(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Vomitas todas essas palavras, foscas, toscas, repetidas pelos outros de tudo o que hás-de dizer. Não és tu a ti que vais dizes quem és. Porque és, vais dizer a mim quem és. Porque és repetição, dizeres de dizeres, palavra da palavra que o vento acaba de trazer de outros desertos. Palavras que aos outros parecem diferentes de ser, a ti te soam iguais, sem novidade, inercia de um tudo que na verdade não é. 
Invisível carta de uma certa incerteza. Fantasia invisível, de uma história inacabada. Era assim que eu queria ser, ser assim e mais nada. Alimento da alma que dura mais que a carne, intervalo entre o meio tom do que o que se disse e deixou de dizer. Tempo sem tempo fixo de contrastes. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

"Para eu..."

Há em mim de vez em quando o prazer de saber quem eu sou. Naqueles intervalos do dia em que me sinto só e tudo me passa em vão, sem mais nada querer saber.  
Para eu ser isto, que aqui de fora se te mostra, tenho que ser aquela pessoa que não sou. Não é que seja outra forma ou outro ser, mas sim uma parte, que não sendo divisória, por ser diferente, é um eu de outra maneira. Uma coisa inteira, que se mostra quando eu quero, ou quando acha que deve vir, sem sinal de aviso, espontânea, natural, verdadeira. É que em tudo, o tempo apaga tudo, e em cima vamos colocando em seu lugar outras coisas de substituição, apenas para deleite das outras. E chegas ao fim de tantas vidas, vividas, reviradas, revisitadas, que já não sabes quem és.
Para ser isto ou aquilo não há em maior rigor do que primeiro ser nada, esvaziar-te de tudo o que tens, deixar-te em branco, livre de vícios ou ideias. Não podes ser seja o que for se em ti já existe a imaginação de que queres ser isto ou aquilo. Para seres, tens que ser aquilo que és, carne e ideia do principio ao fim. 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

"Essa chuva que cai"

Essa chuva que cai,
que me escorre na cara,
se recolhe no peito
e repousa na alma. 
Queria que ela ai ficasse, 
que se fizesse pequenina e ai pousasse,
como sombra de todo o meu ser
que aos outros desdém, 
mas que a mim, me enche,
de tudo o que me faz bem. 
Queria falar, escrever ou fazer qualquer coisa que talvez outros entendessem, mas o desalento, a inércia da pena, não me faz mais do que chegar a mim o vicio do não fazer nada, do não querer ou sequer querer saber de nada. Uma mentira atroz pois até para o não fazer nada é preciso ciência...

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Tudo no seu tempo!

Tudo tem um tempo, e se não te agarrares ao tempo no tempo certo te perdes no esquecimento do que tivesse sido e não foi, no se o tempo voltasse atrás, talvez fizesses diferente. Talvez no que o agora fosse diferente. Que interessa o antes, que interessa o depois, o que importa é o agora, onde estás presente e assente. Os ses são de todo um passado que não foi, uma miscelânea de coisas que agora há distancia te parecem que talvez pudessem ser diferentes. Mas não te iludas, nada é diferente senão o tempo presente. Tudo o que foi, foi em um outro tempo e nada do que foi pode ser alterado há distância de hoje com o que sabes hoje para o passado. Nem o futuro...Fazes projecções, alinhamentos de ideias e pouco mais. O que foste é agora memória, meros rascunhos de imagens perdidas, momentos de coragem resgatados e sentimentos alisados pelo tempo. O que serás, são ideias elevadas ao vento do sonho sem saberes se o tempos te dará tempo para que as possas fazer ou viver. Não foste, não serás, és! És aquilo que és neste momento, nem a projecção do que serás, nem o esquecimento do que foste, és! 
És aquilo tudo em que te ajuntastes, aquilo que ainda não és mas a que te vais juntar ao que há-de vir. Tudo no seu tempo, no tempo que fazes todos os dias fazer, num alinhamento corrente, até ao último momento!  

