(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Uma Significação para a Vida



Como é que o homem vai viver sem uma significação para a vida? Donde essa significação? Os sucedâneos dos deuses atropelam-se tumultuosos, mas duram menos que os deuses, duram menos que um homem. Imaginei um dia que o homem viria a aceitar a sua condição em plenitude. Só não imagino esse homem. Porque imaginando-o como me é possível, penso que admitirá uma transcendência inominável, uma dimensão que supere o imediato da vida. Só que o pensá-lo não me afecta o sentir. Tenho o enigma mas não a chave que o desvende. Sei a interrogação, mas não posso convertê-la na pergunta a que se dá uma resposta. Da integração do homem no mistério do universo o que me fica é a vertigem. Mas aguento-me aí sem me retirar do abismo nem cair nele. O curioso é que são os «racionalistas» quem menos se perturba com a sem-razão de tudo isto. Porque eles é que deviam saber, mais do que os outros, o porquê e o para quê. Não querem. O mundo existe-lhes assim mesmo, sem significação. Para mim me existe também. Mas isso aturde-me. A velhice que se anuncia, anuncia-me a aceitação e a serenidade. Mas não me anuncia a liquidação do problema. Respiro mais calmo diante do irritante mistério. Mas estar calmo não é anular o que me intriga, ou o seu terror: é só anular-lhe o efeito sobre nós. Os imbecis ou os inocentes é que os ignoram. A expressão final do homem de hoje é o heroísmo. Porque tudo tende a esmagá-lo de todo o lado. Mas ser herói é ser consciente. E aguentar, com um mínimo de pulsações por minuto. Referi-me um dia a um indivíduo condenado à guilhotina e a quem um amigo dizia: «fatiga o teu medo». Não fatiguei ainda a minha inquietação. Mas fatigá-la é só o que tenho para a anular.

Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O tempo

O tempo em que corro atrás do tempo, vazio, esquecido, do resto do tempo. Ouço o respirar, que me faz de espectador na corrida do tempo. Preguiçoso leva-te por milénios em segundos, aguardando a bandeira no arco da vitória.
Uma vida aguarda por esse tempo, que guarda do tempo que tudo esquece, a saudade do calor da vida. Um segundo, no limiar do penhasco onde se despenhará o tempo que há-de vir, seguro a minha alma no fio da foice que levará esse tempo para sempre. 

Saudades

Saudades da explosão de raiva, em que a voz se elevava até doer, até sentir as veias do meu cérebro dilatarem, não deixando espaço para mais nada do que a razão.
Saudades do coração voar do meu peito junto com as palavras, eliminado o bom senso. Da adrenalina a percorrer o corpo exausto e esfomeado de mais luta.
Saudade do medo, que me fazia sentir viva. Do mundo ingénuo, guerreiro, companheiro, vivo, perfeito, dos meus desenhos de escola.
Já não sinto a violência desta guerra. As marcas no meu corpo já não têm história, independência, memória.
Resta-me alimentar este mar de sal, em que navegam jovens marinheiros ansiosos por novos mundos. 

domingo, 1 de agosto de 2010

Opinião!

Somos mesmo nós que definimos as nossas próprias decisões? Somos livres de o fazer? Onde está a fronteira? Estamos vazios da opinião e influência do exterior? Algo vazio sabe escolher? Escolhemos quem nos faz a melhor oferta, sem pensar ou analisar? O que é ser? Sou eu um ser? Ser é um adulto? As crianças não são ser? Eu não quero ser. Eu sei o que quero? Porquê a guerra contra o muro que eu construi? Porquê é que eu sou o vilão? Olho para o espelho e apenas vejo o meu reflexo. Não eu, mas a versão negativa do eu. Deveria amar o que tenho para dar e não o meu potencial...
Não chega? Não. Quero ver quem és. Até onde vão as tuas correntes.