Mergulhar, abrir os braços e deixar cair, de olhos fechados, de peito aberto, esperando o impacto entre o céu e a terra, que nos come, engole, degusta e deita fora...A vida assim nos faz severos quando se gosta em demasia e dela não se consegue corresponder, escrever uma linha que seja. Somos apenas páginas em branco, pensamos. Páginas em branco sem tinta ou caneta com que se escreva nelas, mãos de linhas tortas que não cruzam no momento certo, porque se chegou tarde demais, ou cedo demais...
A língua da vida não escreve, não fala como tu e eu e quando achas que estás lá perto, ela mostra-te uma forma nova com curvas novas, que te pretende a decifrares sem te dar o tempo para isso.
Tempo!!Não é tempo que tu precisas, é consistência e forma, peso e medida, algo a que te agarres, que te dê subsistência e calor. Mas é Inverno, sabes! É difícil no Inverno pensar com o coração quando o corpo treme de frio e a única coisa que sabes fazer é pensar, e pensar em comer. Pensas no corpo, nada mais que o corpo, alimento para o corpo, esse corpo que é a tua pele, a tua parte menor e ainda assim maior, que te gere, sem controlo, demónio de dor, parte visível do prazer! O que eras tu sem ele, apenas tu. Unidade unilateral, impossível, que sem a ele sentires, o sentes, o coças e roças nas partes invisíveis em que o sentes, como alguém, não estando ele, sempre está presente, sem lhe tocar, morto, para ti vivo...