Comecei a falar tarde, bem, mas tarde. Não estava zangada com as palavras, compreendia-as e assentia-as em mim, mas não lhes respondia por sons. Respondia no grito do silêncio.
Os meus pais achavam-me graça e o meu pai dizia - Titi vai ali buscar-me os chinelos! E eu ia. - Titi, vai buscar o café do pai! E eu ia. Sem dizer palavra, e ia.
Porquê Titi, de onde vem o Titi...Não é o meu nome mas eu ia. Ia e achavam graça! Eu não falar mas compreender e ir.
Ainda sou uma criança calada. Calada. Muitas vezes calada. A calada que vai. Que não fala. E eu tenho tanta coisa para falar. Explicar em movimentos de sons ritmados o que digo quando estou calada.
Porque eu falo. Oh se falo, tanto que por vezes já nem me posso ouvir e tenho de me calar. Apenas falo cá dentro, em registos inadiáveis. Porque é que não falo lá fora???.....
... Porquê?!...
ResponderEliminarPorque mais cala no mundo, quem mais o mundo conhece!...
A criança cala, quando sente que pouco falaram com ela, na primeira infância. Pouco se interessaram pelos seus problemas mais íntimos e mais pessoais...
Dizem os adultos...
"Não percebe ainda, não vale a pena estarmos a conversar com ela!... É muito criança!..."
Esta percepção é um erro, em termos de educação!
A criança apercebeu-se intuitivamente que não (nunca!...) teve interlocutor à altura do que sentia e pretendia comunicar. Interclocutor que acolhesse as suas palavras.