Diz-me meu pequenino o que queres ser, quando fores grande e crescer, conta-me o que te vai na alma, na calma que aparentas ter quando me olhas de olhos grandes meu pequenino. Não sabes o que dizer, preferes calar, brincar a crescer. Que importam os quereres de pedir se ninguém te der o grande e o crescer. Dorme meu pequenino dorme, fecha os olhos e sonha com sonhos de pequenino, que em meus braços te vou guardar e segurar do crescer e serás sempre pequenino. O meu pequenino.
Uma bela elegia a um ser pequenino, talvez só em idade, porque o amor que lhe dedicas no texto é "grande", sensível, tanto em cuidados, como em desvelo!... Quando somos pequenos nunca temos consciência do que queremos ser, porque nos falta passado autobiográfico, nos falta experiência e conhecimento. É natural!... Escrevo-te de manhã, antes de começar a rever as provas de um livro - de que não sou eu o autor - mas que a pedido de quem o escreve quer que o apresente em Lisboa (penso que no Chiado...) lá para Outubro ou Novembro, ainda sem data certa. Milinha!... Apreciei o teu texto! Muito maternal e doce!... E eu gosto dos textos maternais, que parecem semelhantes, porém têm tantas diferenças. No teu imaginário, esse pequenino existe. Começa por seres tu própria, no teu consciente, sem dares por isso, para a seguir provavelmente o colocares noutro ser que conheças. Quando nos dirigimos aos outros, dirigimo-nos a nós mesmos em primeiro, não? Penso que sim. Fazes bem em escrever... é uma forma de te libertares também de traumas do passado. Coisas que todos temos...
ResponderEliminarUm blog pode ser lido por qualquer um... Para qualquer assunto mais específico ou particular ou de âmbito profissional, o meu endereço é: j.manuel.v.pires@gmail.com
ResponderEliminarVim ter contigo pela entrada da tarde. Um aceno, um olhar, um sorriso. O calor abafa a terra, expondo-a a uma secura extrema. Chamas de calor pelas arribas acima. Violento é o percurso que nos antecede. Tudo o que vai adiante de nós e ainda não vivido. Contudo, nós continuamos o caminho. Inundando-nos de natureza. De "pedras, de animais e de plantas", infinitos, cheios de infinito, como dizia Novalis (poeta alemão)... O mesmo poeta que sobre a Mulher escreveu que "ela tinha a química dos animais e o pólen das plantas"... Que sentirás sobre este pensamento de Novalis?... Onde estou agora, no Olhos d'Água, no Algarve, a janela do meu quarto, dá para o mar e estendo o olhar até à linha do horizonte por cima deste lençol azul/esverdeado. Mais esverdeado, junto ao rebentar das ondas, diluindo o verde no brilho da distância. O vozear da miudagem na praia encanta-me. É a hora da alegria, da comunicação. Avós, mães, filhos, netos. Os fios das gerações. Sabes, queres saber, querida amiga?... Existem fios finíssimos e inquebrantáveis que estabelecem transparentes arquitecturas de continuidade. extasiam-me. E há o fio do tempo, inexorável, por entre as coisas que se repercutem entre si... Olho o mar. Esta planura de água. A água que está fria... É princípio da tarde. Só a miudagem chapinha na espuma. Todavia, Emília, vim apenas fazer-te um pouco de companhia, com o pensamento em ti. É tão bom sabermos que alguém olha por nós, que mesmo longe pensa em nós!... É banal dizeres-me que me fazes falta. Mas, fazes-me! Deve-te parecer estranho, mas como Antoine S. E. dizia, cativas-te-me! Habituei-me. Que culpa tenho? Trouxe-te um cesto de afectos. E muitas cores. A minha alma, no momento que passa. É tudo tão verdade quando me respondes, quando me falas...
