem porque lhes disseram que têm e se calhar até temos mas tu não sabes onde está, como está e como é, o que tu tocas é só o véu que a cobre. E não lhes podes contar sobre o véu, porque esse não é, não existe, o que é está por baixo,  essa é a minha e a tua, essa é a alma da gente, a alma que a gente tem.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Como é que te sentes, Emília?

O tempo parou, parou de rodar e eu parei com ele! Não sei onde estou, que lugar é este que me cerca, que chão é este que calco de pés descalços, que água é esta que corre, que céu é este que me cobre. Não sei nada! Estou parada essa é uma certeza mas certeza de quê se ainda agora vos escrevo. Vocês estão em mim, não posso esquecer, meu arco-íris dourado, meu sol sem fim...Sim, o amor não pára, não deixa de rodar, ainda que eu lance ancoras ao chão e diga alto. Essa inocência na doce imaginação minha em que vos crio, existe, é real e verdadeira, ainda que digam que não, que é fantasia, pura imaginação de artista inventor do nada. Risos, brincadeiras, círculos de festas e música vos embalam, na roda em que vos cerco!