(Este blog é totalmente dedicado a Laura e Lara, para quem todas as mensagens que aqui posto, me dirijo. Sem dizer adeus.)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Alguém há-de limpar

Hoje agarrei nos sacos do lixo e dirigi-me ao ecoponto. “Como me sinto bem, sou um elemento útil à sociedade”. Assim que chego, deparo-me com uma enorme quantidade de lixo espalhado no chão. Olho e penso para comigo, “não é da minha responsabilidade, porque hei-de fazê-lo?”, “é trabalho de alguém, por isso, porque é que eles não o fazem?”, “dá um ar um pouco obsessivo/excêntrico, se começar a apanhar o lixo”, “ugh, isso é lixo dos outros”.
O meu problema, estão a ver, é que honestamente, não me sinto como um tijolo da casa da sociedade. Não me sinto sequer como um tubo de uma chaminé ou uma telha. Sou apenas um tijolo enfileirado sem um vestígio de argamassa, e a contribuição de que mais me orgulho para com a sociedade é o facto de não retirar nada dela. Acredito em deixar as coisas como as encontrámos, em depositar o lixo nos recipientes fornecidos, ou levá-lo comigo até descobrir um, e não suporto ver pessoas deitar lixo para o chão. É algo que verdadeiramente me choca. Pessoas de todas as idades não sentem, a menor dificuldade em meter a mão num saco, descobrir algo, estende-lo ao comprimento do braço e de seguida, despreocupadamente, deixar cair.
De vez em quando, resolvo confrontar um larga lixo. Há uns tempos ia com um amigo de carro, eu ia a conduzir e ele ia a comer qualquer coisa e a beber um sumo. Quando acabou, abriu o vidro e ao passamos por um contentor do lixo, atirou o pacote de sumo. Claro que não acertou no contentor, para mais estava fechado. Perguntei-lhe, ”porque é que não me pediste para parar?”, ao que ele me responde”, “ não te preocupes alguém há-de limpar”. Mas, bem, eu disse de vez em quando. O meu bom senso leva-me a pesar os pós e os contras. Se a pessoa é maior do que eu, ou (muito importante) está acompanhada por alguém maior do que eu, sigo em frente. Conheço os meus limites. Se tem mais de metro e meio ou mais de quatro anos, deixo cair.
Por outras palavras aspiro a ser um membro de impacto zero na sociedade. Mas será que isso me qualifica como o oposto de uma pessoa anti-social? Honestamente, não me parece, pois isso seria pro-social, o que envolveria agir em favor da sociedade, coisa que não faço.
A questão é saber se continuamos a poder aspirar a ter uma sociedade da qual se possa dizer que é ofendida pelo comportamento «anti-social».
Existe uma espécie de paradoxo, quanto menos nos envolvemos na sociedade, mais nos sentiremos ultrajados em nome da sociedade.

1 comentário:

  1. Bom dia.
    Espero que nesta sociedade que nos rodeia, não sejas mais um elemento de "impacto zero".
    Temos que ter impacto, temos que criar impacto, temos que agitar o mundo...
    Cada um de nós vale pela diferença em relação ao outro.
    Alguém dizia que "a harmonia das coisas está na luta dos seus contrários".
    Não há ninguém tão pobre que não tenha nada para dar e não há ninguém tão rico que não tenha nada para receber.
    Baden Pawell, fundador do Escutismo, dizia que "devemos procurar deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrámos".
    É essa a nossa missão. Nunca te arrependas de procurar incutir os Valores na Sociedade em que estás inserida.
    Não desistas!

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