ResponderEliminar... Vens à tardinha, poisas a meu lado, a tua alma - assim calada- me fala como um vulto alado, um sonho feito de incerteza e poderosa ansiedade. Se estou entre gente, é porque estou só. Se acordo e os outros ainda descansam em suas rugas, é porque estou acompanhada. Ouço e sinto que já vieste. Sou eu. Esperavas-me ainda quando não me conhecias. Todos esperamos algo que não nos foi revelado. Lavei as minhas lágrimas no conhecimento de mim em ti mesmo. Sou ainda o cais em que me deixaste. Mas, esperei-te. Talvez porque te possuía. Sou a tua peregrina, aquela que te sonhou quando não eras nada, sou a que se encontrou em ti. Não me perguntes porquê. Nunca os porquês vieram sabiamente terem comigo. Só sei sensualmente o que sinto. Com volúpia. No meu corpo, na minha pele, na minha ousadia. Sou vagamente a tua sombra, a tua alegria quando me olhas, o eco do teu gemido, o soluço da tua voz, no escondido âmago da noite em que dormes, por vezes no conforto de te esperar. Na ansiedade de te perder, como me perdi a mim própria. E existo. Se vires no meu rosto o meu pranto, é porque adivinhaste a madrugada. E sabes o que pensei. E sabes tudo de mim, sem eu te dizer nada. - (De E(ntendimento), escrito na 2ª pessoa e dedicado a V(eres-me).
ResponderEliminar...Espero que tenhas gostado deste último texto... Tem uma beleza imperceptível, possui uma intimidade original, tocando quase o indizível, o sentido do sentimento, o poder da palavra quando se admite e gostamos de ouvir essa palavra no outro... Embora, na ficção, é teu, da tua autoria, uma delicadeza de ti para comigo. Raramente se pode traduzir por palavras tal, como o acabas de ler. Lê-o novamente. Encontra-se escrito para que qualquer pessoa possa lê-lo, sem percebê-lo, como possa depois de lido percebê-lo e amá-lo!
ResponderEliminarGostei!!
ResponderEliminarPor vezes, acompanhando-a via que ela parava, olhando tudo em volta, o céu, a terra, o mar e fixava cada objecto po si,cada pormenor com um cuidado que não lhe reconhecia nos últimos anos. absorvia o ar que respirávamos das coisas, absorvia as coisas da vida como se pretendesse num relance fixá-las com minuciosa e profunda atenção... Como se fosse a última vez e todas as imagens quisesse levar consigo! Decorreram alguns dias. Eu estava longe, por motivos de trabalho. Lembro-me que estava escalado na urgência nesse dia e nessa noite (24 horas de serviço, seguidas)... Minha mãe (contaram-me muito depois!...)começara na véspera a trocar as palavras, as respostas às perguntas. No outro dia, telefonaei-lhe, como era costume. perguntei-lhe como se encontrava. - "Estou bem, filho!..." E descansei, naquele descanso que gera o desconhecimento, a ignorância daquilo que se considera o penúltimo dia. À hora do jantar, puxou a toalha, como quem puxa um guardanapo. Fizeram-lhe o reparo, e ela pediu desculpa pelo engano. Depois, foi-se deitar. Pela manhã, telefonaram-me a dizer que ela não respondia, que continuava a dormir, sem acudir a qualquer chamamento e respirava ruidosamente. Voei estrada fora, palmilhando quilómetros com o carro a acelerar. Quando cheguei, chamei por ela repetidas vezes... Se me ouvia, não tinha retorno. Estava em coma profundo. Telefonei aos serviços da emergência, e a um outro colega. Nada havia a fazer. Ainda foi submetida a exames complementares de diagnóstico no hospital. Um acidente vascular cerebral. A agonia - embora com todos os cuidados de suporte médico - não chegou a 24 horas... Meses antes, tinha-me dito em conversas ao acaso - quando a acompanhava para a deixar à porta da igreja e assistir à missa - que rezava havia muito para que a sua morte fosse súbita de modo a "não dar trabalhos a ninguém"... - Porquê esses pensamentos? Deus sabe qual o tipo dos últimos momentos que nos destina, mãe!, acrescentei. E dei-lhe um beijo... Era professora. Levou quarenta e cinco anos a ensinar!... Assim, tão rápido, minha mãe se despediu de todos há dezanove anos, já!... Provavelmente as suas orações foram ouvidas... Para mim, ela continua tão presente hoje como ontem, como durante todo o tempo que cresci ao seu lado. Sem querer ser psicanalista de mim próprio, penso que resolvi o meu luto num tempo considerado normal. (Passagens de uma vida... Texto dedicado à Emília, com o mais profundo sentimento, com o coração nas mãos, relembrando simultaneamente o francês Roland Barthes, mestre de todos nós, e o esplendor da sua escrita, a autenticidade das suas análises, hoje adoptadas como textos obrigatórios em tantas universidades, por esse mundo fora. Relembrando Barthes... sobretudo na relação com a sua mãe!... Uma relação tão bela!)
