(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O meu lugar é só. Em todos os lugares tem gente, e em toda a gente me procuro, nas multidões me refugio, em busca de mim. De todos eles fujo, porque em toda essa gente estou só, de uma previsibilidade atroz que me corroí a alma de não saber onde é o meu lugar.
Não sou pássaro de gaiola que pia e se habitua ao som que emite. O meu piar é outro e tudo em mim se agita. Quero ser de fora, num agora sem lugar em que tudo é nosso e somos em todo o lugar.
Tudo tem o seu lugar, quer longe, quer perto, em cima, em baixo, em qualquer lugar que se ensina. Estando longe sou a sombra que se quer viva e a mim me exige que em todo o lado se reveja. Sou uma daquelas horas de passagem, monótonas, sem cor. É preciso que a luz surja e em mim toda se penetre para a que a silhueta se mostre. Sou uma daquelas coisas que a si se exige que regresse uma e outra vez como a si fosse chamada a impor de um tudo quando em tudo não aparece nada. Não posso pedir que venha, não posso dizer que tudo é certo, e que nesta viagem do agora todo o incerto é uma certeza. É a imprevisibilidade que torna a luz a vir, que a traz ao seu tempo e que nos faz surgir das sombras aos nossos lugares. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Foi em nós a certeza do descontentamento que nos fez olhar para tudo o que existe com uma certa frieza na alma. A alma que nos procura, que nos pressente sem ainda ai estar. Ela é rude, ela é leveza, é o vento que agita a folha da árvore que atravessou um longo Inverno. Tudo o que não chega, tudo o que ainda não está lá, tudo em que te fazes e desfazes, tudo isso e o restante também. Todas essas coisas não chegam para chegarmos ao sitio de onde nos reclamam. A certeza desmedida de ainda não estar perdida te chama como a aurora do sol nascente, como o agora presente. 

Era luz, a luz que via a meus pés. Era uma luz brilhante, que dentro dela deixava passar a vida que para além dela eclodia. Tudo há minha volta era escuridão, pesado cerco de  mim própria em que tudo era mais pesado do que o que devia. Queria entrar por aquela luz adentro, fazer dela minha e minha só por inteiro. Via-se gente do outro lado, vultos que passam de lado a lado, sem de mim saberem que ali estava. Ouvi todos os sons que pela luz passavam como se tudo o que cá de fora está, não fosse mais nada. Quis entrar, mas não entrei, quis saber quem era, mas não perguntei. No meio da escuridão outras luzes surgem, outros tempos vêm, outras histórias chegam. A mim não me chega uma, quero ser tudo e todas, em todas estar, em todas ficar, mas ir, quando outra mais além me chamar. Todas me chamam, em todas sou um pedaço de um todo.
Ouvi agora, alguém bater, não na porta, mas do outro lado da porta, na presença de alguém, no querer, no antes do querer, na ideia que lhe foi revelada e antes de o saber já o sabia, sem saber que queria, mas por ideia infinita do ser! Bateu! 

domingo, 2 de novembro de 2014

Verdade que não sei quem sou, não existe em mim aquela regra, do certo e errado, do que é indicativo ser. Se a mim me chamares, responderei ao nome com que me chamas, sem que dele goste. Não é esse o meu nome, esse é o nome com que gostas de me chamar. Deixo-te que o faças porque gostas dele. Mas eu não. Esse é o nome de outra gente e não da gente que de frente de ti te olha. 
Não sei quem sou, não sei o que tudo em mim se encerra, tudo o que em mim está. Sei o que se revela em minúsculas partículas de um todo, que a pouco e pouco nasce e se refaz. Não estaria aqui se não fosse este eu, estariam aqui outros no meu lugar, com outros assuntos, outros resumos, que ao fim e ao cabo a tudo vai dar ao mesmo. De todo o resto, não sei de mais nada! 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O tempo que ainda não gastei.

