(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"Saudade"

Quanto tempo deverá existir de passagem para que se sinta saudade! Serão precisos dez anos, quinze, vinte ou mais anos, desde o tempo que se foi, sendo esse o peso necessário para que a regra se sinta satisfeita e diga, agora basta! Três anos, um dia! Uma brisa que passa, um olhar que se some, esse é o tempo para mim. Uma passagem de tempo cruza o meu tempo em velocidade acelerada sem esperar que entre no seu espaço e não aguarda por mim, por muito que lhe diga -  espera, aguarda mais um pouco. Ela não espera. 
Momentos, vivemos de momentos, nos que conseguimos agarrar na electrização do momento. Momentos do que foram e que são, que se tornam no agora, nos cheiros e sentidos de ser de estarem presentes.
Quanto tempo será preciso quando o tempo não existe ou deixa de existir, quando o que passa a existir é somente o momento e o momento vive na eternidade de quem o sente! Nenhum! A saudade é permanente! 

6 comentários:

  1. A saudade!... A saudade, "gosto amargo dos infelizes" - lhe chamou o poeta, e ele lá saberia o porquê e o quanto?!... - a saudade é a recordação do objecto terminado, que foi perdido, independentemente de ter sido válido ou reprovado no próprio tempo em que decorreu. A saudade é composta por momentos muito alinhados, momentos bisonhos e tristes, perfilados no espaço do nosso consciente, formando como que um "tapete" por onde o nosso pensamento, a nossa mente caminha e volta a passar novamente num percurso cíclico e inutilmente repetitivo.
    Presume-se que a saudade possa trazer o agradável, através do rebobinar da memória, todavia as mais das vezes é um apenas ajuste de contas - em nós mesmos - com o nosso passado.
    Contudo, quem vive de saudades, volta de certo modo as costas ao presente, é incapaz de perspectivar o futuro, vive ainda remoendo um determinado passado e dando-se. entregando-se violentamente a esse passado, que se finou.
    Está fisicamente nos dias de hoje, mas tudo nele funciona ainda num tempo que morreu já, irrecuperável, quer se queira, quer não.
    A saudade é procurar um penso para uma ferida que nunca se fechou, que só o decorrer de muitos dias poderia na eventualidade encerrar.
    Preferimos dizer como o Fernando, que temos - isso, sim!... - temos "saudades do futuro". Porque é para o dia seguinte que nos dirijimos, é nesse próximo futuro que teremos que viver.
    ... Temos saudades do futuro, temos desejos de futuro, possuimos desejos de viver.
    Pelo contrário, a saudade encarnando um certo passado, no seu próprio subjectivismo, acaba por ser um pisar e repisar do mesmo espaço, uma fruta sem frutos, uma negação à Vida, um morrer por antecipação. Aos poucos.
    Uma morte a morrer-nos nas mãos, e na impotência de lhe dar-mos uma sede de água...

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  2. ...Respiro e sei que já vieste
    ouvem-se vozes pelo caminho
    há a tua presença és tu o ninho
    e vêm risos uma alegria celeste
    cântaros de barro cheios de água
    e arrefece o ar... e é o entardecer
    desejos e ardência no meu ser
    em tudo uma flor lenços de mágoa
    pode lá alguma vez existir
    maior sede que a deste momento
    querer e não ter mais que tormento
    um amor um segredo por abrir
    e se os houver digam onde estão
    que neles quero dormir pousada
    neles que a alma fique descansada
    por fim numa melodia numa canção
    (Elegia à Saudade)

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  3. Por vezes reviver o passado e ter saudades do passado trás sentimentos e sentidos bons há nossa alma!

    Hoje quando estava a tomar conta do meu sobrinho mais novo, pôs-me a brincar com ele, a fazê-lo rir mais propriamente porque ele ainda é muito pequenino. E num momento de alegria ele riu-se, e riu-se de uma forma tão peculiar, tão que na minha memória estava que me fez lembrar o irmão mais velho, e embora esse irmão também estivesse presente connosco naquele momento foi como se estivesse-mos quatro pessoas naquele quarto. Isso também é saudade.

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  4. Obrigada pelo poema! Gostei!...

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  5. Tudo é saudade, gratíssima amiga!... O momento presente já é saudade. Pessoa definiu de uma forma magistral este imbróglio, este eterno enigma. Escreveu: - "Eu era, outrora, agora!..."
    Outrora, agora....
    O poema é teu!

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