Poderei viver sem ter. Atravessar sem sentir ou exigir a troca na mesma volta. Posso só passar mas sem desejar, de olhos fechados vendo as sombras, jogos de luzes e cores. Caminhar pela estrada descalça, sentir as pedras que se cravam na carne, sentir a água dormente que trespassa os ossos e descongela na pele quente, esponja desse sal. Quero aquele todo das histórias infinitas e não finitas, a aurora boreal, a que continua e não inicia na quebra da instalada dúvida. Posso viver no breu sem conhecer o céu, seria sobreviver e quero viver o tudo do nada, gozo, conforto, paz, prazer, alegria e fome. Tudo isso me apraz no porto que se vê crescer no horizonte.
Poderemos viver sem ter... No entanto, renuncio a ter, seja o que fôr sem viver, sem ter "vivido", sem ter saciado a minha "fome" de saber, de olhar, de conhecimento, de sentir, de paz, de amor sensual, amor-companhia, amor sentido e orgástico! E depois, será que tudo nos apraz, nos preenche totalmente?!...
ResponderEliminarLeu-me ao contrário. Quero o todo do nada, o impossível do possível o além da curva da estrada! Não me renuncio mas não quero as migalhas caídas descuidadas.
ResponderEliminarFoi uma outra leitura, diametralmente oposta, embora não a seguindo, e apenas para que observasse do meu ângulo, e daí, o ter colocado a interrogação no final. Reparou nela?!... Acrescentar algo, desviando-me do trilho que a vi tomar, não para contrariá-la, mas para tentar fazê-la ver que embora se possa desejar o impossível do possível - pois o todo do nada é um aforismo só viável em filosofia - nunca agarraremos esse impossível que julgamos ser tudo, ser a felicidade absoluta, quando talvez... consumada esta, não passe de uma felicidade absurda, de mais um objectivo absurdo. O absurdo do desejar, esquecendo o inquestionável acto de escolha, de opção, a necessidade de selecionar. Convenhamos que lidamos com uma ambição bela e legítima. E é. Todavia, Emília... As "migalhas caídas descuidadas" também compõem a vida, tal como os momentos de renúncia, num todo admirável, escritas e inscritas em certas etapas de nós mesmos, na nossa vida. E acabamos igualmente por corporizá-las, na rotina quotidiana, sem darmos por tal! Foi salutar ter respondido.
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