Encontrei numa casa de velharias, sim velharias, nem sequer se pode chamar de antiguidades à quantidade de artigos desactualizados, incompletos, amontoados e desmantelados aos poucos para peças. Encontrei, encontrei um pouco do que andava à procura, uma caixinha de música com bailarina, um daqueles desejos que sempre quis ter, talvez por ver nos outros e não ter, não sei, só sei que gostava de ter e encontrei um pouco do que andava à procura. Um pouco porque a caixinha não tinha bailarina, o dono da loja já a tinha vendido quinze dias antes disse. Ainda tem música, ouvi-a, pareceu-me familiar, gostei, devo te-la ouvido em algum lugar certamente e ficou-me na memória, mesmo que a tenha esquecido, nada vem do nada. Comprei-a mesmo assim, incompleta, pela música de que me recordo, talvez um dia me lembre aonde tenho essa história por contar e recordar.
Caixinhas de música... Quem não as agarrou na infância?!... O movimento, os sons repetidos, quase monossilábicos, as cores iluminadas, todo um fascínio!... Objectos desejados, recordações que restam, imagens que ocupam o nosso inconsciente de tanto suspirarmos por elas!... Julgamo-las conscientes, mas estão para lá do consciente...
ResponderEliminarEmília!... A muita e dispersa actividade profissional e também a não profisisonal, as solicitações, os apelos que me dirigem, tanto e tudo, tanto para tudo e todos os que me cercam, têm-me impedido que acompanhe com o carinho e a atenção que merecem os seus "post". Nem pode fazer uma pequena ideia de tudo quanto me chama!... Creia-me sempre admirador sério, atento, honesto (que presunção!...) de tudo quanto escreve e que revela uma grande sede de comunicar!... Que a impede de o fazer?!... Por detrás de tudo não estará um grande isolamento psíquico, uma atormentada não correspondência, alguma e sistemática incompreensão devida a uma alma extremamente sensível como a sua?... Toda e qualquer resposta pertence ao mundo da sua intimidade. Não está no meu direito pedir-lhe resposta. Sabe, no entanto, que gosto do que escreve. E mais. Quero-lhe fazer notar que a sua escrita se desenvolveu mais desde que entrámos neste cartear saudável e sincero e leal. Desculpe-me, pois, de não ser aquele eco que desejaria ter, desculpe-me esta vida tão absorvida, envolvente que levo, dado que me dedico a várias áreas do conhecimento. Está a todo o momento lembrada.
ResponderEliminarTive um professor de português no 9º ano, chamava-se...não interessa...Era e é além de professor, escritor e vencedor de vários prémios, galardoado pelo município admirado pelos seus conterrâneos, não por quem o conhece. Ele julga os seus alunos pelo valor que podem ter para ele e não pelo valor que têm em si, julga pelo estrato social, económico, familiar ou mesmo adulação.
ResponderEliminarSempre fui tímida, muito mais do que sou agora. Sempre fui aplicada nas aulas, não quer dizer que tenha sido uma aluna brilhante, tinha e continuo a ter dificuldades em algumas áreas mas gostava de estudar e aprender. Um dia pediu à turma para fazermos um poema sobre o gigante Adamastor. Um poema eu, eu que fazia interpretações sempre diferentes dos meus colegas. Mas fiz o poema e até gostei, até fiquei um bocadinho orgulhosa de mim. Já não me lembro do que escrevi, recordo-me de estar a ler na aula e o som das palavras ainda me parecem melodiosas e doces. Claro, ele pediu que lêssemos perante os colegas em voz alta. Estava muito nervosa mas li e quando acabei suspirei de alivio, terminei. Olhei para ele mas a sua expressão era confusa. Não percebeu? Não sei. Pediu que lesse outra vez, li, outra vez, li, deu um passo em frente em minha direcção, outra vez, li, outro passo, li, outro passo, li, toda a aula foi consumida por nós os dois, eu enterrada na minha cadeira e ele, ele não sei, não percebia, outra vez, li, li até ele me tirar a folha de papel das mãos e ficar mais cinco minutos a ler para ele mesmo, poisou a folha em cima da sua secretária sem me dizer se era bom ou não, apenas disse a outro para ler o seu poema e assim terminou a aula. Nunca me devolveu o poema.
Na minha visão romântica da situação ele publicou o poema como seu ou então inspirou-se para escrever um romance. Na realidade muito provavelmente foi investigar para descobrir se o tinha plagiado.
Por vezes vejo-o na rua, ele já não se lembra de mim mas eu lembro-me dele, dá-me sempre vontade de lhe perguntar pelo poema, mas ele já não se deve recordar do que aconteceu, colocou-o para o lixo tal como colocou a minha admiração por ele.
O facto é que desde essa altura só escrevo para mim, na minha cabeça, nunca em papel. Só à três anos voltei a fazê-lo.
Quer queiramos ou não os outros influenciam-nos.
O professor/a influencia inelutavelmente o aluno/a... Para o bem ou para o erro. Se todos os professores se consciencializassem disto, teriam muito mais cuidado com o seu desempenho junto dos alunos/as. Pelo modo como me conta o sucedid,o surge-me à ideia que o dito professor sofreria de autismo (?), ou provavelmente de um complexo de inferioridade (?), ou..., etc... etc... Apenas, hipóteses explicativas para essa "demorada" compreensão e para um final de aula como o que enuncia, um final peripatético ou tragico-cómico. De há três anos para cá, a Emília venceu a mágoa, a ferida (ego-narcísica...) que a atingiu na sua dignidade por esse tempo, ultrapassou o "arrancamento" que lhe tinham provocado. Um professor nunca deve pedir a um aluno/a para fazer ou escrever um poema! É uma ignorância, uma tontice da parte desse professor!... A poesia é um caso muito sério, e nem todos temos "queda" para poesia, nem todos podemos ser poetas! Na realidade os mestres, os professores/as influenciam-nos, interagem connosco, especialmente na puberdade, na nossa adolescência. E de que modo!... Obrigado pela confiança depositada em mim, ao contar-me algo da sua autobiografia!
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