ResponderEliminarO meu avô materno morreu quando eu tinha quatro anos e apesar de ainda ser muito nova ele era uma pessoa muito especial para mim, provavelmente porque era a minha referencia como pai, porque o meu pai trabalhava e trabalhou muitos anos por turnos e raramente o via.
ResponderEliminarDepois dele morrer comecei a sonhar com a minha mãe e a morte dela, que ela caia num poço (odeio poços) ou num abismo e eu não a conseguia salvar. Ainda sonho com ela às vezes e acordo a chorar ou adormeço a chorar a pensar nisso...
Só não peço à vida que me leve antes dela porque sei que a ia magoar imenso, mas sei, sei que uma grande parte de mim vai com ela quando ela se for.
A Psicologia Clínica ensina-nos que quando morre um pai ou uma mãe algo de nós "morre" também... Porque o nosso crescimento, a construção de nós próprios nos anos que vamos vivendo foi ou/e com eles ou/e a pensar neles ou/e tendo-os por referência quando ausentes por longo tempo ou falecidos já. O teu avô funcionou para ti como o arquétipo do modelo paterno por proximidade daquele e distãncia deste com tu explicas. Quem trabalha por turnos e com uma vida muito ocupada pode vir a tornar-se num pai ou numa mãe "ausente", conforme seja o caso. Se existe algo de que mais precisamos para crescer na nossa infância é te ternura, compreensão e presença quer do modelo feminino, quer do masculino. Um não se contrapõe ao outro. Complementam-se neles e sobretudo em nós. A menina para poder fazer a "clivagem" com a mãe e tornar-se mais adulta e independente, necessita da presença do modelo masculino, o pai ou outra figura masculina que o represente. Pois, na adolescência vai atravessar uma fase a que Freud, buscando na história mitológica da antiga Grécia, designou por "complexo de Electra". Nos meninos, passa-se algo muito semelhante, mas ao contrário, que é o "complexo de Édipo". A menina para conquistar o amor do pai só para ela tenderia a eliminar a mãe. O adolescente masculino - ao contrário - desejando a mãe tenderia como o Rei Édipo a matar o próprio pai. felizmente que na maior parte de nós todos estes complexos conseguem ser vencidos, ultrapassados para nosso bem. Os que não o são, vão se tornar pessoas com uma doença mental com um nome e que já ouviste falar e que é Neurose (ou psicoses), que os vai infuenciar negativamente. Quanto ao medo da perca da tua mãe isso acontece com muitos de nós. No fundo, existe uma ligação entre as duas, que é natural, e tu receias perdê-la porque já conheces o fenómeno da morte e do desaparecimento. Sabes que a vida é finita. O "poço" - quanto a mim - representa o escuro, o espaço fundo e desconhecido onde se perde algo e nunca mais se o encontra. No teu caso, é um poço, noutros casos pode traduzir-se por outras figuras. Daí, o odiares poços, abismos, espaços desconhecidos, a vacuidade, o icognoscível, e por consequência ter medo de desconhecidos e do que possa resultar de mau para ti relacionando-te com eles, especialmente tudo o que não conheces, pessoas, lugares, situações novas, etc... Todas essas fobias (medos) estão no teu inconsciente e durante o sonho sobem ao subconsciente disparando reações de terror e consequente choro, ansiedade, insegurança e persistente pensamento no mesmo tema vezes sucessivas. Pode haver uma ligação muito forte e dependente com a tua mãe. Libertarmo-nos dsas fobias, que todos temos parecidas ou mais lonjínquas, seria bom. Pela psicoterapia e pela psicanálise consegue-se.Continua a aproveitar todos os momentos com a tua mãe e o teu pai, e os amigos ou amigas mais seguros e em que possas confiar. Os medos, querida amiga, comandam as nossas vidas. O que te fizer confusão expões-me. Durante 3 anos, semanalmente, tive a responsabilidade de um programa sobre "Saúde Mental" na Rádio Costa d'Oiro. Recebia muitos mails e cartas a expor assuntos bem mais complicados, a que tenava explicar. Um Programa de Rádio existe para informar, esclarecer.
