Marcados, somos todos marcados, marcados pelo que se sabe e não sabe, pela forma como se fala. Somos marcados pela roupa que se veste ou pela falta dela, pela sola dos sapatos, tortos, direitos, certos, correctos, por tudo somos marcados. Pelo sitio onde moras, com quem falas ou não, o que dizes e calas, pelos silêncios ou falta deles. Pelo tom de voz, altura, timbre, som. Somos marcados pelo lugar onde nascemos, pelas condições em que se deu o acto, pela cor, posição social, crenças, valores, somos marcados pelos nossos próprios marcos, por tudo somos marcados. Digo que não sou nada e por esse nada sou julgada, porque o nada também é alguma coisa que pode ser pesada e medida a ser avaliada como sendo forma consistente a ser aceite ou não. Que peso tenho eu digo eu, do sitio onde nasci, porventura fui eu que decidi! E se fosse te diria que sou eu que faço o lugar e não ele a mim, por isso que importa onde estou e o que pareço, com quem vou, de que cor me apresento. Se não souberes ver para além do que os teus olhos vêm, jamais verás quem sou e quão profundo e marcado o meu beijo em ti será.
... Quão profundo... e já o foi!...
ResponderEliminar..."Quão profundo.. o meu beijo, quão marcado o meu beijo (já) em ti (há muito!)..." Faço-me compreender, agora'
ResponderEliminarMilinha! O lugar de nós, somos nós próprios. Começamos a ser marcados desde a mais tenra idade. Os estudos da Psicologia da Infância o confirmam.
À laia de exemplo do que afirmo... Vejamos a problemática do que se apelidou de "intimidade".
A intimidade desde os primeiros anos gera-se no pensamento e passa posteriormente ao corpo, em especial às partes podendas, "marcada" pelo ensinamento e pelos hábitos dos mais velhos e a que assistimos desde crianças, porque quem descobre o mundo tem de começar pelo voyreurismo. (Ensinam-nos assim, dirás tu...) Pois bem! O sentido da intimidade não nasce, pois, do corpo!
Pode-se ter mais intimidade com alguém com quem nunca vivemos sob o mesmo tecto, mas falamos, partilhamos tudo assíduamente, do que com aquele ou aquela com quem nos deitamos às noites. Quantos casais, assim!... Nunca se conheceram intimamente, e à luz do mundo partilham (julgam partilhar...) uma intimidade que nunca interiorizaram, nem a sentiram como pertença sua e muito menos a assumiram! A pertença de um corpo (amado?!...) tem de possuir em si mesmo um envolvimento emotivo e racional, tem de ser pensamento, entrega, dádiva e recebimento, e nunca um mero acto repetido por impulso, cerzido no hábito laical, mecanicamente assestado na mimetização do que os outros fazem, porque é comum o fazer-se, como sabemos os mais o praticarem. Continuo a dizer que o estudo científico da temática da "intimidade" é complexo, apaixonante, sério, e pouco estudado, infelizmente.
Não me compreendes-te. Com "..." queria dizer "eu sei".
ResponderEliminarTalvez a culpa seja minha sempre preferi o silêncio às palavras, mas é a minha maneira de ser e acho que sempre assim será...
E sim, intimidade é muito mais do que carne! Intimidade é um jardim secreto!
ResponderEliminarMilinha, nem sempre o silêncio, a escassez de palavras são bons companheiros!...
EliminarA mulher na sociedade judaico-cristã em que vivemos, e com uma frequência acentuada teme revelar-se (por medo, por pejo, por receio do que possam pensar dela...), e receia tomar a iniciativa perante o homem (que irá ele pensar de mim, se eu agir deste ou daquele modo?!...), preferindo que este "adivinhe" os seus pensamentos, os seus desejos, os seus gostos, as suas pretensões, e por antecipação lhe saiba extrair do seu íntimo as suas decisões. E nalgumas situações que conheço dou-lhe razão.
Felizmente, que a geração mais nova está derrubando alguns pilares destas atitudes. Esperemos que não desista precocemente... Este tema, daquilo a que se chamou a "pré-adivinhação" empática, seria igualmente um dos mais interessantes para debate...
Não se pode pedir ao homen ou à mulher que adivinhe os "jardins secretos" um do outro, senão lhes for franqueada generosa, confiante e mutuamente a entrada nos mesmos!... É necessária a comunhão de ideias, a partilha da confiança um no outro, o sentido da segurança em termos comportamentais e relacionais, a serenidade contemplativa (que também faz falta...), e olharem o futuro de frente, decididamente, e não deixarem amolecer as horas a olharem-se um para o outro. Em suma. Construir o amor, vivendo-o momento a momento, e não aceitar que algum deles sirva ao outro a sopa esfriada e reaquecida. Assim, penso, Milinha!... Nâo sei se me fiz compreender... Igualmente, não espero que estejas de acordo comigo em tudo.
Não fui educada de forma religiosa a me calar, pelo contrário.
