(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

"Chapéu-da-chuva"

Tenho um chapéu que me guarda da chuva, que não uso. 
É vermelho, cor de fogo, que guardo arrumado e fechado! 
Prefiro a chuva que me molha, me entranha na carne e me enche até há alma. Prefiro o vento que arrasta os cabelos para fora do lugar certo, de se estar bem e correcto, que os mantém além do estado escrito, do desenho pintado dentro das formas alinhadas. Amo as folhas fora do sítio, inundando as estradas de cobertores estranhos ao que aos olhos no parecem, ao olhos dos que apenas conseguem olhar ao que está em frente e não conhecem o doce prazer de as poder calcar de pés descalços, de se dar a poder e deitar sobre elas, como na cama de onde ainda hoje te levantaste, de onde ainda hoje não querias sair. 
Dizem que a chuva arrefece e esfria, a mim me aquece, como fogo ardente e vivo, me queima por dentro. E é de dentro que sai o que sou, não é de fora o que me molha e me faz correr, e cercar-me de afectos, que ao corpo se pede. É o de dentro que acolhe a chuva, a faz correr nos rios do sangue que me faz viver a vida, a toda a água que viaja por terras e mares, e volta para mim, toda a história do que se disse e não disse, do que se criou ou não. Está no meu coração, trazendo-me a casa, fazendo-me forte. 
Hoje é o dia antes de tu vires e alguma coisa cá dentro me faz ter saudades, de ainda não estares cá, onde estou, aqui, sem chapéu que me guarde, sem chapéu que me esconda, dela que quer em mim entrar e saber mim e eu dela saber, estar dentro da minha pele, saber o que sei, viver o que vivo, sentir o que sinto. 
Tenho um chapéu-da-chuva, vermelho, guardado, que não uso! 


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