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Coisas ditas e escritas. Que escrever é dizer, ouvindo a canção das palavras.

"Estava..."

Estava agora aqui a pensar comigo se o que tenho para dizer, se será mesmo o que tenho no pensamento ou se serão apenas restos de versos mal escritos à pressa para não dizer que não disse nada. É uma pena, uma daquelas penas perdidas que se encontram nos obstáculos da vida e que não se encontram em mais lado nenhum, um certo concerto, um certo arranjo de tudo, um som ao longe de uma criança que chora sozinha e a quem parece que ninguém acode, nem eu. Era uma coisa dessas mais ou menos parecida com essa, que agora não me sai nas palavras que eu queria dizer, na ambiguidade das palavras de tudo o que se quer dizer e não se consegue descrever. Refugio secreto das palavras, das coisas de um todo ainda por dizer, que às palavras não se chega quando delas estamos demasiado longe, demasiado afastadas, demasiado perdidas. Não é princípio e nem é hora de acabar, é um conjunto de um tudo e um nada a quem parece que  nunca se chegam a cruzar.
Apetece-te ir embora mas te agarras a isto, a esse pensamento de que talvez te falta alguma coisa, como quando olhas para trás à espera de encontrar algo perdido no chão, no tempo do intervalo de um qualquer sonho no ar. Como se mais nada existisse e como se dela te fosses nascida e dela não te pudesses separar ou partir. Mas nada disso te diz o quanto te queres dizer e ficas assim a meio de tudo o que estás a sentir. Se me partisse ao meio e dissesse a cada um dos lados as metades a que cada parte estava destinado, talvez conseguisse dizer o todo de uma metade. Mas a metade de um todo é uma mentira que não se olha de frente, que não se consegue ver, é uma coisa perdida no tempo que ainda não se encontrou e não sabe o que do outro lado existe. Se limita à sua própria verdade como se a sua metade fosse inteira. O que para ela seria uma acto heróico para nós seria ruína...
Não me posso reduzir a metade de tudo aquilo que tenho para dizer. Metades são desperdícios de um tempo inacabado, ou digo tudo ou não digo nada. E agora talvez assim pensando, nesse nada, nesse cheio do silêncio, seja mais o eu por inteiro! No silêncio que tudo consome e arrasta seja o eu verdadeiro! 

segunda-feira, 23 de março de 2015

"Como eu sei que existe"

Tudo o que foi agora não é mais. O que é, é outra. Outra que depois veio. Depois do depois sendo o agora presente. Talvez o que seja, seja o que quero que exista. Nada mais do que isso, o que faço com o que acontece, o que moldo, o que altero. A beleza que quero que seja, Mais do que isso a beleza que sei que existe e ninguém vê. Ninguém, ninguém mais do que eu. Queria que me entendessem, que vissem o que vejo mas tudo o que faço para me fazer compreender torna tudo tão vago e longo. Talvez o vento do qual me lembro não tenha existido, talvez a memória de um vento que não me tocou seja o vento que eu quero que exista. É porque quero que exista, que para mim é real, confortante e verdadeiro. Um vento criado por mim como eu sei que ele é. Como eu sei que existe. O vento que traz todos os ventos, os ventos quentes dos Verões quentes, de sestas ardentes. Onde tudo é permitido sem ser pesado e medido. Tudo é certo, corriqueiro e bananal. Onde a vida corre devagar, sem se pensar na pressa dos dias. Onde tudo está como sempre esteve, antes de se pensar em querer ou ter, antes disso já existia, antes de tudo isso já o era, como sempre o foi e sempre assim será. 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

"Ninguém quer ser como tu te sentes!"