Tantos anos, em tantos sítios e espaços, que queria que todos fossem um e eu em todos um só. A criança olha as estrelas, as árvores e as flores. Colhe cada uma delas sem o peso da consciência e é feliz, sem pesos, sem o certo e o errado, de onde nasce ou se fez. Assim o quer assim o faz. Tenho saudades desses tempos, de antes de o ser já o era, e sem o saber assim o via. Era feliz sem ter ao que me importar, sem ter ao que me fazer e desfazer por causa das consistências da Vida. Ninguém quer crescer, mas todos o fazemos de uma maneira ou de outra, mas a mim falta-me ainda o tempo em que não fui, em que cresci sem querer e sem me perguntarem, falta-me o tempo, o tempo que não gastei e que algum outro de mim o roubou, com o consentimento de quem me vigiava e a nada sobre isso disse. Me vendeu pelas aparências, do que toda a gente faz e continua a fazer, e a mim, que a mim ninguém de mim perguntou nada do que queria ou sentia, a mim que trataram como um nada, que não sabe de nada, a mim me resta sonhar com esse tempo, o tempo que ainda não gastei! 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O meu pai!

Joaquim Alves Simões


Decorria o ano de 1973 e havia na estação da Pampilhosa, concelho da Mealhada, uma cantina na qual eu trabalhava diariamente. 
Um dia por volta das duas horas da manhã, dois emigrantes vindos de França (que eu conhecia como bons falantes da Língua Portuguesa, pois já os tinha servido antes de emigrarem), sentaram-se à mesa e fizeram os seus pedidos.

Um pediu uma cerveja, que por esses tempos custava 4,50 escudos. O outro pediu uma bière, ao qual eu disse que tinha de pagar 5,00 escudos.
O Senhor que pediu a bière perguntou irritado porque é que tinha de pagar mais caro do que o colega se tinha feito o mesmo pedido!

Eu respondi – Ah sim!...È que uma cerveja é mais barato do que uma bière!!!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Escrevo, no silêncio, nos intervalos das sombras, nos riscos das linhas, nos espaços das letras. Escrevo quando não me ouves, quando não te digo nada.

segunda-feira, 26 de maio de 2014


Não me sinto em lado nenhum, em lado nenhum é o meu posto, o chão em que sente, e me assente de saber que é ali que quero estar! É ridículo pensar que nasce tão igual se sinta assim tão longe e diferente...mas é assim que me sinto. Sem parte nenhuma, sem coisa igual a nenhuma, tudo tão longe e distante! 
Guia aberto de uma longa travessia, num eterno sol ardente, de que não há memória, de que não há presente! Estando eu assim ausente no meio de toda essa gente, assim me chamo eu ainda de gente que não sei ser outra coisa, embora seja o que me desperta o sentido de ser! 
Não há prazer ou comunhão se não se sente onde se está, se as portas estando abertas parecem eternas fechadas sem ponto de saída ou fuga, e mesmo que fuja para onde iria senão em mim, que me encontro sempre pois não tenho para onde ir. Onde estar, sem mais demoras, cair e deixar cair, o que se é, o que sabe, o que não...!!
Nada a mim me toca, miragem ao longe que nunca se chega a tocar. Foge da minha vista e me deixa só! Só desde o inicio e ainda assim não me habituo ao não saber quem são os outros, o que fazem por aí, que deambulam e não me dizem nada! É a minha presença que me faz em mim pensar assim, não me sentindo em lado nenhum e em nenhum lado querer estar!
Estive ausente em toda a minha plenitude, imagem de mim fora de mim numa curva enrolada, sem ponta nem medida. Era o que era sem o ser e a mim chamava o que seria se ainda o fosse. 

domingo, 25 de maio de 2014

Formato real sobre todas as coisas invisíveis desta nossa natureza absurda do tempo em que se está. É a parte em que tu te apresentas, que te chama e repete o teu nome como se de tábua rasa fosse aquilo que és. Linhas abertas, em fuga, no horizonte perdido da linha do olho. Aquele caminho ardente, iluminado por mil tochas, num sentido certo de que tudo o  que apanho é meu.
Existe uma tremura em tudo o que se sente, em tudo o que se quer real, numa harmonia descontrolada, do caos organizado!  

quinta-feira, 22 de maio de 2014

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Paixão de uma outra noite era o que me parecia ser, o que entrava nos meus ouvidos, sussurrando vozes de outros tempos nas memorias esquecidas do passado. Essa estória era agora, era o que me encontra sem querer, tropeçando no dizer. 

