Se for um rio que corre, sem correr se demore, sem correr se é rio. E eu olho o rio, e o rio não é rio, é o rio que eu olho, é o olhar que faz o rio, o rio deixa de ser rio e é rio porque o olho como rio. A água, espelho do céu, não tem cor e é projecção do outro que lhe olha. Será a água menos água, não terá mais sabor de água porque é o olho de quem o olha, ou terá a água cor, sabor e dor do céu, e não é água, nunca o foi, foi sempre céu e a separámos porque é o céu que se toca e ao que se toca se lhes dá outro nome porque deixa de ser igual e passa a ser mais claro e vivo, porque se toca, bebe, enche a alma de corpo e espírito. E uma claridade entra em nosso peito, que se agarra e se pensa não deixar fugir!
Claridade da luz que me fere e toca logo pela manhã. Claridade dos tempos que sem serem mortos, estão assentes no que mais me recorda do que vivi! Claridade, claridade das sombras estendidas nas ervas, longamente estendidas na frente do branco, pálido, alvo e lúcido. Claridade dos sonhos agora presentes, que o passado já o foi e o futuro ainda não se sente!
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