(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

sexta-feira, 30 de março de 2012

"A tela"

Passei o dia a pintar aquela tela das mais vivas cores, das mais certas dores, dos meus velhos amores. Está perfeita parece-me mas deixa-me dar uns passos atrás, um daqueles longos, afastados, sem medo de forma a poder ver todo o cenário. Sim está perfeita, ninguém diria aliás como foi que a pintei, que tintas usei, com que mão muitas vezes trémula a desenhei. Acabei, não lhe toco mais. Atiro o pincel para dentro do copo de água cristalina mas a conspurca aos poucos e poucos formando ondas de cor tingida ao ser remexida. Devia ter-lhe dito o quanto me magoou, me fez sentir usada e descartada, com tão pouco valor. Dizer que não está tudo bem, que nunca esteve e que agora é simplesmente tarde demais. Tarde demais. Estou cansada, preciso descansar, talvez chore mais logo quando me for deitar quem sabe, apenas a almofada o dirá.  O pincel está limpo agora que o tirei do copo, não tem sombra de cor, tudo ficou naquela tela. 

3 comentários:

  1. Escrita confessional, mas muito bela. Até se reconhece uma certa intertextualidade desde "Devia ter-lhe dito o quanto...." até "... quem sabe, apenas a almofada o dirá". Emília! Conhece algo sobre "Técnica criativa"?... Dou-lhe os parabéns por este pequeno texto muito bem concatenado, e pela oportuna inserção intertextual!

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  2. Não, não conheço nada sobre "Técnica criativa". Aliás sou uma profunda leiga que descobriu que gosta de escrever mas que comete muitos erros. Lei-o muito e talvez esse facto se reflicta na forma como escrevo. Obrigada!

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  3. Tal como diz... Para se escrever bem, é preciso ler muito, muito, e digerir o que se lê, comparando com outras versões, outras leituras. Não concordo, quando se apelida de "leiga". Todos somos "leigos" em relação ao que não conhecemos. É natural! Aprecio muito os textos que a Emília escreve. Logicamente, mais uns do que outros. Continue... e não se diminua a si própria, porque tudo o que escreve são transparências da sua alma e têm sempre o seu valor intrínseco. Nem sempre tenho muito tempo, mas procuro lê-los. E entendo-os como corporização de si própria. Mais uma vez,... continue, por favor, Emília!

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