terça-feira, 20 de maio de 2014

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Eu estava num certo lugar, a uma certa hora, num certo espaço, que agora não me lembro nem quero recordar! Mas estava. Estava, e estava como se não estivesse. O que via era tudo em volta num nevoeiro cerrado, frio e vento e gelo e eu não me lembrava. Não me lembrava ao que era, de que era e de onde vinha, o que tinha sido e porque teria acontecido. Ninguém me entendia! Riam, zombavam, ridícula figura era o que eu era...Sou, sem a constante mudança de quem era e continua a ser! 
E perguntas tu onde estás, que testemunho é esse que te incomoda a todas as horas de entrada ou saída, aquilo que não te faz dormir, o que te traz as noites ensoalheiraras e mornas sem pinga de paixão, ardor ou sabor de quê.
Pensando assim, na sorte e na morte, no que faz crescer e morrer, ao que tudo indica que é o prazer de se estar não se estando, que sem certezas nos encontra no cimo de tudo o que nos mendiga os sentidos  que nos acolhem e aconselharam, medíocres, hipócritas, egoístas do nosso ego e a tudo olha e a tudo faz seu. 
Queria a tudo render, a tudo saber! Se a estória original era a que tinha escrito, se a ela a tinha reescrito e feito dela escrava da minha já tão pouca memória. E era assim que diria se a ela, ela, me deixasse dizer o que tinha cá dentro desde o principio que me lembro que sou eu que escrevo e não outro, outro pesaroso ser que acha em mim nada, nada, vulgar e seco. Sou eu que escrevo em terreno, fértil e areado pronto para ser semeado, colhido e voltado a plantar. No lugar, onde estava aquela hora!!

quarta-feira, 7 de maio de 2014


Nasci depois da carne ser exposta à luz, depois do grito da vida em mim ter surgido, antes das palavras! 
Palavras que sempre escrevi sem papel ou tinteiro, antes de saber dar-lhes uso! Sei do dia em que me entendi como gente, que era gente, que olhei para mim com os olhos dos que de fora me viam mas que não me entendiam. Não entendiam. Sabia que estava, que não era  boneca nem trapo, estátua ou enfeite. Era gente quente que entendia, gente que sabia que era viva e gente!
Há quem diga que é brincadeira ser gente! Com adornos e coisas que entretêm deve ser divertido brincar a ser gente! Mas nem toda a gente nasce gente, é preciso ser-se gente para se saber o que é ser gente! Escrevo em mim desde esse dia, desde o dia em que de mim falavam, como se ali não estivesse, ou não tivesse entendimento para o saber, mera criançola que de nada sabe e de tudo se diverte!
O Tempo faz em si as vontades e não deixa ao Homem em si se rever as estórias que nos outros mais pequenos encarna, não sabe, não quer saber, não se quer lembrar que antes também já foi gente!...Eu, não me quero esquecer! 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A loucura é apenas uma expressão! O que existem são vários níveis de sanidade!

quinta-feira, 1 de maio de 2014

- Sou corajoso! Não tenho medo de nada!
- Ter coragem é enfrentar o medo e seguir em frente! Como sabes se és corajoso se não tens medo?

domingo, 20 de abril de 2014

O tempo está como a gente quer que ele esteja, é a gente que faz o tempo não é o tempo que faz a gente!

domingo, 6 de abril de 2014

"Duas flores"

Duas flores num copo feito jarra, estão no meu quarto, perto da janela! Uma virou-se para dentro, a luz lhe fugiu e morre cada dia um pouco mais. A outra virou-se para fora, a luz absorveu e está viva e reluz. Apanhei as duas flores no mesmo dia, no mesmo instante, no mesmo momentos, pela mesma mão, juntas uma à outras, cruzadas uma na outra! São diferentes! Iguais mas diferentes! Têm as mesmas cores, o mesmo tamanho e adereços, juntas nas mesmas medidas e proporções, longe de si nos pensamentos ou ideias. As duas pretendem a liberdade, uma a liberdade para dentro que a faz morrer cedo, a outra a liberdade para fora que a faz morrer mais tarde! Qual desses dois caminhos o mais certo! Nenhuma delas mo dirá! Terei de o descobrir sozinha!  
Não há nada mais perigoso que um homem de princípios!