ResponderEliminarNão quero que ninguém adivinhe nada em mim, nem eu quero adivinhar nada em ninguém.
Olho para as pessoas como tábuas rasas, sem idade, género, cor, antecedentes, ideologias ou vícios, é-me indiferente. E é assim que quero que olhem para mim, sem pré-concepções de isto ou daquilo.
Se me calo é porque decidi calar e fazer do silêncio rei, contrária à língua que tanto é usada para dizer o bem como o mal.
Tal como o defines, o teu programa é um programa duro, despido de cores e de afectos, de amor pelo próximo, um programa pleno de rigidez, um percurso inóspito, desértico, sem esperança, sem fé, "sem luz ao fundo do túnel" - como soe dizer-se... - mas assite-te o direito de o expressar, e conduzi-lo à execução dele próprio. Resta-nos a nós, e a qualquer um que dele tome conhecimento, o dever de respeitá-lo. E só. Unicamente. Tal como deves saber, não podemos em consciência e em experiência de vida partilhá-lo!... A nossa formação foi e continua a ser humanística. Em prole do ser humano. Pela defesa dos seus direitos. Sempre. E até ao fim!
ResponderEliminarEstá tudo errado, tudo ao contrário o que acabaste de dizer. Não sou nada disso ou quero nada disso para a minha vida do que acabaste de escrever.
ResponderEliminarEstou tão cansada, se soubesses o quanto, de me explicar e ninguém me compreender.
E magoou-me tanto mas tanto o que escreves-te. Porque é que me julgas por baixo? Porquê? Sou assim tão difícil de compreender?
Acho que não mereço ter de chorar a minha vida inteira.
A vida toda não, a primeira vez que me magoaram não chorei, aceitei a recomendação do não digas nada, não digas a ninguém, é um segredo nosso, isso está errado o que fizeste mas eu não fiz nada errado, a culpa não foi minha, eu era uma criança que sabia eu mas os adultos sabiam e disseram que errei, eu não errei, não fiz nada de errado.
Não estou a fazer nada de errado agora, não sou nada do que disseste, nada, nada, nada.
Emília!... Perdoa-me o não te ter compreendido!... As minhas reafirmadas desculpas. Já me conheces um pouco (penso eu...), para saberes que a última coisa que quereria no mundo era magoar-te!... Não leves a mal a minha conclusão, talvez precipitada.
ResponderEliminarComo a comunicação verbal, escrita, produzem equívocos inimagináveis!... Especialmente quando as pessoas não se conhecem pessoalmente!... Abraço leal, firme, honestíssimo!
Não quero que estejas aborrecida, ou desanimada!... E... relembro-te Luíz Vaz de C. num soneto que é um encanto, uma das coisas mais suaves, mais amorosas, dentro da produção poética de Camões... (Vais-te rir, mas que importa?!... Se sorrires já fico confortado...) - "Quando de minhas mágoas a comprida / maginação os olhos me adormeces, / em sonhos aquela alma me aparece / que para mim foi sonho nesta vida. / Lá numa soidade, onde estendida / a vista pelo campo desfalece, / corro para ela; e ela então parece / que mais de mim se alonga, compelida. / Brado: - Não me fujais, sombra benina! / Ela, os olhos em mim c'um brando pejo, / como quem diz que já não pode ser, / Torna a fugir-me. E eu gritando : - Dina..., / antes que diga mene, acordo, e vejo / que nem um breve engano posso ter." -
ResponderEliminarEste é um dos sonetos que mais gosto de Luíz Vaz - em a lírica camoneana! Adapta-se ao momento... Partilho-o contigo com muita ternura, e uma imensa solidariedade.
O poema dirige-se a Joana de Noronha, filha de D. Francisco de Noronha e de D. Violante... Castigada, adoece em viagem marítima para a Índia e o seu corpo é lançado ao mar como era uso na época. Tem por sepultura as ondas do oceano.
Gosto muito do poema e adoro partilhálo contigo.
Tem muito a ver connosco...
Compreendo, tento compreender os teus silêncios... Os teus prantos, as tuas dúvidas, às vezes a tua revolta interior, o teu inconformismo natural, as tuas decepções, o teu esforço em te explicares, a espera pelos os outros quando eles não te esperam, mas não valorizes demais tudo quanto esperas desses outros, sejam eles quem forem.
ResponderEliminarMilinha! Embora o choro se possa considerar uma terapêutica a nível psicanalítico, não chores!... Os outros, alguns dos que te cercam provavelmente não merecem as tuas lágrimas!...
Sempre te considerei como alguém especial, e tens provas, momentos escritos que o testemunham. Tenho-te - com toda a justiça - tecido rasgados elogios à tua pessoa e às qualidades que possuis (especialmente artísticas...) e de que me vou apercebendo pouco a pouco, à medida que te deixas revelar! Sabes que é verdade. Julguei-te sempre por cima!
E endereço-te com alegria toda a elevada consideração por ti, e sobretudo muita ternura pelo que escreves, pelo que expressas no "post"!
Gostei do poema.
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