Esta noite acordei, acordei não sei porquê só sei que acordei com uma luz do lado de fora do meu quarto. Era a lua que brilhava numa noite muito escura sem que se visse viva alma na rua, nem gatos nos cimos dos telhados que a desejassem nem vagabundos que debaixo dela sonhassem. E eu nesse transe da luz cheguei-me à janela, uma dessas janelas do meu quarto que nessa noite estava aberta e sentei-me no peitoril, não estava frio nem calor e um vento manso soprava ao de leve, esvoaçando os cabelos para o rosto e a roupa para fora do corpo. Apeteceu-me saltar a janela e ir por aí fora a andar, apenas caminhar nessa noite de luar e assim o fiz, os meus pés colaram-se ao chão do lado de fora da janela, na terra fresca que sem se ver que é terra se sente por entre os dedos. Por aí fui. É fácil caminhar na noite, mais fácil do que de dia, não que esteja habituada mas pareceu-me natural. Não se encontram obstáculos na noite porque não se vêm, caminha-se sem tropeço ou hesitação, não existe medo porque nada se vê, só a luz guia do céu, nada se poderá recear se não nos assusta, apenas se receia o nós o que está connosco mas ali na noite não há reflexos nem tempo para pensar neles, há que seguir a lua que também se move na noite e nos faz ir em sua busca. Assim saí e enquanto caminhava ouvi a voz de alguém que me fez embrenhar ainda mais na floresta da noite, na montanha que surgiu na minha frente sem dela dar conta, mas, mas não encontrei ninguém, apenas vi o brilho da luz que sobre a noite iluminava os que à rua fizeram questão se entrar. E agora que a noite se acaba e és tu que vais dormir vou sonhar acordada que mais à noite me vás acordar para a ti seguir no escuro da noite sem dela ter medo ou receio.
Emília! Ausente por motivo de férias e novamente muito longe destas nossas paragens (na condição de mochileiro andante...), só agora retomo estas minhas pequenas e insignificantes nótulas, pois só agora tenho possibilidade de ler o que escreveu...
ResponderEliminarO tema da "noite", tratado do modo como o colheu, do modo muito especial como o acarinhou, assim tão intimamente, tão íntimo, secreto, onde a voz se sume e a ideia se solta, em jeito de anúncio do remoto e e do solitário intrinsecamente diluído em nós, das sombras e da penumbra que sempre nos acompanha, fez-me lembrar o poeta de "Marânus", de "Senhora da Noite", do "Verbo escuro", o poeta de São João de Gatão (Amarante), o nosso poeta e escritor Teixeira de Pascoaes!... O luar resplandecente, as bicas de água a gorgolejar aos soluços, vozes (Oh!... Eternas vozes!...), alguém chamar por nós por entre as nesgas do silêncio dos arbustos, na esfíngica "morte" que acomapanha os nossos receios, nos sonhos onde vamos procurar coragem para vencermos a dor dos dias, na fábrica da noite, Emília, onde tudo nos parece resolúvel e e transponível... A noite não está fora de nós, a noite é a nossa propensão para o vazio. Medo da noite, Emília?!... Porquê, porquê!?... Se a noite somos nós, cada um na sua própria hora, no seu estar em si próprio!... Noite, caverna que não desvandamos, onde temos medo de penetrar porque vamos sozinhos guiados pela nossa mão... E temos que imaginar sustos, figuras do medonho, e pavor, para nos renovarmos, para continuarmos o caminho, a diurnidade de que tanto precisamos. Como tudo é diáfano e verdadeiro... "Não se encontram obstáculos na noite porque não se vêem..."