terça-feira, 1 de abril de 2014

Ouço passos vindos no meu caminho ou talvez seja o vento que ouço assim baixinho! Ouve, escuta o que tenho para te contar, pára e escuta o tenho para te dizer! Mas não pára, tudo em redor roda, tudo em volta anda, sem se querer quietar à minha voz, se sequer se querer perguntar ao que me vá, sem se importar aonde quer que está!  O vento sopra assim baixinho, muito mais longe e barulhento ao meu ouvido e nem te sei dizer a como tudo vai na minha ideia! De fora vê-se a luz da minha janela, e é de noite e a luz nela passa como passam as gentes por baixo dela, sem nela tropeçarem! São vãs as idas, as conversas aleatórias de histórias recicladas e ideias já mordidas por diversas vezes e agora mais uma vez cuspidas fora! Tudo lhes é certo para as gentes que passam, fingem-se heróis conquistadores de medalhas e glorias já cumpridas por outros, mas que a memória gasta já não faz lembrar! Querem a imortalidade do agora, do presente assente na visão plena do futuro ridículo da felicidade, porque neste momento não o são! Espera-se o momento seguinte e o outro e o outro...e o demais não vem, porque se assenta a pedra no futuro ainda não visto e se deixa o presente palpável e mesuradamente aguerrido de fora! 
Está silêncio outra vez, por hora chove e o pensamento me imunda de todas as palavras às quais não consigo fazer a sua tradução! Escreve-se sem papel ou tinta em todo o espaço da memória. Lembro-me do velho Freixo à chuva, que julgavam morto e que a seus pés fizeram nascer um outro novo. Lembro-me de mim e de minha mãe, à revelia arrancarmos do seu tronco os fungos que o comiam. Está vivo e eu espreito por ele. O outro se curva a seus pés! Ele é a memória de um velho que morreu sem nada seu a não ser a árvore que plantou num terreno seu que deixou de o ser, para uma mulher amada que nunca chegou a ser! A vida do que sempre amou! Chove por estas horas, o vento se levanta e não me deixa dormir! O Freixo ainda dorme!...

segunda-feira, 31 de março de 2014

Quando é de noite, e a noite nos envolve, nada há a fazer senão olhar para a luz que existe há nossa volta. Queria ver o nascer do sol, mas as estrelas brilharam primeiro.   

sábado, 29 de março de 2014

Não é porque são injustos para connosco que temos de ser injustos para com os outros! Se queremos ser diferentes não há o porquê da razão de sermos iguais aos que criticamos! Não há um só justo! É na aprendizagem que se encontra o caminho de volta à estrada!  

quinta-feira, 27 de março de 2014

Dentro da árvore oca está o eco da minha voz! Mas o que eu queria mesmo era falar com ela!

quarta-feira, 26 de março de 2014

"A flor que nasce no meu jardim"

Existe em mim o desejo de arrancar a flor que nasce no meu jardim. Mas quem disse a mim que é meu aquilo que nunca deixou de ser seu, enganou-me. Não pertence nada a este meu ser que não seja a própria voz de quem em mim me fala, tudo o mais que existe em si mesmo o vale sem que meus olhos o tornem em realidade e em minhas mãos lhes façam nascer vida. Não é a flor que quero arrancar, não é à flor que acho bela, é dentro dela que está toda a beleza que em mim pretendo a conquistar e arrancar há terra, para que na minha posse permaneça e me faça pertencer, crescer e viver a mesma alegria. Que todas aquelas cores se façam em mim sentir. É uma flor do campo, erva daninha de jarra, principio de toda a simplicidade da matéria da vida que se pretende a conhecer! 
Existe em mim uma força que me impele a ela conhecer, entrar em todo o seu ser como se em mim entrasse, percorrer todas as curvas do seu haver e ter mais do que a presença calva da estrutura física da natureza! É todo o seu âmago, toda a centelha de vida que aí está, toda a luz que em si retêm, que eu desejo de arrancar a flor que nasce no meu jardim.

