(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

domingo, 4 de março de 2012

"Chuva"

Um pingo cai, se esmaga no chão seco, compacto, teso, preso, a poeira levanta e o ar que se cheira e se prende na garganta fica a saber a terra, essa terra que se apresenta estendida com sementes nos seios e anseios pela  saliva dos céus cinzentos, não pretos nem brancos mas cinzentos na monocromática figura da harmonia das suas ondas. Outro pingo e outro e outro, cedo se forma uma poça, uma lagoa, um rio no corredio das valas, barrocas, margens levando e levantando o que encontra dos que fogem dessa agua fria que queima e se entranha, por medo de serem de papel ou mel, depois de aos seus refúgios chegarem e a ficarem a admirar. Essa água alimenta não mata, transforma e não toma, compõe canções com os sons que produz ao tocar em cada pedaço de ser, cada pedaço de ter, e à noite quando estiver estendida  no meu leito, estenderá os seus braços das telhas às estradas como se de mantas se fizessem a envolver o seu bem amado.  

6 comentários:

  1. Vê em como eu tinha razãona última resposta que lhe enviei?!... A perfeição, a subtileza, o deslizar, a correnteza da escrita aumentam e atingem um patamar mais alto, elogiável. Todavia, não está isento de ameaçar uma quebra de ritmo mais ou menos a meio, em especial em "levando e levantando o que encontra"... etc... e tal, mas - caso curiosíssimo - o texto aguenta-se, as ideias saem, tomam corpo e levantam, levando-o a um final belo, poético, profundo... Tem muito mais em si para perceber de si, para igualmente percebermos de si, do que pretende transmitir e do que transmite por impulso, em passo estugado e corrido. Gostei.

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  2. A propósito do seu Blogger "Narciso"...
    Narciso entre espelhos paralelos, remirando-se... quando Narciso gosta de ouvir-se no silêncio!... O narcisismo é como o sol, necessário à vida, à estruturação mental das nossas vidas. Uma mais valia para a nossa autoestima. Concorda?...

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  3. Sim, todos procuramos a nossa admiração, respeito, virtude, beleza...Gosto de me olhar mesmo quando estou triste, mirando o que está no interior. Gosto de gostar de mim. Talvez por isso penso e analiso em demasia na procura de achar um sentido de existência pessoal...

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  4. Emília!... A razão lhe assiste por inteiro....Para gostarmos, para amarmos os outros, teremos que primeiro gostar muito de nós próprios. Muito!... Toda a sua prosa são sucessivas tentativas de se auto-analisar introspectivamente, o que é salutar e produtivo. Olhando-se, tentando aceitar-se a si, compreenderá muito melhor quem estiver consigo, perto ou longe de si. Irá tropeçar nessa auto-análise inúmeras vezes, mas isso faz-lhe falta, para o seu crescimento. Todos nós ao longo da vida continuamos a crescer... Mesmo para lá dos noventa e tais anos de vida!... quem não cresce diariamente, definha e morre dentro, aparentando estar vivo por fora. O estar triste fá-la escrever, comunicar, lançar o que pensa, esperando que alguém recolha e pare e repare! Porém, cuidado! Gostar de si, quanto baste!... Nada de exageros em termos narcísicos, pois então entraríamos numaa autodestruição, mum afastamento do que de mais belo a vida nos pode proporcionar. E quê?!... Os outros. Aqueles que a amam e precisam de si, a começar pelo meio familiar.

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  5. Agora fez-me sorrir...Pareço alguém obcecado por si mesmo? Se não amasse o que e a quem me rodeia, a vida em si em toda a sua plenitude, não questionaria a sua existência ou a minha permanência nela, porque seria como um simples pardal cuja alma é restrita em muitos aspectos e não espera fazer parte dela porque já é essa parte, eu me questiono porque sinto que não estou à sua altura quando acho que não consigo ser o que ela pretende de mim. Não estou a fugir da vida mas a correr atrás para conseguir viver ao lado em paz de espírito.

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  6. Amar é sobretudo compreender, aceitar, e não julgar. Podemos questionar e questionar-nos sempre, em todos os lugares e em todos os estados de alma. Nunca a considerei "obcecada por si mesmo"!... Longe disso! A vida, a sua, a que lhe tem estado destinada é que está à sua altura - no meu ponto de análise - e não o contrário. E afinal, o que a vida podrá pretender de si, que não tenha já pretendido de outrem?!... O percurso da nossa vida está connosco, ao nosso lado, não precisando de "correr atrás". Depois,vivemos em cheio nela... e não "ao lado" dela, da vida. A paz de espírito adquire-se conciliando-nos com tudo e todos. Não é impossível!... Elogiemos a tolerância. O muito de bom que ela nos pode trazer... É doce, pacífica, e tem poder para incendiar o mundo. Se me permite a ideia... Trabalhemos para estarmos em paz connosco próprios. Tudo passa, tudo se esvai... Só resistem o Amor - quando autêntico - e o que é belo!

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