Doce morfina não me abandonou,
continua existente, dormente, persistente.
Bem-vinda ao meu mundo, ao meu lado mais profundo.
Ombros encolhidos, olhos ao alto, boca fechada.
Pedaços se escolhem e recolhem em corridas de idas e voltas,
sem metas, limites ou barreiras.
Doce morfina, doce retina, ampliada, dilatada, amplificada,
retendo a luz que atravessa o beco de paredes altas esticando-se ao céu azul.
Doce morfina não me abandonou.
Bem-vinda ao meu mundo, ao meu lado mais profundo.
Bem-vinda ao meu quadro pintado a traços largos,
do qual se conta uma história sempre igual.
A morfina que revela sem pudor ou dor
mas que fala de si para si como se o não fosse.
Ao jeito de poema, esculpido com alguma ironia, todavia cheio de talento, este seu declinar do que sente e comunica! Gostei, deveras, Emília!... A própria revelação do que escreveu é, em si, o melhor comentário que alguém pudesse fazer à sua "Doce Morfina"... "Tout court".
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