Ontem à noite antes de me deitar, encontrei uma borboleta escondida e perdida do seu rumo, agarrada às cortinas como que a fugir da escuridão da noite e do frio que a janela aberta lhe trazia. Fechei a janela, pela manhã ela iria embora, hoje comigo dormiria no meu quarto. Mas uma borboleta é selvagem, não domesticável, precisa de ar, do ar da rua, do sol da rua, do calor da rua, do vento da rua, do toque da rua, cá dentro morrerá. Por isso voltei a trás e abri a janela e tentei empurrar a borboleta para fora. Não quis ir, tinha medo do escuro, do frio da noite, da falta de guia que lhe mostrasse o caminho para casa, seria mais seguro esperar pela manhã e logo saberia para onde ia. Mas a borboleta é selvagem, cá dentro morrerá. Tentei mais uma vez e outra até que desisti, talvez ela tivesse razão, estava demasiado fria e escura a noite, melhor seria esperar pela manhã. A manhã veio e a morte também. A inevitabilidade. Melhor seria ter enfrentado o escuro da noite e resistir ao conforto de se estar entorpecido, essa não é quem tu és, não devias ter ficado cá dentro. Estavas enganada minha amiga, estávamos as duas enganadas.
Gostei de ler!... Um sonho bem desenhado ou uma realidade intransponível?...
ResponderEliminarAlgo para me lembrar todos os dias de fazer, sair cá para fora.
ResponderEliminarEis um texto apetecível de ler, susceptível de ser interpretado no campo da psicanálise... Ou não?!... E detenho-me por aqui.
ResponderEliminarExiste uma enorme diferença entre como realmente somos e a maneira como nos relacionamos com os outros, o que deixamos os outros verem de nós. O que somos é diferente do que queremos ser...ou talvez não exista diferença nenhuma e apenas nos enganamos ao pensar que nos estamos a esconder. Somos as duas partes de uma só.
ResponderEliminarSim, por vezes ou sempre somos duas partes conjugantes numa só!... Outros, genialmente, forma muitos num só!... O caso de Fernando Pessoa, por exemplo, por mais conhecido...
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