Estava agora aqui a pensar comigo se o que tenho para dizer, se será mesmo o que tenho no pensamento ou se serão apenas restos de versos mal escritos à pressa para não dizer que não disse nada. É uma pena, uma daquelas penas perdidas que se encontram nos obstáculos da vida e que não se encontram em mais lado nenhum, um certo concerto, um certo arranjo de tudo, um som ao longe de uma criança que chora sozinha e a quem parece que ninguém acode, nem eu. Era uma coisa dessas mais ou menos parecida com essa, que agora não me sai nas palavras que eu queria dizer, na ambiguidade das palavras de tudo o que se quer dizer e não se consegue descrever. Refugio secreto das palavras, das coisas de um todo ainda por dizer, que às palavras não se chega quando delas estamos demasiado longe, demasiado afastadas, demasiado perdidas. Não é princípio e nem é hora de acabar, é um conjunto de um tudo e um nada a quem parece que nunca se chegam a cruzar.
Apetece-te ir embora mas te agarras a isto, a esse pensamento de que talvez te falta alguma coisa, como quando olhas para trás à espera de encontrar algo perdido no chão, no tempo do intervalo de um qualquer sonho no ar. Como se mais nada existisse e como se dela te fosses nascida e dela não te pudesses separar ou partir. Mas nada disso te diz o quanto te queres dizer e ficas assim a meio de tudo o que estás a sentir. Se me partisse ao meio e dissesse a cada um dos lados as metades a que cada parte estava destinado, talvez conseguisse dizer o todo de uma metade. Mas a metade de um todo é uma mentira que não se olha de frente, que não se consegue ver, é uma coisa perdida no tempo que ainda não se encontrou e não sabe o que do outro lado existe. Se limita à sua própria verdade como se a sua metade fosse inteira. O que para ela seria uma acto heróico para nós seria ruína...
Não me posso reduzir a metade de tudo aquilo que tenho para dizer. Metades são desperdícios de um tempo inacabado, ou digo tudo ou não digo nada. E agora talvez assim pensando, nesse nada, nesse cheio do silêncio, seja mais o eu por inteiro! No silêncio que tudo consome e arrasta seja o eu verdadeiro!
Não me posso reduzir a metade de tudo aquilo que tenho para dizer. Metades são desperdícios de um tempo inacabado, ou digo tudo ou não digo nada. E agora talvez assim pensando, nesse nada, nesse cheio do silêncio, seja mais o eu por inteiro! No silêncio que tudo consome e arrasta seja o eu verdadeiro!
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