(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

sábado, 1 de setembro de 2012

A lua vai alta a brilhar
num brilho estranho a  iluminar
a noite que agora adormece
num sono que merece.

A glória do dia passou
a luz do dia se quebrou
e a noite chegou
para lhe dar descanso.

A lua vai alta a brilhar
num brilho estranho a iluminar
quem ao a encontrar
para ela olhar.

8 comentários:

  1. Achas?! Vai alta a lua?
    Sim, mas distante...
    Pálida e crua
    magra, como um amante!
    Debruçada sobre nós
    e iluminando tudo
    mas, reflectindo sem voz
    a luz... num gesto mudo.
    Mas, repara, Emília!
    olha-me este seu calvário
    ela não tem família
    e anda tempos neste fadário
    E não, não tem descanso!
    por essa noite a fora
    olheirenta? Olhar manso
    mas, por dentro, chora...
    Se a "glória do dia passou"
    de certeza a lua se perdeu
    silenciosa, assim ficou
    esquecida, ollhando o céu
    na nossa noite, querida,
    e ama, um amor de brilho!
    Geme? Soluça? Condoída...
    como mãe, que perdeu um filho

    (Poema dedicado à Emília)

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  2. ... na nossa casa acumulam-se palavras, cheiros, tempo, amor.
    A sensação de regressos, de inúmeros regressos, uns feitos de esperas, outros de retorno adiado, de fidelidade ao essencial. E no meio disto, uma imensa teia de gestos, de afectos, de referências, de sinais, de falas, de objectos, de simbolismos. Estamos cheios de comovedora beleza, de breves momentos de amor. Não os deixemos fugir, não fiquemos assim sós, inundados de gente que nos acompanha, mas nunca se precipitou no nosso íntimo, não fiquemos sem olhos que beijem o nosso corpo.

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  3. Contudo, este último poema, em prosa poética é muito mais rico do que o anterior!...
    É teu, igualmente, porque tudo o que aqui escrevo é teu, te é destinado.

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  4. Corro pela calçada, apressado, com ar de quem pouco se importa que alguém o veja. Vou colado ao murete, a essa brancura espalmeada pelo sol. Vou com a alma aos sobressaltos, por vezes estugando o passo, todo eu sustido em receios e sombras interiores, em algum arrependimento, remetido para longínquos dias. E quero demorar-me frente à tua porta. Se quero. E também olhar as tuas janelas, os verdes com que as moldaste, todo o azul pálido que se advinha de fora. Então, de súbito, páro ali mesmo, junto da cancela, que deixaste para cobrir a passagem, e ali ficou a fingir que é preciso abri-la para entrarmos. Sabia que a tua rua me estava vedada, que os meus passos seriam sempre clandestinos, que seria espiado a qualquer hora do dia ou da noite, que ninguém ousaria acreditar que ali me levavam boas intenções. Sofres a vizinhança falando, sofres calada e muda. Não a percorria, a tua rua, nem sei já quando. Dessa vizinhança, vivalma. Deslizo o fecho e eis-me junto da porta principal. Esperas-me na noite transfigurada. Eu sei. E sei, sabia também que não aboliste o amor que tudo reintegra, que ainda vivias a tristeza oceânica de quem sorria sem ter com quê, de quem crucificara os desejos e a fome de amor, exorcizando terrores ou alegorias sucessivas, de quem já não tinha lágrimas nem mais palavras. Toquei com os nós dos dedos na vidraça, para que pudesse ser mais audível. Não ouvi qualquer som, qualquer voz, de dentro da casa. Uns momentos, ao sol. Eras tu que me a abrias, que me franqueavas a entrada. Vestias de branco, um vestido que te caía bem, sem qualquer ruga. Aparecias-me de dentro da penumbra da sala, volátil e íntegra. Vinhas do nada de onde um desejo constantemente inútil nos levanta. Ainda não posso saber se trazias o coração subitamente identificado a uma amargura, a uma dor, a uma saudade indefinível, tanto mais fundas quanto menos reais. Disseste-me um dia (lembras-te?...) que eramos feitos do tecido dos sonhos... E revolvias nos dedos os pincéis com que construias os teus espelhos de arte. Essa infindável floresta de cores, riscos, pontos e fragmentos da vida. A arte - disse-te, no vagar com que costumamos morrer... - não é feita da irrealidade do mundo, porém da distância entre nós mesmos e a máxima realidade do mesmo mundo. Olhavas a jarra e lançavas o braço para lhe colocares com o pincel um ponto e outro, e outro ainda, ali e mais além, olhando-a e sorrindo, como feiticeira que coloca fios no magma da vida de outrem. Eras a meus olhos veemente, luminosa, matéria mundana, dança, escada de harmonia. Como artista, a sociedade liberta-te, e ao mesmo tempo te abandona. Percebeste? É que entre essa liberdade e o abandono, movimenta-se, cria-se o teu génio, o génio artístico. E por entre eles irrompe a tua capacidade, a tua forma de abarcar um conteúdo novo. Um novo paralelo. O assombro que há muito prometes a ti mesma. Os espelhos por onde te vejo a todas as horas.

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    1. Sim, eu sei, que o que queria ser não o sou mais, se é que alguma vez o pude ser e minha mãe me diz que posso ser o que eu quiser, se assim o fizer mas a minha cabeça manda e demanda a umas certas horas, coisas que não lhe sei o que fazer. E moo o corpo e a alma no cansaço do dia à procura de respostas que não chegam porque ainda não fiz as perguntas certas.

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  5. À pergunta permanente, somam-se outras perguntas por acidente, no meio de muito ruído de fundo, esse ruído que nos cerca. Ruído - na maioria das vezes - incontrolável e inútil.
    A certo passo do caminho, já ninguém pode "ser o que quiser". Porque as alvoradas do início, o dealbar da vida têm um tempo, um tempo próprio. No entanto, na voracidade dos acontecimentos, unicamente poderemos vir a ser o que as condicionantes das margens do vivido, o preenchimento do espaço dos dias seguintes nos permitam que ainda sejamos.
    A partir do momento em que nascemos, biologicamente dá-se o início do processo de envelhecimento celular. Daí em diante, iremos viver e amadurecer. Amadurecer sempre e em contínuo, em correria difícil de percepcionarmos. Em consciência, sobretudo.
    Pior, será a condição daqueles que "envelhecem" sem chegarem a amdurecer, por inércia ou incapacidade de respostas às interpelações do real, casos ou oportunidades perdidas de afirmação deles próprios perante o existencial e os outros, que connosco contracenam.
    Compulsivamente nos resta alimentar o desejo, um desejo infinito, o desejo que não adormece em nós.

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