(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

B.I.

Bem comecemos pelo princípio. E no princípio nada havia a não ser um espermatozóide e um óvulo, mas fez-se luz e aqui estou eu.
O meu nome é Maria, uma de tantas e que por vezes também vai com as outras. Sou alta para os meus dois metros menos pouco, quase que consigo chegar à terceira prateleira do super-mercado. Em termos de religião se me perguntarem se sou ateu ou crente, a resposta é sim. Acho que a minha melhor qualidade é a veia para as artes dramáticas. Não sei é qual é, se a vermelha ou a azul. Sou uma grande lutadora, ninguém me faz frente, excepto se tiver mais de quatro anos e mais de metro e meio. Género masculino ou feminino.
O maior acontecimento, em que participei na minha vida, foi quando fiquei com as calças rasgadas de alto a baixo, no meu local de trabalho. Foi extraordinário. A humilhação, e sentido de oportunidade, nunca tiveram tão sincronizados. Sou amiga do próximo. Não se cheguem é muito, sou um pouco claustrofóbica.
Mas acima de tudo, o que mais me define é ser uma grande mentirosa

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O meu lugar ideal

Por lugar ideal, predispõe-se que seja aquele onde se gosta de estar ou já esteve, que nos toque mais na alma do que na razão. Pois aquele que para mim é ideal não o será para outro. Por isso o que o torna diferente é o que eu sinto por ele, o que retiro dele, o que me dá a segurança de pertença, mesmo que não seja meu, mas que o sinto como tal.
Obviamente existem países, cidades e cultura que gostaria de conhecer.
O Egipto e as grandes pirâmides, uma das civilizações mais antigas, onde grande parte dos conhecimentos e técnicas ainda estão por descobrir, fazem parte do meu imaginário. Tal como França, berço de cultura e moda. Com o museu do Louvre em destaque, guardião de magníficas obras, imortais, e que jamais se repetirão na história da humanidade. Onde se começaram as grandes revoluções, como a instauração da republica, o direito ao voto e a implantação da União Europeia. Mas em todos estes lugares e em todos os que realmente visitei, sempre falta algo.
E com isto quero dizer que o meu lugar ideal, aquele que me está mais no coração, aquele pelo qual anseio voltar, por mais longe que vá, mesmo que encontre lugares muito mais bonitos, organizados e civilizados, é o lugar onde moro, o Canedo. E com lugar não estou, por forma alguma, a enfatizar a questão, visto que moro mesmo num lugar.
O Canedo e uma pequena aldeia, pertencente à freguesia da Pampilhosa. Segundo uma lenda muito antiga, deve o seu nome ao facto de antes de esta zona ser habitada, existir aí um grande canavial.
Em temos de monumentos, o mais antigo remonta ao tempo das ocupações romanas. É uma ponte que ainda é utilizada, mas hoje em dia a passagem apenas é feita a pé. Do século XVII, encontra-se uma pequena capela com alpendre de pilaretes toscanos, de calcário. Campanário no vértice da empena. Púlpito à direita de pedra cilíndrico, assente em maciço de alvenaria.
As habitações são poucas, o que facilita o facto de todos nos conhecermos. Existe pouco comércio, mas que está em expansão. Encontra-se também aqui uma escola primária, que foi inaugurada pela minha mãe, e onde mais tarde fiz o meu primeiro ciclo.
Foram construídos jardins e parques de merendas, um centro comunitário e um bairro social. Existe também uma Zona Industrial, para onde convergem grande parte dos trabalhadores das aldeias e vilas vizinhas. Foi aqui que encontrei o meu primeiro emprego e me tornei independente financeiramente.


A aldeia do Canedo, e os seus habitantes não são conhecidos pelos melhores motivos. Naturalmente são sempre os piores momentos que as pessoas se recordam, dai por vezes nos julgarem a todos pelos actos de meia dúzia de indivíduos.
Quando passeio pelas suas ruas. Ruas onde aprendi a andar de bicicleta (e onde cai muitas vezes), vejo a casa da minha avó, e lembro-me dela e dos seus bolos, lembro-me quando era mais pequena e ia à fonte, das tardes de calor passadas nos campos de milho, das regas, das carroças de bois, de puxar uma delas (ou ela a mim). Também foi aqui que chorei, as minhas maiores magoas, e onde estão enterradas para sempre.
Gosto de viver aqui, não pela perfeição das suas ruas, casas, ou pessoas. Mas sim, porque tal como ela, também eu não sou perfeita, e nem o queria ser. Tal como ela, vou evoluindo no tempo, construindo coisas boas e melhorando as menos boas. Nela se escondem segredos, recantos escondidos, basta inspirar fundo, abrir bem os olhos e o espírito, para encontrar as mais belas histórias de sempre. E quando menos se esperar, seremos surpreendidos. São essas histórias que encontramos, numa pedra, numa ruína esquecida, numa gota de chuva, no cheiro de um bolo, que nos fazem voltar, ao mesmo lugar.