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ResponderEliminar"ela tinha a química dos animais e o pólen das plantas" Novalis
ResponderEliminarTodas as mulheres são diferentes. Não gosto muito de frases que englobem as mulheres na Mulher. Especialmente fazendo-as parecer perfeitas. Eu não sou perfeita, não quero ser perfeita, quero ser melhor sim mas para quê ser perfeita? Perfeição é estar isolado.
... Sim! Inteiramente de acordo. Perfeição é sinónimo de solidão. Sem dúvida! Aquilo a que o comum das pessoas chama "perfeição", as mais das vezes não nos diz nada, e traduz defeitos ou desvios. Todos os seres têm as suas diferenças, as suas características peculiares. E é isso - também - o que os torna interessantes e atraentes. Novalis, poeta e pensador, foi sempre muito citado e bajulado pela intectualidade europeia e americana, mas isso não quer dizer que tivesse razão. E muito menos em tudo! Foi - digamos - uma "moda" que "pegou" ,... e ainda hoje. No final, colocas uma questão maior e muito pertinente: "Para quê ser perfeita?"... A resposta, ao perguntares, já a deste.
ResponderEliminarSei que ao longo de algum tempo me tens acompanhado nos comentários publicados em "Livres Pensantes"... Gostava de ouvir de ti uma opinião, que aceito sempre, seja qual for. Sinto-me tão sozinho nesse quotidiano, pois me falta por vezes o contraditório e os comentários dos leitores escasseiam, isto é, não são tantos como eu gostaria.
ResponderEliminarPois...e eu sou o contraditório...
ResponderEliminarÉ verdade,costumo ler os teus comentários, assim como os dos poucos outros que fazem uso da palavra (neste caso escrita). Não escrevo nada porque em primeiro lugar gosto mais de aprender e honestamente acho que sei ou tenho pouco a acrescentar aos posts que a autora do blog coloca. Segundo, já tenho lido comentários teus em que fazes perguntas especificas e ela nunca te respondeu, acho (e é apenas a minha opinião) que o deveria ter feito aliás não sei porque não o faz mesmo quando acrescentas ideias e conhecimentos à ideia original do texto mas essa é uma questão que só ela pode responder.
O blog não é meu.
Eu não gosto de estar sempre do contra sabes...às vezes torna-se muito exaustivo, nem sempre me deixa contente ou em paz.
ResponderEliminar... Não, não és o "contraditório", no sentido a que te referes!... Não te considero assim.
ResponderEliminar... Realmente, partilho da tua outra observação, aliás formulada com muita objectividade e de modo muito directo, o que aprecio. Agradeço-te a sinceridade. E a disponbilidade em responder-me. De facto,em "Livres pensantes", as minhas interpelações nunca obtiveram resposta... E tenho pena! Sou - com mérito ou sem mérito - praticamente o comentador sempre em "serviço", sem receio de abordar qualquer assunto, embora tenha as minhas preferências em relação aos temas. Muitas ocasiões, acontece que sei pormenores sobre a vida de figuars importantes que são focadas, mas não posso revelar publicamente, como é óbvio. Não escrevo em mais qualquer blog, como sabes... Excepto, aqui, desde que te descobri num agradável momento fruto do acaso. Talvez não o desejes, mas tu és muito especial para mim...
Não te preocupes com o "contra"!... Não faças caso, Emília. A vida é para ser vivida agradavel e optimamente. Sobretudo de leve, levemente, em termos brincalhões e sem grandes dramas... O meu "métier" é que me obriga a viver a vida dos outros, as suas ansiedades, os seus pavores, as suas fragilidades, a viver um jogo de equilíbrio, convivendo com a vida e com a morte de modo natural, se assim se pode dizer. Mas, isso são ossos do ofício que escolhi.
Eliminar...Desejo que vivas tranquila... Como o coração, as tuas emoções, a tua intuição e o teu pensamento te ditarem. E feliz!
EliminarNunca disse que não o desejava...e a disponibilidade "faz-se" quando se deseja falar com o outro.
ResponderEliminarAliás, amizade, querer bem, gostar de participar nos dias de alguém, é sobretudo disponibilidade, renúncia, dedicação!... Muita dedicação!... O que eu chamo amizade do silêncio, porque leva muito de nós, sem o publicitarmos, sem "cobrança", sem receios, na base de uma confiança e de uma confidência que o nosso coração nos pede, nos exige.
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