Não quero ser Fernando Pessoa. Quero o seu génio, a paixão e o ardor da palavra e nada mais. Mas Fernando é Fernando porque é ele e ele é o todo, mais que ele. E é esse todo mais que fez o Fernando ser Fernando. Toda a beleza vem da dor, de um coração sem perdão. É meu, é teu, é nosso, é o sentido sem que saibas o que é. É onde tudo está explicado, sem nunca te terem dito o que é. Só tu é que sabes, ninguém te entende. Te pedem que te chegues aos outros, que lhes sussurres o que pensas, o que sentes. Que lhes digas o que é que dizes. Ninguém te pergunta o que queres. Querem que sejas o que todos querem mas ninguém quer ser como tu te sentes!...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A morte sempre chega numa manhã de terça-feira ociosa, quando não se está à espera. Nem no principio, nem fim, no meio de tudo!
Tudo está longe, fora de si, ao contrário, no inverso do reverso. Apalpas e não encontras nada, A morte é assim, um pedaço de fio branco ao qual te coseram dares por nada.
Ouço um toque ao fundo da rua, é silêncio, são horas que nãos nos dizem nada e ainda assim parece que está tudo dentro de mim me exigindo uma resposta. 

"Assim como és!"

Como a tudo o resto que nos persegue, com as suas ideias impostas que querem ser levadas como certas, assim me vês! Preocupações que a nada interessam, que de nós assim nos afastam. 
Vejo uma árvore há minha frente, à minha vista parece que não é ela, é uma coisa ali que está presente, uma coisa que olha, uma coisa que se mexe, uma coisa que sabe quem nós somos sem nós lhe termos dito nada. Só de me ver de passagem por baixo dos seus ramos, sabe o meu nome. A natureza toca-se a sim mesma, sem essas projecções de quereres e dizeres, basta-se na unidade de tudo ser como um só, querendo-te assim como és! 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Se eu começar a bater com a cabeça nas paredes, deixem-me ficar! Não me salvem. Prefiro a úlcera da indignação à inercia da palavra, que me traz morta estando ainda viva.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O meu lugar é só. Em todos os lugares tem gente, e em toda a gente me procuro, nas multidões me refugio, em busca de mim. De todos eles fujo, porque em toda essa gente estou só, de uma previsibilidade atroz que me corroí a alma de não saber onde é o meu lugar.
Não sou pássaro de gaiola que pia e se habitua ao som que emite. O meu piar é outro e tudo em mim se agita. Quero ser de fora, num agora sem lugar em que tudo é nosso e somos em todo o lugar.
Tudo tem o seu lugar, quer longe, quer perto, em cima, em baixo, em qualquer lugar que se ensina. Estando longe sou a sombra que se quer viva e a mim me exige que em todo o lado se reveja. Sou uma daquelas horas de passagem, monótonas, sem cor. É preciso que a luz surja e em mim toda se penetre para a que a silhueta se mostre. Sou uma daquelas coisas que a si se exige que regresse uma e outra vez como a si fosse chamada a impor de um tudo quando em tudo não aparece nada. Não posso pedir que venha, não posso dizer que tudo é certo, e que nesta viagem do agora todo o incerto é uma certeza. É a imprevisibilidade que torna a luz a vir, que a traz ao seu tempo e que nos faz surgir das sombras aos nossos lugares. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Foi em nós a certeza do descontentamento que nos fez olhar para tudo o que existe com uma certa frieza na alma. A alma que nos procura, que nos pressente sem ainda ai estar. Ela é rude, ela é leveza, é o vento que agita a folha da árvore que atravessou um longo Inverno. Tudo o que não chega, tudo o que ainda não está lá, tudo em que te fazes e desfazes, tudo isso e o restante também. Todas essas coisas não chegam para chegarmos ao sitio de onde nos reclamam. A certeza desmedida de ainda não estar perdida te chama como a aurora do sol nascente, como o agora presente. 

