Desço a rua. Sinto-me tão segura. Há um mês que não o vejo. Fiquei apenas com a recordação do seu cheiro, do seu sabor, o seu calor…Fecho os olhos e sento-me numa esplanada virada para o mar, infinito, claro, perfeito. Num rasgo do tempo desvio o olhar e ali está ele, do outro lado da esplanada. Será que me viu? Não. Está a olhar para elas, e elas também o desejam. É novo, atraente, com boa imagem. Já passou por todos estes bares e todas elas o viram. Também não conseguem resistir. Qual será o seu sabor, o seu cheiro, o seu toque? Assim se perguntam, mas elas sabem que o que restará no fim, será apenas uma recordação. Ainda tenho no corpo as marcas do nosso último encontro, marcas cravadas a ferro e fogo, para que todos vejam que fui tua. Por um tempo, pouco, louco, mas tempo. E agora aqui está ele, não me vê, pouco importa, ele sabe que o voltarei a procurar, mais, mais, e mais.
Porque é que eu não consigo resistir? Digo sempre para comigo, é agora, acabou, não me vou humilhar mais, mas cada vez que olho para ele, voo no seu odor, nas suas ondas de calor, no prazer das minhas recordações. Como poderei resistir à tentação, os meus pensamentos inundam-me. Levanto-me e caminho na tua direcção, mas desta vez não vou desviar o olhar, quero que saibas o que te vou fazer, como te vou despir dessa tua roupa plástica, fria, mas que esconde um corpo quente e perfeito. Continuo a caminhar, cada vez mais perto e mais perto estão os meus pensamentos, mais perto, mais perto, olho para ti e tu para mim e num instante, um leve rubor sobe à minha cara, estou perdida.
Alguém me toca de leve no braço, é o dono do bar. Posso ajudar? Sim. Quero comprar este gelado de chocolate que está aqui mesmo à minha frente. A minha única tentação.
Parabéns Emília! Os seus textos são uma "delícia" e este´, em especial, divertiu-me imenso.
ResponderEliminarNão pare de escrever!
Mais uma vez Parabéns!
Olga Matos