(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Doce morfina"

Doce morfina não me abandonou, 
continua existente, dormente, persistente. 
Bem-vinda ao meu mundo, ao meu lado mais profundo. 
Ombros encolhidos, olhos ao alto, boca fechada.
Pedaços se escolhem e recolhem em corridas de idas e voltas,
sem metas, limites ou barreiras. 
Doce morfina, doce retina, ampliada, dilatada, amplificada, 
retendo a luz que atravessa o beco de paredes altas esticando-se ao céu azul. 
Doce morfina não me abandonou.  
Bem-vinda ao meu mundo, ao meu lado mais profundo. 
Bem-vinda ao meu quadro pintado a traços largos, 
do qual se conta uma história sempre igual.
A morfina que revela sem pudor ou dor
mas que fala de si para si como se o não fosse. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Coisas que falam"

Coisas do que sou, do que fui e serei, coisas que importam, olham, coisas que existem e resistem, coisas que magoam e perdoam, coisas que persistem, coisas de coisas, coisas que são ou não e se o serão são coisas então, coisas que vi, senti, perdi, encontrei, reencontrei, testei, rompi, chorei e sorri. Porque coisas são coisas não deixam de o ser ou se algumas vez o foram continuam ainda a ser coisas que no futuro sempre perduram. Coisas que escrevo, leio, coisas de passagens, viagens, coisas de fora, de agora, coisas de cá dentro, coisas em malas, em espaço, em turbilhão, coisas do mar de ondas largas, infinitas, calma ilusória, coisas da terra quente molhada com cheiro ardente, coisas das cores que o vento tem, coisas que o sol trás e leva, coisas por coisas, coisas de um mundo inteiro, coisas na palma da mão, coisas estendidas, distendias, permitidas, despidas, vestidas, impedidas, comprimidas, cruzadas, coisas na face das coisas. Coisas que falam.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"À procura da perfeita imperfeição"

O vaso partiu
Caiu e não mais foi quem era
Colei-o mas se coibiu
A tornar a voltar à terra
Quão leve é quão frágil se mostra
A segurar a flor que dentro dele nasce
Mas a suporta com maior sorte
Mesmo que o seu peso se lhe não perdoe
Que procura é esta que encerra
A procura da perfeita imperfeição
Num singelo dia em que se partiu
Mas onde restou ainda o cerne
Do que é mais que perfeição.

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Uma gargalhada"

Sou o que sou, faço o que quero e consigo voar, tocar o céu, como posso, como consigo chegar ao infinito.  Mas  eu, eu não consigo derreter a imagem de cera que está à minha frente, fria, crua e nua. Encosto a navalha de raiva no seu pescoço forçando a confissão de culpa, que chega sem demora. E olho, respiro fundo, dou um passo atrás e rio, uma gargalhada de desprezo, de nojo, de inacreditável superioridade. 
A cera não me queima, não me aquece, não alumia, não tem cor, não existe ou se existe é de mera servidão útil. sem qualquer artificio ao olhar. Agora é dia e a luz é outra, agora rio e digo não importa porque eu sou. 

domingo, 22 de janeiro de 2012

"A pele que habito"

A pele que habito critica-me, envergonha-me, admiro-a, espelha-me, incomoda-me, é suave, dura, beleza, escudo, ensina-me, tem personalidade própria, um outro eu que nem sempre  responde, menor ou maior a minha outra metade. A pele que habito, habita em mim, porque é o que sai de mim que a transforma no que é,  no reflexo do que vêm mesmo que não grite ou fale ele se manifesta sem controlo algum. Conhece a minha história e recorda-o melhor do que eu o esquecer em que se força a memória na tentativa de sobreviver ao que chamamos dor, mas ele sabe e não apaga a lembrança e faz-me reviver tudo outra vez. 
Ela é peso, história, memória, vida, perdão, coração. A pele que habito sou eu. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Talvez não..."

Quão estranho é estar no meio de uma multidão e sentir-se singular, ouvir os seus murmúrios, a intensidade da suas vozes, o som das suas gargalhadas, os risos escondidos e mesmo assim parecer que entrei numa sala vazia com a televisão ligada. Sons de fundo, não me dizem nada e talvez não devesse ser assim. 
Sento-me com as crianças, brinco e magoo-me, rio, despenteiam-me, sinto-me melhor com elas e talvez não devesse ser assim.  
Sou um adulto, responsável por vezes demasiado independente, difícil de pedir ajuda a alguém, cruel e fria muitas vezes, mais do que as que queria, que não espera nada do mundo excepto o que conquista,  que não confia, que segura um velho e uma criança pela mão e os ajuda os dois a travessar a estrada. Sei que gostam de me ver nesta posição, transmito-lhes força. Também gosto por vezes mas nem sempre e talvez não devesse ser assim. 

domingo, 15 de janeiro de 2012

"Gritar"

Por vezes as pessoas há minha volta aborrecem-me de tal maneira que chego a odiar-me por as achar tão desprezíveis...Não, é mentira eu não odeio sinto indiferença o que ainda é pior porque odiar é sentir. Finjo que está tudo bem porque sei que tudo foi um jogo e que sou um peão na sua história, faço-me de heroína da minha mas é uma mentira escondida por um simples véu.
Quero liberdade, fugir de mim e do que os meus olhos vêm, correr, correr, correr...Gritar...