(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Calor"


Habituamos-nos ao calor, à fornalha aberta de quem nos quer, ao sol da manhã que quebra o gelo, à labareda da acendalha aquecida pelo fósforo queimado! 
Ao frio a gente não se habitua, aquece-se com o que aparece, mas sempre fica a falha do que nos faz falta! 
Os Invernos são longos e o sol de Inverno não aquece, quero o calor nem que seja o da espera! 
Calor permanente, desigual e independente, exclusivo na virtude da diferença! 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

"Silêncio"

Silêncio quanto estás no meio da tempestade e não passa nada!
Silêncio nas ruas compridas de gente que te empurram na pressa e não sabes onde estão!
Silêncio no corte na carne de onde o sangue escorre, a lividez da pele e tudo é igual!
Silêncio na morte e tu não estás lá!
Silêncio nos teus pés enterrados na lama do rio e apenas notas a limpidez translucida da água que curva a luz do sol!
Silêncio na tontura, na roda nunca dada, da vertigem sentida, do arrepio da pele!
Silêncio no som, no grito, e tudo o mais que existo!
Silêncio no mergulho na noite escura da noite, sem procura de porto de abrigo, apenas ir!
Silêncio no sol só meu que faz no meu jardim!
Silêncio das sementes que nascem do chão!
Silêncio na música do vento!
Silêncio ao lado esquerdo do peito para ouvir o seu centro!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Um vaso quebrado depois de colado nunca mais volta a ser vaso inteiro, mas que fazer? Deitá-lo fora? Quanto a mim acho que pode ser vaso para segurar, ou guardar uma flor!...Tudo depende da forma que se assentar o vaso no chão! Também inclinado é vaso, vaso seguro!...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Está frio hoje, a árvores estão alinhadas em ponto de fuga, da maior à menor, mesmo a meio, mesmo ao alto. Assim estão de braços levantados, em socorro, em ajuda, nuas, despidas, de folha a folha, uma aqui outra acolá, molhadas, à sorte do vento, à mercê da estrada! Estava a pensar, eu, aqui neste meu canto, neste cantinho quente, no que estarão a pensar, o que as assustou assim quando as vi. Está escuro hoje, talvez por ser Inverno, talvez por a cor não conseguir passar pela água que cobre os céus. É uma chuva que pinga a direito, sem ter certezas do que carrega pelo caminho. Também não acho que se importe muito com isso, é chuva...será que pensa!!Que sabe que estamos aqui, eu no meu canto quente e as árvores a direito, alinhadas, de ponta a ponte, do centro, do meio ao outro, de ramos ao alto...Parece que me olham de frente mas não lhes vejo os olhos, parece que pedem ajuda mas não sei como ajudar, parecem tão iguais, mesmo que as primeiras me pareçam maiores e as do meio mais pequenas, para serem maiores outra vez. São árvores nuas de Inverno, frias no cinzento da chuva que não deixa dar a cor, árvores na noite fria! 
De cor é a dor! Será génio, será loucura o que vejo, o que sinto...Nas ruas descalças, nas peles húmidas das chuvas da noite, no sacudir do tapete, na vassoura que varre a imundice da estrada, na cama que se faz com zelo, na limpeza que se deseja e os ratos que saem à noite conspurcam  com as suas patas, de pelos imundos. Não se importam quem somos, somos iguais, mais um para trincar, mais um para comer, tudo sabe igual, tudo sabe a fome.
O que é que nos faz separados, na cor e na dor, senão a indiferença, senão o não ser de parte a parte! O que não vês não sentes o que não és não pressentes por isso tudo está errado menos tu, que te vês a ti próprio e a mais ninguém! 
Tem um certo olhar de clemencia a loucura, mesmo a sã, a que se abala em nós consciente e nos trama assim a ser, sem ser mais, não querer mais do que o estado de graça, amar para além dos limites e voltar, sentir saudades do que não se sabia que existia, do que não se sabia que se gostava, que está para além da carne, do mar, da gentes!
Lágrima emocional, diferente das outras, igual à outras, sem cor, maior que as outras por ter todas as cores!