Era luz, a luz que via a meus pés. Era uma luz brilhante, que dentro dela deixava passar a vida que para além dela eclodia. Tudo há minha volta era escuridão, pesado cerco de  mim própria em que tudo era mais pesado do que o que devia. Queria entrar por aquela luz adentro, fazer dela minha e minha só por inteiro. Via-se gente do outro lado, vultos que passam de lado a lado, sem de mim saberem que ali estava. Ouvi todos os sons que pela luz passavam como se tudo o que cá de fora está, não fosse mais nada. Quis entrar, mas não entrei, quis saber quem era, mas não perguntei. No meio da escuridão outras luzes surgem, outros tempos vêm, outras histórias chegam. A mim não me chega uma, quero ser tudo e todas, em todas estar, em todas ficar, mas ir, quando outra mais além me chamar. Todas me chamam, em todas sou um pedaço de um todo.
Ouvi agora, alguém bater, não na porta, mas do outro lado da porta, na presença de alguém, no querer, no antes do querer, na ideia que lhe foi revelada e antes de o saber já o sabia, sem saber que queria, mas por ideia infinita do ser! Bateu! 

domingo, 2 de novembro de 2014

Verdade que não sei quem sou, não existe em mim aquela regra, do certo e errado, do que é indicativo ser. Se a mim me chamares, responderei ao nome com que me chamas, sem que dele goste. Não é esse o meu nome, esse é o nome com que gostas de me chamar. Deixo-te que o faças porque gostas dele. Mas eu não. Esse é o nome de outra gente e não da gente que de frente de ti te olha. 
Não sei quem sou, não sei o que tudo em mim se encerra, tudo o que em mim está. Sei o que se revela em minúsculas partículas de um todo, que a pouco e pouco nasce e se refaz. Não estaria aqui se não fosse este eu, estariam aqui outros no meu lugar, com outros assuntos, outros resumos, que ao fim e ao cabo a tudo vai dar ao mesmo. De todo o resto, não sei de mais nada! 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O tempo que ainda não gastei.

Tantos anos, em tantos sítios e espaços, que queria que todos fossem um e eu em todos um só. A criança olha as estrelas, as árvores e as flores. Colhe cada uma delas sem o peso da consciência e é feliz, sem pesos, sem o certo e o errado, de onde nasce ou se fez. Assim o quer assim o faz. Tenho saudades desses tempos, de antes de o ser já o era, e sem o saber assim o via. Era feliz sem ter ao que me importar, sem ter ao que me fazer e desfazer por causa das consistências da Vida. Ninguém quer crescer, mas todos o fazemos de uma maneira ou de outra, mas a mim falta-me ainda o tempo em que não fui, em que cresci sem querer e sem me perguntarem, falta-me o tempo, o tempo que não gastei e que algum outro de mim o roubou, com o consentimento de quem me vigiava e a nada sobre isso disse. Me vendeu pelas aparências, do que toda a gente faz e continua a fazer, e a mim, que a mim ninguém de mim perguntou nada do que queria ou sentia, a mim que trataram como um nada, que não sabe de nada, a mim me resta sonhar com esse tempo, o tempo que ainda não gastei! 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O meu pai!

Joaquim Alves Simões


Decorria o ano de 1973 e havia na estação da Pampilhosa, concelho da Mealhada, uma cantina na qual eu trabalhava diariamente. 
Um dia por volta das duas horas da manhã, dois emigrantes vindos de França (que eu conhecia como bons falantes da Língua Portuguesa, pois já os tinha servido antes de emigrarem), sentaram-se à mesa e fizeram os seus pedidos.

Um pediu uma cerveja, que por esses tempos custava 4,50 escudos. O outro pediu uma bière, ao qual eu disse que tinha de pagar 5,00 escudos.
O Senhor que pediu a bière perguntou irritado porque é que tinha de pagar mais caro do que o colega se tinha feito o mesmo pedido!

Eu respondi – Ah sim!...È que uma cerveja é mais barato do que uma bière!!!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Escrevo, no silêncio, nos intervalos das sombras, nos riscos das linhas, nos espaços das letras. Escrevo quando não me ouves, quando não te digo nada.