terça-feira, 25 de março de 2014

Escuta! Todo o silêncio em ti! Escuta!
Ouves agora? Isso é o que tu és! A escolha que fazes!

segunda-feira, 24 de março de 2014

"Pobre"

Pobre é pobre ou coisa nenhuma certa, vive dos favores que os outros lhe fazem, por perdão ou mendiguisse. É de espantar, pois levanta-se sem igual, sem modos ou maneiras, de coisa que lhe pareça mal. Tem na teia a certeza, da tela também saber pintar, pois o mundo assim se lhe apresenta como o homem do pincel que comanda a natureza. Ora, era uma coisa destas assim que eu precisava para mim, um balde e uma moeda para fazer chinfrim, que me acordasse da moleza de já não saber o que é ser pobre! Foi assim no outro dia, acordei como de agora e deixei de entender ao que vinha por aqui a pretender fazer! Ser pobre é assim, sem ter principio, meio ou fim, é o sentir no momento tudo o que se passa pela vida fora! Ser pobre na ausência de tudo o mais que não importa, que tudo o mais é querer, e querer com certeza de querer de ter ou ser! 
Somos sacas de plástico deitadas fora ao vento, depois de tudo o que se queria ter sido retirado! Assim é!...

terça-feira, 18 de março de 2014

Estou cansada, da igualdade das coisas, de tudo nascer com a mesma face. Há dias em que me parece que um vento se levanta depois de uma viagem longa e consegue arrastar o pó que tudo cobre para longe. É ideia de pouco tempo e tudo volta há normalidade do igual em menos de um pensamento.
Em mim no entanto permanece a ilusão, que daqui a pouco tudo ao largo é diferente. Assim como o mar abraça a terra, assim eu abraço essa ideia! 

"Tudo aquilo que em mim se cala"

Caminhar na direcção do caminho, partir na viagem sem fim dos sonhos aleatórios, ilusórios que nos surgem nos intervalos dos silêncios dos dias, nas paragens da noite mundana, recente de tudo o que se diz. Diria que é de passagem mas nem por hora o direi. Seria mentira e a mim não o posso dizer. Ouço passos que na sua origem não sei de onde vêm. Mas chega. Chega e se demora nas encruzilhadas dos dizeres, nas memórias dos fazeres.Não te podes colocar no espírito das coisas, elas nunca virão se esperares por elas. São fugidias, gostam de se esconder, mas à vista, numa brincadeira de criança traquina, na sabedoria da idade avançada da experiência de um velho. É que já cá existe já muito tempo a ideia dos dizeres, dos pensares e dos quereres. E não há mais nada a fazer se não pensar e querer ser ser aquilo que realmente se é sem o saber. Posso até pensar que não, que tudo é imaginação, ilusões das noites esquecidas, mas se assim me fala o coração, como posso eu dizer que não é verdade, tudo aquilo que em mim se cala. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Espreita pelas grades da tua casa o que vai do outro lado da cerca. Há erva verde que cresce sem que se dê conta, porque a gente não quer saber. Estamos deitados nela e o que importa é a fundura de terra que fazemos ao deitar nela. É uma cama quente esta, está quente na rua, muito mais do aqui dentro. Lá fora o sol descansa nas peles desnudas e o vento arrasta os cheiros dos fogões a lenha. Assim sobre a erva o sol me aquece e me esqueço do que estou aqui a fazer, já não é tempo nem hora, nem passado nem futuro, é-se o que se sente na pele, naquele momento, que se sente que se pertence a tudo, e tudo nos é querido, é-se feliz naquele momento. 

segunda-feira, 3 de março de 2014

"Trabalhador"

