Uma vez, devia ter uns seis anos, fui com a minha mãe visitar uma rapariga já com quinze, vinte anos, que estava doente e internada num hospital. Era bonita, de cabelos negros e inteligente. Simpática, foi nisso que reparei enquanto a minha mãe e a mãe dela conversavam com ela. Ela quase não ouvia, olhava para a rua, para o sol que batia na janela, para as pessoas que passavam na rua e respondia em monólogos ou então assentia com a cabeça para não ter de se distrair com o som da sua própria voz. Ia quando desviava o olhar desenhando uns papelinhos que depois coloria. Eu pedi para os ver e fiquei maravilhada, era tudo perfeito, não era um desenho torto e estranho como os meus que saiam dos limites, eram perfeitos. Eu olhei para ela e sorri e disse - tu consegues fazer isto... Mas ela olhou para mim, colocou os desenhos para o lado irritada e disse que estava farta de estar ali, queira se ir embora... - Deixem-me sair...
Ela transformou-se na minha frente, o que ela era já não era e mesmo assim ainda não a via, porque eu não compreendia como alguém podia estar zangado quando conseguia fazer o que ela fazia, ela era perfeita e eu queria fazer o que ela fazia, como ela fazia....Mas ela era mais do que um desenho era o que estava lá fora, era a tempestade dentro dela e eu apenas via as linhas coloridas e ela queria que a visse a ela, queria que eu gostasse dela por inteiro e não apenas o bonito do que via.
Se eu visse o feio dela, viria o feio de mim, e se gostasse do feio dela talvez também gostasse do feio em mim e viria que não preciso ser outro mas apenas eu.
Não me lembro do rosto dela, não me lembro do nome dela mas lembro-me dela como ela queria que eu a lembrasse. A ela, só a ela e não eu...
Entender os outros não para todos! Tem de haver "química"...
ResponderEliminarNada existe de feio em ti. Nunca houve.
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