(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Na curva da noite a aurora chama neste pedaço de papel rasgado à página escrita de um qualquer livro vindo de um poeta morto, que não sabe que está morto, na mansarda onde vive, respira e come do musgo colhido pelas telhas regadas das chuvas bem-vindas. Ali vê de dia e noite por cima de toda a casa que expele a sua fuligem, o seu fumo negro, de tudo o que deitam ao lume, apenas para aquecerem ao corpo que o resto já não importa. Por cima de tudo isso ele vê o sol que nasce e entra por entre as telhas, escrevendo palavras que ainda não sabe ler....E essa noite já não é noite é outra vez, uma outra vez, era uma vez, as estórias das margem dos rios, das árvores com as raízes banhadas pelas aguas que passam. É uma criança que se balança na corda presa a um ramo de folhas amarelas e vermelhas toldadas pelo vento, que o poeta empurra com a sua pena.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Não devia estar aqui, sei que estaria de outro lado de outra forma se não estivesse aqui! Me arrasto para o mesmo lugar, talvez porque sonhe demasiado alto, queira algo que não deve estar, que não deve ser. Tanto dever que a conta fica demasiado pesada para se poder carregar às costas...Mas para se fazer uso da palavra sinceridade sou uma flor que foi tocada, amachucada e deixada ao vento, para onde a chuva caiu e a fez levantar a ver o sol, ainda flor por cortar ou podar, ainda presa há terra, sem sair da terra a cheirar o mar! O mar é só, dentro dele estão outros que à superfície não se vêem, por cima é um, por baixo é outro, ao redor tantas vezes visto, milhares deles, sendo apenas um.
Às vezes custa-me a acreditar se será verdade ou não, se o que os olhos dizem é sincero, se o que vejo por detrás do sorriso, se a intenção a que me toca não será antes a base do teu ser....É coisa certa que me viste, me olhaste ainda antes de saberes ver, e que a seguir a isso te amei. Talvez a tudo isso basta a quem deva bastar, mas a mim ainda me está a dever o agora que não me chega!
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Estava lá, do outro lado da linha, do outro lado das flores abertas, perfumadas e regadas com as gotas do orvalho da manhã. Estava lá, voava para a lua, para lá das estrelas. Deixa-me ver o que tens na tua mão, segura a minha, dança comigo. Sente o meu coração de música e deixa-o cantar para sempre.
O espaço onde piso, onde estou, tempo de entre os dedos que passa e se estende num fio invisível, numa rede interminável que cerca tudo o que me rodeia, vim ver o que se passava e fiquei sem me dar conta se sim e agora que estou como posso eu ir embora quando todo o resto está cimentado ao chão em raízes fundas, profundas de céu e mar, dor e amor.
Parece que sabe o que sou, mas a nada se chega, a nada se parece, a tudo se é, quando assim é, e a nada mais pode ser, nada mais que assim, assim, como é!
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Queria que estivesses aqui, mais ninguém mas tu, a página original, verdadeira, tu. Mas não estás, e tudo o que eu disser é na teoria vã da ideia ultrapassada do que se sente cá dentro. Mas sendo o que sou, sei que não te posso esperar, que é a ti que tenho de ir, que é ai que vou ficar. Ir contigo, estar contigo, parece uma eternidade longe que não se apanha e nem se encosta. Mas sei que um dia estaremos, se assim tivermos de ser, mas se não formos ainda agora estamos e somos.
É assim tão difícil dizer, acredito em ti. Não precisas explicar nada que eu acredito em ti. Talvez se eu fosse alta e me vestisse da mesma forma do que está lá fora, talvez se o meu cabelo soasse diferente e não assim assente no risco certo do regular, normal. Normal, toda a gente quer ser normal, que desperdício de tempo e energia em tentar transformar algo que não é, em algo que se tenta ser, e depois já não sabes se foste ou se ainda és. Talvez se fosse tudo isso, não me parecesse estranho o estado de lonjura em que tudo me parece mesmo quando me toca. A roupa, a pele, o cabelo e a boca me fazem estar longe, sem maquilhagem ou superfícies vãs, apenas modo diferente, intocável, intransmissível e verdadeiro, um verdadeiro que ninguém intende ou se intendem preferem virar as costas a ter que voltar a ter de pensar na existência do ser. Que vitória é esta que a nada vale nada, que a tudo permanece igual.
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
"A palavra"
Palavras da noite luzidia que se prendem sem eu querer ao que falta dizer. Palavras nos dedos de quem toca piano que fala sem o dizer. Palavras compridas de sons, num texto ainda agora escrito, quente que te queima no sentimento ainda presente! Palavras que não ouves nem ouvirás que são palavras do que não queres ouvir, que são palavras que já sabes que são antes de o dizer. Olha no espelho e chora, que palavra lhe dirás ao que do lado de lá está não estando sendo tu que não és. És reflexo e até para o teu próprio te faltam a base das palavras, a forma, o principio do que sentes. Procuras, vasculhas em tudo o que tens e vês mas não te chega. A palavra é maior que a palavra, é o som em toda a gente crê, é o sentido em que toda a gente sabe que deve ir mas poucos o seguem! A palavra da noite é dia e de dia é noite, é toda a que se quer guardada no local a que se chama sentimento!
terça-feira, 5 de novembro de 2013
"Chapéu-da-chuva"
Tenho um chapéu que me guarda da chuva, que não uso.
É vermelho, cor de fogo, que guardo arrumado e fechado!
Prefiro a chuva que me molha, me entranha na carne e me enche até há alma. Prefiro o vento que arrasta os cabelos para fora do lugar certo, de se estar bem e correcto, que os mantém além do estado escrito, do desenho pintado dentro das formas alinhadas. Amo as folhas fora do sítio, inundando as estradas de cobertores estranhos ao que aos olhos no parecem, ao olhos dos que apenas conseguem olhar ao que está em frente e não conhecem o doce prazer de as poder calcar de pés descalços, de se dar a poder e deitar sobre elas, como na cama de onde ainda hoje te levantaste, de onde ainda hoje não querias sair.
Dizem que a chuva arrefece e esfria, a mim me aquece, como fogo ardente e vivo, me queima por dentro. E é de dentro que sai o que sou, não é de fora o que me molha e me faz correr, e cercar-me de afectos, que ao corpo se pede. É o de dentro que acolhe a chuva, a faz correr nos rios do sangue que me faz viver a vida, a toda a água que viaja por terras e mares, e volta para mim, toda a história do que se disse e não disse, do que se criou ou não. Está no meu coração, trazendo-me a casa, fazendo-me forte.
Hoje é o dia antes de tu vires e alguma coisa cá dentro me faz ter saudades, de ainda não estares cá, onde estou, aqui, sem chapéu que me guarde, sem chapéu que me esconda, dela que quer em mim entrar e saber mim e eu dela saber, estar dentro da minha pele, saber o que sei, viver o que vivo, sentir o que sinto.
Tenho um chapéu-da-chuva, vermelho, guardado, que não uso!
Subscrever:
Mensagens (Atom)