Tempo útil de trabalho é onde se gastam os dias e as noites se consomem a pensar nele. Um trabalhador é feito de outra "massa" de outra substância da qual foi alimentado, desde que se lembra que existe. Ao outro, ao de cima, diz que não pode, que lhe doem as costas, as pernas e os dentes, menos a língua. 
Ao trabalhador não lhe doí nada, nem as pernas, nem as unhas, porque é feito de outra "massa", uma "massa" de punhos de ferro, braços esculpidos de troncos fortes da mais dura madeira, peito forte de pulmões enchidos de ar fresco e refrescante, sorriso aberto de quem diz: - Deixa-te estar, não te incomodes, eu consigo!
É fácil dizer que não se quer, encostar-se ao lado e esperar que outro alguém faça o que tem de ser feito, mas não para quem tem o trabalho dentro de si, e se consome se o que deve ser feito não o é, porque é arrastado pela preguiça e as mesuras de quem tem mais o que fazer, (que é coisa nenhuma ou pouca talvez) do que o que deve fazer.
É esse o dever, o dever do direito e direito do dever que define um trabalhador! Porque acima de tudo um trabalhador, tem a sua coluna vertebral, sempre na vertical!  

"Ridículo! "

Ridículo! Tudo o que se faz é ridículo! É ridícula a forma como se veste ou se despe! É ridículo te preocupares, é exagero quereres o bem porque mais ninguém o faz! É ridículo que queiras saber, ridículo que não faças como eu! É ridículo que percas tempo para pensar, melhor não saber, gozar a vida, alguém há-de aprender, os desocupados, os que não têm vida. É ridículo tudo o que se faz porque não é igual ao que eu faço! É ridículo dizer certo, com os acentos, esses e erres, para quê? É ridículo ajudar! É ridículo te queixares, exigires o que é teu de direito, os teu deveres e quereres, tudo é ridículo!... É ridícula a ideia, é ridículo o estar, e sentar, o sentir, o existir, o viver e o prazer! É ridícula a liberdade!...
Que pena eu tenho, de quem passa por toda uma vida, e apenas consegue ver o que vêem os seus olhos! 

domingo, 2 de março de 2014

Morte! Não tenho medo da morte, da efemeridade da vida, do corpo, de tudo o que é papável e se avista! Não é disso que tenho medo! Costumava ter medo, antes, da dor, da dor do corpo ao acabar, ou antes disso, antes de começar! Já não é dor que me incomoda, que me faz sentir peso ao andar, é a vida que me incomoda, a vida que deixo para os outros. É morrer antes de minha mãe e ver espelhado no rosto a dor que lhe causei com a minha morte!...E como posso eu fazer para não morrer, se nada a isso me posso valer de escolher! Como posso fazer para que não me tenha mais como pessoa amada, de quem nasci e me fez criação e me agarra até hoje. Faço com que me odeie, com que não me queira mais de ser. Não posso, isso seria outra morte maior do que a minha! Como posso eu fazer então, para que deixe de não morrer! Como posso eu fazer para que viva como antes, com a carne igual, tudo igual e viver eternamente aos olhos de uma mãe! Não sei!...

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

"Claridade"

Se for um rio que corre, sem correr se demore, sem correr se é rio. E eu olho o rio, e o rio não é rio, é o rio que eu olho, é o olhar que faz o rio, o rio deixa de ser rio e é rio porque o olho como rio. A água, espelho do céu, não tem cor e é projecção do outro que lhe olha. Será a água menos água, não terá mais sabor de água porque é o olho de quem o olha, ou terá a água cor, sabor e dor do céu, e não é água, nunca o foi, foi sempre céu e a separámos porque é o céu que se toca e ao que se toca se lhes dá outro nome porque deixa de ser igual e passa a ser mais claro e vivo, porque se toca, bebe, enche a alma de corpo e espírito. E uma claridade entra em nosso peito, que se agarra e se pensa não deixar fugir! 
Claridade da luz que me fere e toca logo pela manhã. Claridade dos tempos que sem serem mortos, estão assentes no que mais me recorda do que vivi! Claridade, claridade das sombras estendidas nas ervas, longamente estendidas na frente do branco, pálido, alvo e lúcido. Claridade dos sonhos agora presentes, que o passado já o foi e o futuro ainda não se sente! 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

"Preto e branco"

