(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O meu lugar é só. Em todos os lugares tem gente, e em toda a gente me procuro, nas multidões me refugio, em busca de mim. De todos eles fujo, porque em toda essa gente estou só, de uma previsibilidade atroz que me corroí a alma de não saber onde é o meu lugar.
Não sou pássaro de gaiola que pia e se habitua ao som que emite. O meu piar é outro e tudo em mim se agita. Quero ser de fora, num agora sem lugar em que tudo é nosso e somos em todo o lugar.
Tudo tem o seu lugar, quer longe, quer perto, em cima, em baixo, em qualquer lugar que se ensina. Estando longe sou a sombra que se quer viva e a mim me exige que em todo o lado se reveja. Sou uma daquelas horas de passagem, monótonas, sem cor. É preciso que a luz surja e em mim toda se penetre para a que a silhueta se mostre. Sou uma daquelas coisas que a si se exige que regresse uma e outra vez como a si fosse chamada a impor de um tudo quando em tudo não aparece nada. Não posso pedir que venha, não posso dizer que tudo é certo, e que nesta viagem do agora todo o incerto é uma certeza. É a imprevisibilidade que torna a luz a vir, que a traz ao seu tempo e que nos faz surgir das sombras aos nossos lugares. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Foi em nós a certeza do descontentamento que nos fez olhar para tudo o que existe com uma certa frieza na alma. A alma que nos procura, que nos pressente sem ainda ai estar. Ela é rude, ela é leveza, é o vento que agita a folha da árvore que atravessou um longo Inverno. Tudo o que não chega, tudo o que ainda não está lá, tudo em que te fazes e desfazes, tudo isso e o restante também. Todas essas coisas não chegam para chegarmos ao sitio de onde nos reclamam. A certeza desmedida de ainda não estar perdida te chama como a aurora do sol nascente, como o agora presente. 

Era luz, a luz que via a meus pés. Era uma luz brilhante, que dentro dela deixava passar a vida que para além dela eclodia. Tudo há minha volta era escuridão, pesado cerco de  mim própria em que tudo era mais pesado do que o que devia. Queria entrar por aquela luz adentro, fazer dela minha e minha só por inteiro. Via-se gente do outro lado, vultos que passam de lado a lado, sem de mim saberem que ali estava. Ouvi todos os sons que pela luz passavam como se tudo o que cá de fora está, não fosse mais nada. Quis entrar, mas não entrei, quis saber quem era, mas não perguntei. No meio da escuridão outras luzes surgem, outros tempos vêm, outras histórias chegam. A mim não me chega uma, quero ser tudo e todas, em todas estar, em todas ficar, mas ir, quando outra mais além me chamar. Todas me chamam, em todas sou um pedaço de um todo.
Ouvi agora, alguém bater, não na porta, mas do outro lado da porta, na presença de alguém, no querer, no antes do querer, na ideia que lhe foi revelada e antes de o saber já o sabia, sem saber que queria, mas por ideia infinita do ser! Bateu! 

domingo, 2 de novembro de 2014

Verdade que não sei quem sou, não existe em mim aquela regra, do certo e errado, do que é indicativo ser. Se a mim me chamares, responderei ao nome com que me chamas, sem que dele goste. Não é esse o meu nome, esse é o nome com que gostas de me chamar. Deixo-te que o faças porque gostas dele. Mas eu não. Esse é o nome de outra gente e não da gente que de frente de ti te olha. 
Não sei quem sou, não sei o que tudo em mim se encerra, tudo o que em mim está. Sei o que se revela em minúsculas partículas de um todo, que a pouco e pouco nasce e se refaz. Não estaria aqui se não fosse este eu, estariam aqui outros no meu lugar, com outros assuntos, outros resumos, que ao fim e ao cabo a tudo vai dar ao mesmo. De todo o resto, não sei de mais nada!