(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

"Para eu..."

Há em mim de vez em quando o prazer de saber quem eu sou. Naqueles intervalos do dia em que me sinto só e tudo me passa em vão, sem mais nada querer saber.  
Para eu ser isto, que aqui de fora se te mostra, tenho que ser aquela pessoa que não sou. Não é que seja outra forma ou outro ser, mas sim uma parte, que não sendo divisória, por ser diferente, é um eu de outra maneira. Uma coisa inteira, que se mostra quando eu quero, ou quando acha que deve vir, sem sinal de aviso, espontânea, natural, verdadeira. É que em tudo, o tempo apaga tudo, e em cima vamos colocando em seu lugar outras coisas de substituição, apenas para deleite das outras. E chegas ao fim de tantas vidas, vividas, reviradas, revisitadas, que já não sabes quem és.
Para ser isto ou aquilo não há em maior rigor do que primeiro ser nada, esvaziar-te de tudo o que tens, deixar-te em branco, livre de vícios ou ideias. Não podes ser seja o que for se em ti já existe a imaginação de que queres ser isto ou aquilo. Para seres, tens que ser aquilo que és, carne e ideia do principio ao fim. 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

"Essa chuva que cai"

Essa chuva que cai,
que me escorre na cara,
se recolhe no peito
e repousa na alma. 
Queria que ela ai ficasse, 
que se fizesse pequenina e ai pousasse,
como sombra de todo o meu ser
que aos outros desdém, 
mas que a mim, me enche,
de tudo o que me faz bem. 
Queria falar, escrever ou fazer qualquer coisa que talvez outros entendessem, mas o desalento, a inércia da pena, não me faz mais do que chegar a mim o vicio do não fazer nada, do não querer ou sequer querer saber de nada. Uma mentira atroz pois até para o não fazer nada é preciso ciência...

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Tudo no seu tempo!

Tudo tem um tempo, e se não te agarrares ao tempo no tempo certo te perdes no esquecimento do que tivesse sido e não foi, no se o tempo voltasse atrás, talvez fizesses diferente. Talvez no que o agora fosse diferente. Que interessa o antes, que interessa o depois, o que importa é o agora, onde estás presente e assente. Os ses são de todo um passado que não foi, uma miscelânea de coisas que agora há distancia te parecem que talvez pudessem ser diferentes. Mas não te iludas, nada é diferente senão o tempo presente. Tudo o que foi, foi em um outro tempo e nada do que foi pode ser alterado há distância de hoje com o que sabes hoje para o passado. Nem o futuro...Fazes projecções, alinhamentos de ideias e pouco mais. O que foste é agora memória, meros rascunhos de imagens perdidas, momentos de coragem resgatados e sentimentos alisados pelo tempo. O que serás, são ideias elevadas ao vento do sonho sem saberes se o tempos te dará tempo para que as possas fazer ou viver. Não foste, não serás, és! És aquilo que és neste momento, nem a projecção do que serás, nem o esquecimento do que foste, és! 
És aquilo tudo em que te ajuntastes, aquilo que ainda não és mas a que te vais juntar ao que há-de vir. Tudo no seu tempo, no tempo que fazes todos os dias fazer, num alinhamento corrente, até ao último momento!  

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Coisas ditas e escritas. Que escrever é dizer, ouvindo a canção das palavras.

"Estava..."

Estava agora aqui a pensar comigo se o que tenho para dizer, se será mesmo o que tenho no pensamento ou se serão apenas restos de versos mal escritos à pressa para não dizer que não disse nada. É uma pena, uma daquelas penas perdidas que se encontram nos obstáculos da vida e que não se encontram em mais lado nenhum, um certo concerto, um certo arranjo de tudo, um som ao longe de uma criança que chora sozinha e a quem parece que ninguém acode, nem eu. Era uma coisa dessas mais ou menos parecida com essa, que agora não me sai nas palavras que eu queria dizer, na ambiguidade das palavras de tudo o que se quer dizer e não se consegue descrever. Refugio secreto das palavras, das coisas de um todo ainda por dizer, que às palavras não se chega quando delas estamos demasiado longe, demasiado afastadas, demasiado perdidas. Não é princípio e nem é hora de acabar, é um conjunto de um tudo e um nada a quem parece que  nunca se chegam a cruzar.
Apetece-te ir embora mas te agarras a isto, a esse pensamento de que talvez te falta alguma coisa, como quando olhas para trás à espera de encontrar algo perdido no chão, no tempo do intervalo de um qualquer sonho no ar. Como se mais nada existisse e como se dela te fosses nascida e dela não te pudesses separar ou partir. Mas nada disso te diz o quanto te queres dizer e ficas assim a meio de tudo o que estás a sentir. Se me partisse ao meio e dissesse a cada um dos lados as metades a que cada parte estava destinado, talvez conseguisse dizer o todo de uma metade. Mas a metade de um todo é uma mentira que não se olha de frente, que não se consegue ver, é uma coisa perdida no tempo que ainda não se encontrou e não sabe o que do outro lado existe. Se limita à sua própria verdade como se a sua metade fosse inteira. O que para ela seria uma acto heróico para nós seria ruína...
Não me posso reduzir a metade de tudo aquilo que tenho para dizer. Metades são desperdícios de um tempo inacabado, ou digo tudo ou não digo nada. E agora talvez assim pensando, nesse nada, nesse cheio do silêncio, seja mais o eu por inteiro! No silêncio que tudo consome e arrasta seja o eu verdadeiro!