Há em mim de vez em quando o prazer de saber quem eu sou. Naqueles intervalos do dia em que me sinto só e tudo me passa em vão, sem mais nada querer saber.
Para eu ser isto, que aqui de fora se te mostra, tenho que ser aquela pessoa que não sou. Não é que seja outra forma ou outro ser, mas sim uma parte, que não sendo divisória, por ser diferente, é um eu de outra maneira. Uma coisa inteira, que se mostra quando eu quero, ou quando acha que deve vir, sem sinal de aviso, espontânea, natural, verdadeira. É que em tudo, o tempo apaga tudo, e em cima vamos colocando em seu lugar outras coisas de substituição, apenas para deleite das outras. E chegas ao fim de tantas vidas, vividas, reviradas, revisitadas, que já não sabes quem és.
Para ser isto ou aquilo não há em maior rigor do que primeiro ser nada, esvaziar-te de tudo o que tens, deixar-te em branco, livre de vícios ou ideias. Não podes ser seja o que for se em ti já existe a imaginação de que queres ser isto ou aquilo. Para seres, tens que ser aquilo que és, carne e ideia do principio ao fim.
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