Página em branco, sendo que o branco não existe, assim como o negro, o preto, o negrume a que não escapa nada e a tudo reduz a cor da noite escura. Branco é tingido de amarelo e cinza, se o vento se levanta e com ele lhes trazem as poeiras do caminho, pisado por todos nós. Não existe preto e branco, a vida é uma imensidão de cinzentos a que se lhes cola a matização de todas as cores, que nos encarregamos de trazer em nós, no nosso ser. Não existe lado de cá e lá, lado certo ou errado na inabalável imagem a que nos propomos sentir que seja, como queremos ver nos códigos, nas regras que escrevemos para nós, para nos manter dentro de uma página. Uma página que queremos branca, a começar agora neste momento, mas mais daqui a um pouco, quando os ponteiros ficarem direitos, ou separados em extremos opostos. A página nunca é branca porque nunca o foi, e se não o foi, nunca o poderá ser, mas assim a queremos. Se ela for branca, talvez tenhamos ponto de começo, e possamos deixar para trás o que queríamos que não tivesse acontecido, ou que não tenha sequer existido. Mas como eu disso o branco não existe, assim como o branco não. O que existe é cor, tingida pela luz do sol à qual chamamos paisagem do dia, interrogativas e questões de toda uma hora que se sente estar a ser escrita por mãos e tintas invisíveis! 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

"Hábito"

Habituamos-nos a ver mal, sempre e sempre e outra vez. Dia-a-dia a luz que entrava de forma aberta é limitada pelo defeito de talvez não se querer ver mais do que se quer. Até o dia em que a luz não entra mais. As portas estão fechadas, não é permitida a entrada! Assim somos na nossa vida, quando nos acostumamos a ver mal, quando nos acostumamos ao hábito!  

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

"Estou cansada"

Estou cansada, cansada de mim própria, do que sou e do que não consigo deixar de ser. Estou cansada de todo este peso em mim, que não me larga, não me deixa, desde sempre...acho que não...mas para todo o sempre, sem que tenha nele mão. Estou cansada, disso tenho a certeza e não há nada do que faça, que me largue deste meu ser. É tudo e nada isto que me carrega, é uma existência verdadeira, disso posso crer, mas é só também, porque nada há igual, nada que preenche ou complete, nada que me segure nesta minha dor! Tento fazer todas estas coisas, que a mim me faço crer que são importantes e não podem deixar de ser! Mas não são! Tudo se faz sem eu ser! Nada precisa da minha mão! 
Se fosse raiz pediria à terra que me conforte, mas sou ave que no céu de longe voa perdida, que não sabe de onde veio e não sabe para onde vai, ao Norte se fez Sul e não há estrelas no céu que de dia me conduzam, porque não sei ler o que se passa neste meu querer! 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

"Liberdade"

Continuo à espera de um tempo que não estando presente está, sem ser futuro ou passado existe! É uma certeza que me envolve numa certeza de agora que me diz para ter mais calma e um pouco mais de paciência!
Mas não me apetece esperar quieta, sentada, sem nada a ter, sem nada a reter, querer, esperar, sem ser o que se tem, sem ser o que se deve permitir a ser!
Arranco em mim todos os dias as minhas peles mortas, sem dó ou dor sequer que me abale no que pretendo fazer! É coisa dura, me dizes, coisa que não se deve fazer, me analisas! Que me importa tudo isso, se tudo o que quero é viver, tudo o que preciso é saber e ter! Sou eu, em mim só, sem senhor a que me valha a sorte ou que queira verdadeiramente conhecer. Eu, em mim própria, em toda a minha liberdade que alguém decidiu a mim deixar a escolha de ter!
É tanto ou mais essa liberdade que me seduz, é tanto ou mais essa liberdade que me conduz! Nela me perco e encontro, nela me conduzo com toda a minha alma, com todo o meu querer! 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A porta estava entreaberta, há minha frente mas longe. Do outro lado passavam gentes que não sabia, que não conhecia, quem seriam que por passar passavam.  Parecia que estava escuro, neste lado de cá, mas não era era escuro entre mim e ela mas nos cantos era luz e nós. 
Queria ir, a sério que queria mas não pude, não consegui, não quis. Não foi falta de coragem, interesse ou ligação. O que me fez não ir, foi o tem de ser, a inercia do momento, o que nos faz andar por aqui há tanto tempo sem perguntar o que saberiam então.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sinto o sol e o vento, flores, campos verdes e mar, em toda a minha pele, em todo o meu querer. Porque tudo é música. Saber ouvir é ser! 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Calor"


