(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)
terça-feira, 19 de junho de 2012
"O ladrão"
Todos os dias ao acordar estico o meu braço na direcção da janela, a minha mão sai da sombra do quarto e os dedos esticados cruzam a luz que num sinal de roubo agarram no que lhe é oferecido. Não sei porque insisto nisso se o que trago me é dado. Talvez porque se roubar não vou precisar de agradecer a quem me deu e não ficarei em dívida para com quem me viu. Se roubar apenas sentirão a falta do que estava e se me apresentar para buscar terei de ficar para sentar e conversar. E todos os dias faço isso como se disso precisasse, como se nisso encontrasse a minha presença, a minha independência. Independência de quê e para quê? Do que fujo afinal senão de mim mesma, do que sou e não quero dizer, do que fiz e não quero lembrar, de onde estou e não consigo partir. Gostava de aqui prometer que amanhã ao acordar vou sentar e conversar, aceitar e não roubar mas a verdade é que só se obriga um ladrão a parar quando se consegue apanhar.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
"A testemunha"
Já houve quem me chamasse à barra do tribunal como testemunha e é esse o caso, sou testemunha do que vejo, do que me cerca, não de como as coisas são, que o que são é tão diferente para tanta gente que se for analisado deixa de o ser para ser palavra morta sem o contacto com o real, apenas sou testemunha. Testemunha do réu e do acusado e como testemunha bastará relatar o que assisti e ser verdadeiro nesse acto mas não sei se o sou, relembrar e recordar trazem erres de repetição e toda a repetição trás o vicio do acto anterior ao qual se corrige no momento a seguir. Sou uma testemunha deturpada então, que vê o que vê segundo o seu prisma, o seu ponto de fuga e ainda assim sou chamada a depor e a julgar o que em mim vejo, testemunha de mim que presencia os actos e factos expostos e se vê na difícil tarefa de decidir como seguir.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
"Acreditar"
Nos braços de um anjo eu queria estar, se nele acreditasse, se nele me visse e ele me encontrasse nas páginas do meu diário, nas encruzilhadas do meu coração, desses sonhos de verão que nunca se acabam porque o sol sempre brilha nas lágrimas da minha alma, nos desertos das nossas mãos, nas sombras das roseiras. Nos braços de um anjo eu queria estar, um anjo sem ser anjo, um anjo terra, um anjo em que posso tocar, respirar, sentir, viver assim nessa certeza incerta de não saber nada de nada. Minha doce imperfeição, meu calcanhar de Aquiles, que me fazes perder os dias nos dias, as horas nas horas, viver a eternidade nos segundos dos tempos. Se eu acreditasse assim seria, assim me perderia nos seus braços, se eu acreditasse, bastaria acreditar.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
"A andorinha"
Uma andorinha de vez enquanto, quando o tempo lhe está de feição à minha janela vem cantar. Uns dias acordo com ela outros fico à espera que ela se lembre que tem de voltar. Gostava que ela só aqui viesse cantar mas sei que a outras janelas vai pousar. Linda andorinha que para mim cantas as tuas histórias, as tuas memórias, fica mais um pouco, não partas nesse Inverno, esquece os Verões das outras paragens e fica aqui comigo na nossa janela. É sim porque ela também é tua, porque a escolheste de todas desta rua. Volta andorinha e senão queres ficar deixa-me para ti cantar e quem sabe um dia a ti te vá visitar.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
terça-feira, 5 de junho de 2012
"Castelos"
Sonho de olhos abertos quase sempre, sempre para não mentir, acredito em muito e construo os meus castelos com poucas muralhas. Caiem rápido sabes, não são muito resistentes. Isso é algo que me incomoda, porque é que eu estou sempre a reconstruir os meus castelos, como se o próximo fosse mais forte e resistente quando não o é. Todos caiem, por vezes por causa de uma única palavra, todos caiem, nunca nenhum resistiu. Os alicerces ficam sim, a sua estrutura é forte e resistente mas o tempo, o tempo é ainda mais duro e o que não quebra pela força quebra pelo cansaço. Não sei quando vai ser, tenho mais que fazer, estou a reconstruir o meu castelo e assim me fico não quero pensar mais nisso.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
"Esta que eu sou"
Odeio quando me exalto, odeio sentir que perco o controlo, odeio não ser inteligente para conseguir encontrar uma solução, odeio não ser sabia e sentir o perfeito sentido da situação, odeio sentir-me pequena, insignificante perante mim mesma, na minha ineficiência de tudo, odeio não conseguir aceitar que é inútil lutar, odeio não me deixar render às evidencias que dizem que não vão mudar, que me digam que sou masoquista, que ninguém se importa, eu importo, o mundo, a vida, não podem ser só isto, a continua existência de nós mesmos mas só da carne oca sem se olhar para o avanço em frente de nós. Que tipo de vida é essa que se diz que sim com a cabeça e não com o coração? Odeio não aceitar isso, não conseguir ver algo e deixar para trás, mesmo que para quem o esteja a fazer não lhe dê valor, odeio sentir que tenho essa obrigação a cumprir, não consigo dar um passo em frente sem perfazer o anterior e peço desculpa mas não vou mudar esta que eu sou.
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