(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Não existe nada, só cansaço e não o cansaço da palavra, o cansaço é outro, é o peso de ombro a ombro, o corpo descaído, acoplado ao que se encosta, sem querer de se mexer, porque é nisso que reside o cansaço no não querer. E para quê querer? - Diz o cansado.  Estendido numa cadeira, sem posição de estar, e ainda assim ficar, a mão descaída em cima do nada, as pernas esticadas ao encontro do chão na procura do andar, a cabeça inclinada para trás, mirando um tecto opaco, sem visibilidade. E é nesse cansaço que me encontro, no não querer nada, não quero fazer nada, começar ou terminar nada. Ser nada é isso que quero, ser uma página em branco onde se escreve sem o vicio do antecessor, sentir só e apenas o que é e que existe no que se sente e não ser nada. Se não for nada posso ser tudo, se não for nada posso ir onde quiser, estar onde quiser, caminhar em todos os terrenos e espaços que circundam o meu quarto, a minha rua, o largo da minha aldeia. Nesse mundo que é dos outros mas também é meu. Olhar as estrelas como se fosse sempre a primeira vez, sem saber que são estrelas mas as amar como estrelas. Viver nos olhos dos bichos as vidas que vivem sem falar e conversar tanto como eles. Sentir a chuva que nasce da terra e cresce dos céus, quente ou fria como se quisesse ser ela, sendo ela, sentido-a a ela. A ela, toda ela que no sentir existe mais do que palavras ou vozes mas caminhos a percorrer sem nunca se atingir o horizonte, o limite ao que os olhos vêm. Limites? Será que existem mesmo limites por não vermos o que está para além do que vemos!. Quero então ser cega e não ver, quero ser surda e muda, passar adiante do que existe mas não ser nada e apenas sentir. Viver no sentir! 

sábado, 22 de setembro de 2012

"Vi-a hoje"

Vi-a hoje, parecia calma e serena. Mas depois, depois a outra entrou e passou à frente de tudo e de todos como se a casa fosse dela e nós todos que ali estávamos dentro, não existíssemos. Olhei para ela, para a outra, estava com pressa e a pressa dela estava no rosto, na maquilhagem, na roupa, nos cabelos. Disse que se tinha esquecido de lá ir no dia anterior, e eu tive de saber que já ontem ela estava para vir, e não me interessava saber, hoje é hoje e ontem foi ontem, hoje as nuvens cruzaram-se ao norte e ontem não importa. E ela, ela que estava calma não disse uma palavra, mas o rosto se escureceu e pareceu-me que até a cor do cabelo naquele momento se tingiu de uma cor mais escura à medida que o meu olhar se lhe escorria pelo pescoço a baixo, as sobrancelhas arquearam, a boca minguou, o brilho do rosto se quebrou. E ela, ela que estava serena respondeu em voz ponderada e calma com o coração ao saltos e na garganta um grito, se era o que tinha nas mãos o que procurava, e então passe bem, tenha um bom resto de dia, obrigada. Olhou tão pouco tempo no rosto da outra, mas a outra também não se importou, levou o que ela tinha nas mãos e não lhe disse mais nada, nem um adeus, obrigada. E eu e os outros não a vimos sair e ficámos a olhar para ela que vi hoje. Para ela, que parecia calma e serena. 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Pequenos fetos, muitos afectos."

Era uma vez...
Uma menina pequenina, que não cresceu e se ficou assim pequenina, sempre quieta, em silêncio, num silêncio ensurdecedor, de vozes de ventos que cortam, ventos que apenas sopram, sol que queima e sol que deita, águas que afogam mas também onde nelas se deita e se deixa abraçar e levar pela corrente, essas correntes mansas onde só vemos o azul do céu e não a fundura dos abismos escondidas nas águas. Essa menina pequenina viu tantas coisas por onde passou, por tudo aquilo com que se cruzou e imaginou. Tantas coisas que contadas não valeriam de nada porque são seriam nem metade do que deveras é. Momentos e vidas que com ela cruzaram e a feriram não de morte mas de marca própria, como tatuagem que se gosta, escondida num sitio qualquer ou à vista para toda a gente ver. Pequenos fetos, muitos afectos e é nisso que se fica quando não se cresce. Nos afectos. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A vida real é mais do que os quadradinhos que desenharam para nós.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"Sonho"

Quero dormir, vou dormir, não consigo dormir, preciso dormir, quando dormir, se conseguir dormir, estarei a dormir, no dormir, vou dormir, porque quero dormir. E no dormir? O que farei no dormir? Não sei porque estarei a dormir e a dormir não me lembro quando acordar ou talvez me lembre mas não queira contar. Serão coisas loucas, doidas de certeza do dormir, quando se dorme, normalmente assim são quando se dorme mas como não estou a dormir não sei como são, terei de dormir para saber como são e depois contar se depois do dormir me lembrar. Dormir, dormir, dormir, passas a vida a querer dormir de olhos fechados quando sempre sonhas com eles abertos e esses sonhos não te deixam dormir, porque não queres dormir e mentes a ti mesma que o queres. Não podes dormir se sonhas, a dormir não sonhas, não podes dormir. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"Diz-me coisas"

Diz-me coisas, que tenho muitas coisas a dizer e não sei que coisas queres ouvir. Diz-me coisas doces, pequenas  ou grandes, sem sentido ou o tendo. Diz-me coisas amargas, comprimidas ou à larga. Ou então não digas nada e sussurra aos meus ouvidos essas coisas  que passaram e passam sem que por vezes lhes demos graça mas que existem e persistem nas memórias de quem as sente e pressente como sendo delas e nossas. Diz-me coisas. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Ser o que sou não é o que sou na realidade, a realidade é paralela ao que sou. A realidade tem de ser tocada, examinada, percepcionada para ser o que é. Eu sou mais que um é, sou também um não é. O negativo do positivo e o positivo do negativo giram em volta de um só que não é só um mas dois.

sábado, 1 de setembro de 2012

A lua vai alta a brilhar
num brilho estranho a  iluminar
a noite que agora adormece
num sono que merece.

A glória do dia passou
a luz do dia se quebrou
e a noite chegou
para lhe dar descanso.

A lua vai alta a brilhar
num brilho estranho a iluminar
quem ao a encontrar
para ela olhar.