Habituamos-nos ao calor, à fornalha aberta de quem nos quer, ao sol da manhã que quebra o gelo, à labareda da acendalha aquecida pelo fósforo queimado! 
Ao frio a gente não se habitua, aquece-se com o que aparece, mas sempre fica a falha do que nos faz falta! 
Os Invernos são longos e o sol de Inverno não aquece, quero o calor nem que seja o da espera! 
Calor permanente, desigual e independente, exclusivo na virtude da diferença! 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

"Silêncio"

Silêncio quanto estás no meio da tempestade e não passa nada!
Silêncio nas ruas compridas de gente que te empurram na pressa e não sabes onde estão!
Silêncio no corte na carne de onde o sangue escorre, a lividez da pele e tudo é igual!
Silêncio na morte e tu não estás lá!
Silêncio nos teus pés enterrados na lama do rio e apenas notas a limpidez translucida da água que curva a luz do sol!
Silêncio na tontura, na roda nunca dada, da vertigem sentida, do arrepio da pele!
Silêncio no som, no grito, e tudo o mais que existo!
Silêncio no mergulho na noite escura da noite, sem procura de porto de abrigo, apenas ir!
Silêncio no sol só meu que faz no meu jardim!
Silêncio das sementes que nascem do chão!
Silêncio na música do vento!
Silêncio ao lado esquerdo do peito para ouvir o seu centro!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Um vaso quebrado depois de colado nunca mais volta a ser vaso inteiro, mas que fazer? Deitá-lo fora? Quanto a mim acho que pode ser vaso para segurar, ou guardar uma flor!...Tudo depende da forma que se assentar o vaso no chão! Também inclinado é vaso, vaso seguro!...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Está frio hoje, a árvores estão alinhadas em ponto de fuga, da maior à menor, mesmo a meio, mesmo ao alto. Assim estão de braços levantados, em socorro, em ajuda, nuas, despidas, de folha a folha, uma aqui outra acolá, molhadas, à sorte do vento, à mercê da estrada! Estava a pensar, eu, aqui neste meu canto, neste cantinho quente, no que estarão a pensar, o que as assustou assim quando as vi. Está escuro hoje, talvez por ser Inverno, talvez por a cor não conseguir passar pela água que cobre os céus. É uma chuva que pinga a direito, sem ter certezas do que carrega pelo caminho. Também não acho que se importe muito com isso, é chuva...será que pensa!!Que sabe que estamos aqui, eu no meu canto quente e as árvores a direito, alinhadas, de ponta a ponte, do centro, do meio ao outro, de ramos ao alto...Parece que me olham de frente mas não lhes vejo os olhos, parece que pedem ajuda mas não sei como ajudar, parecem tão iguais, mesmo que as primeiras me pareçam maiores e as do meio mais pequenas, para serem maiores outra vez. São árvores nuas de Inverno, frias no cinzento da chuva que não deixa dar a cor, árvores na noite fria! 
De cor é a dor! Será génio, será loucura o que vejo, o que sinto...Nas ruas descalças, nas peles húmidas das chuvas da noite, no sacudir do tapete, na vassoura que varre a imundice da estrada, na cama que se faz com zelo, na limpeza que se deseja e os ratos que saem à noite conspurcam  com as suas patas, de pelos imundos. Não se importam quem somos, somos iguais, mais um para trincar, mais um para comer, tudo sabe igual, tudo sabe a fome.
O que é que nos faz separados, na cor e na dor, senão a indiferença, senão o não ser de parte a parte! O que não vês não sentes o que não és não pressentes por isso tudo está errado menos tu, que te vês a ti próprio e a mais ninguém! 
Tem um certo olhar de clemencia a loucura, mesmo a sã, a que se abala em nós consciente e nos trama assim a ser, sem ser mais, não querer mais do que o estado de graça, amar para além dos limites e voltar, sentir saudades do que não se sabia que existia, do que não se sabia que se gostava, que está para além da carne, do mar, da gentes!
Lágrima emocional, diferente das outras, igual à outras, sem cor, maior que as outras por ter todas as cores!